24 de Junho

Festa de São João Batista

Non surrexit inter natos mulierum maior Ioanne Baptista — “Entre os nascidos de mulheres outro não se levantou maior que João Batista” (Mt 11, 11)

Sumário. Grandes são os privilégios que Deus concedeu a seu Precursor, porque reuniu nele só as prerrogativas repartidas entre os outros santos; fazendo-o Patriarca, Profeta, Apóstolo, Evangelista, Mártir, Anacoreta, Virgem. E quão bem soube o santo corresponder à liberalidade divina. Nós também recebemos de Deus muitos favores; mas como é que lhes temos correspondido? Lembremo-nos, porém, que o melhor meio para receber novas graças é o bom uso das já recebidas.

I. Considera os grandes privilégios e favores que Deus conferiu ao seu Precursor. À semelhança de Jesus Cristo, fê-lo anunciar, muitos séculos antes do nascimento, pelo profeta Malaquias como o anjo do Senhor, que devia preparar-lhe o caminho (1). Antes de ser concebido foi anunciado pelo arcanjo São Gabriel a Zacarias, seu pai, indicando-lhe o nome que por ordem divina havia de ser posto ao menino, e predizendo-lhe os destinos futuros do filho (2).

Seis meses depois da concepção, Deus o fez conhecer da Santíssima Virgem, a quem inspirou que fosse apressadamente com o fruto divino que levava, a visitar Isabel, a ficar com ela três meses, a fim de santificar o Batista desde o seio materno e enchê-lo de todos os carismas celestiais (3). Finalmente, o nascimento de São João foi acompanhado de tantos e tão grandes prodígios, que a todos ficava manifesto haver ali a mão de Deus: e os vizinhos e parentes, que em grande número tinham vindo a congratular-se com os pais, perguntaram maravilhados uns aos outros: Que virá a ser este menino? (4)

Se Deus concedeu tantos favores ao Batista antes de ele nascer e logo depois de dado à luz, quanto maiores não terão sido os com que o enriqueceu à medida que ia crescendo em anos e estava próximo a começar o grande ofício de Precursor? Basta dizer que todas as graças que, no dizer do Apóstolo, são repartidas entre muitos (5), foram concedidas todas juntas a São João; Deus o fez Patriarca, Profeta, Apóstolo, Evangelista, Mártir, Anacoreta e Virgem.

A Sabedoria encarnada não encarregou os outros de lhe fazer o elogio, quis ela mesma tecer-lho, dizendo: Entre todos os nascidos de mulheres não se levantou um maior que João Batista. Rende graças a Deus por tamanhos favores dispensados ao santo; alegra-te com ele; elege-o teu protetor especial, e toma a resolução de recorrer sempre à sua poderosa intercessão, a fim de que tu também sejas digno das misericórdias divinas.

II. Considera quanto o santo Batista cooperou com os favores divinos pela prática das mais sublimes virtudes. Impossível é descrever a vida de oração e de penitência que ele durante quase trinta anos contínuos levou na solidão do deserto. Dormia sobre a terra nua, não vestia senão um rude cilício e alimentava-se tão pouco que Jesus Cristo não hesitou em dizer que quase não comia nem bebia (6). A sua humildade foi igual à sua penitência; porquanto recusou as honras indébitas de ser o Messias, protestou que não era digno de desatar o calçado do divino Redentor. E obrigado a dizer quem era, respondeu que era uma simples voz: Ego vox clamantis in deserto (7) — “Eu sou a voz do que clama no deserto”.

O seu zelo pela glória divina e pela salvação das almas, a sua submissão à vontade de Deus demonstra-se por esta única prova: posto que tivesse grande desejo de ir ter com Jesus e acompanhá-lo na sua vida apostólica, contudo, sabendo não ser esta a sua missão, ficou sempre no deserto ou nas margens do Jordão para pregar a penitência e preparar discípulos perfeitos para o Senhor. Nem desanimou diante das mais duras provações; ao contrário, por amor da justiça, arrostou de boa vontade não só a ira dos judeus, cuja obstinação ele reprovava, mas também as perseguições de Herodes, que o fez encarcerar, porque lhe reprochava a sua devassidão, e afinal fê-lo morrer pela mão do algoz.

A meditação dos privilégios e favores de São João talvez tenha excitado em ti o desejo de receber outros iguais. A fim de obteres isso, examina a maneira como cooperaste com os benefícios que Deus já te concedeu, pois não há outro meio melhor para receber novas graças do que o aproveitar-se bem das já recebidas. Se porventura tiveres de reconhecer que foste infiel, roga ao Senhor que pela intercessão do santo te dê o perdão e a graça de imitá-lo para o futuro.

“Ó Deus, que nos fizestes venerável o presente dia com o nascimento de São João, concedei ao vosso povo a graça das consolações espirituais, e dirigi as almas dos vossos fiéis pelo caminho da salvação eterna” (8). Fazei-o pelo amor de Jesus e Maria.

Referências: (1) Ml 3, 1. (2) Lc 1, 13-17. (3) Lc 1, 39. (4) Lc 1, 66. (5) 1 Cor 12, 14. (6) Mt 11, 18. (7) Mt 3, 3.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 346-348)

Nos ajude a alcançar mais fiéis compartilhando nas suas redes:
Facebook
Twitter
LinkedIn

Quer rezar conosco todos os dias?

Criamos uma rotina diária para ajudar na prática da oração. Enviaremos meditações, novenas, orações e devoções para te ajudar a estar com o Senhor ao longo do dia. Todos os dias!

Junte-se ao nosso Grupo no Telegram e caminhemos juntos na fé e na oração diária:

1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.