1ª Sexta-feira de Janeiro

A Devoção ao Sagrado Coração, Seta Reservada

Totus desiderabilis, talis est dilectus meus – “O meu amado é todo desejável” (Ct 5, 16)

Sumário. Todas as criaturas são outras tantas setas de amor que devem inflamar o coração do homem de amor divino. Mas, como se não bastassem, o Padre Eterno chegou ao extremo de nos dar seu próprio Filho, seu Filho muito amado. Ó que seta de fogo Jesus Cristo! mas muitos corações ficaram frios. Então Jesus revelou a devoção especial para com o seu Sagrado Coração como uma seta de reserva até estes últimos tempos, como para dar o ultimo golpe e ferir com o seu amor os corações dos homens.

I. Santo Agostinho diz que Deus, para conquistar o amor dos homens, lançou-lhes nos corações diversas setas de amor. Quais são elas? São primeiro as criaturas, depois o Verbo Encarnado, e enfim a devoção especial ao Sagrado Coração, reservada para estes últimos tempos. Todas as criaturas que vemos, são setas de amor; Deus as fez para o homem, a fim de ganhar o seu coração. Por esta razão Santo Agostinho parecia ouvir as vozes com que elas lhe pregavam o amor divino, como se todas lhe bradassem:

“Agostinho, ama a Deus; Agostinho, ama a Deus; porque Deus nos criou para ti, para te atrair ao seu coração”

Todas as criaturas são então outras tantas setas de amor que devem inflamar o coração do homem; mas, como se não bastassem, o Padre Eterno chegou ao extremo de nos dar seu próprio Filho, seu Filho muito amado. Sic Deus dilexit mundum, ut Filium suurn unigenitum dar et (1) — “ Deus amou tanto o mundo” , diz Jesus a Nicodemos, “que lhe deu seu Filho único” . Ó! Que seta de fogo Jesus Cristo! Como as suas qualidades divinas são capazes de arrebatar todos os corações! Com efeito, em qualquer situação da sua vida que Jesus Cristo se apresenta ao nosso olhar, parece nos todo desejável, todo amável; mas em lugar algum nos parece mais amável do que sobre a cruz, onde o vemos com o Coração transpassado, e na Eucaristia, onde se digna dar-se a nós como vitima, companheiro e alimento. 0 meu Amado é todo desejável .

Esta seta ardente abrasou muitas almas que se consumiram de amor para com Deus; mas ai! Muitos corações contudo ficaram endurecidos. Que fez o Senhor? Apareceu à Santa Margarida Maria, dizendo-lhe: Eis aqui o Coração que tanto amou os homens! O caçador reserva a sua melhor flecha para o último arremesso, a fim de melhor assegurar a preza que persegue. Assim Jesus Cristo, entre todos os seus benefícios, guardou a devoção especial para com o Seu Sagrado Coração como uma seta de reserva, até estes últimos tempos: e agora ele quer que ela se propague por toda a parte, como para dar o último golpe e ferir com o seu amor os corações dos homens.

Posuit me sicut sagittam electam, in pharetra sua abscondit me — Ele me pôs como uma flecha escolhida, e me escondeu na sua aljava (2)

II. E agora, alma cristã, é agora o tempo de amar: Ecce tempus tuum, tempus amantium (3). E qual será a prova de amor que queres dar a Jesus Cristo? Ah! Vais procurar-lhe agradar tomando para tua divisa: Agradar a Deus e morrer!

“Agradar a Deus”, diz o Padre Antonio Torres, “significa agradar a esse Coração cheio de amor, ao qual devemos tanto; ser agradável aos divinos olhos sempre cheios de solicitude para o nosso bem; satisfazer a esta vontade divina, sempre ocupada em nos amar. Agradar a Deus é o fim para que fomos criados, o fim a que devem tender todos os nossos desejos, a regra que deve dirigir todo o nosso proceder”

Aquele que deseja agradar a Deus perfeitamente, deve evitar toda a falta venial voluntária, despir-se de todo o afeto às coisas da terra, submeter-se à vontade de Deus em todas as contrariedades, e, sobretudo, pedir sem cessar a Deus o dom do seu santo amor.

Meu Senhor, meu Deus, meu amor, meu tudo, sei que só Vós me podeis tornar feliz nesta vida e na outra; mas não quero Vos amar para a minha própria satisfação; todo o meu desejo, no amor que Vos consagro, é contentar o vosso divino Coração: quero que a minha paz, a minha felicidade durante toda a minha vida, consista unicamente em unir a minha vontade à vossa santa Vontade, ainda que me fosse preciso sofrer para isto todos os males. Vós sois meu Deus, e eu sou Vossa criatura; ah! Que posso desejar senão agradar ao meu soberano Senhor, a meu Deus, que me consagra amor de predileção? Ó meu Jesus, Vós descestes do céu para levardes cá na terra vida pobre e mortificada por amor de mim; renuncio a tudo e não quero mais viver senão para Vos amar; todo o meu prazer será Vos agradar. Tratai-me como quiserdes; estou resolvido a Vos satisfazer quanto me for possível. Ó Mãe de Deus, tornai-me semelhante a vós na graça de agradar ao Senhor e de fazer como vós a sua divina vontade.

Referências: (1) Jo 3, 16 (2) Is 49, 2 (3) Ez 16, 8

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 459-462)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.