25 de Setembro

O Menino Jesus, sobre as palhas, ensina-nos a Mortificação

Et reclinavit eum in praesepio – “E reclinou-o numa manjedoura” (Jo 2, 7)

Sumário. Visto que Maria não tinha nem plumas nem lã, para preparar um leito conveniente para o seu tenro Filhinho, estende um pouco de palha numa manjedoura e nela reclina o Menino recém-nascido. Quão duro não devia ser tal leito aos membros delicados de Jesus Cristo!… Mas Jesus quis sofrer isso afim de remediar assim os pecados, que causaram a perdição do mundo, e começar desde o berço a ensinar-nos o amor dos sofrimentos e a mortificação dos sentidos. E depois de tal exemplo continuaremos a acariciar esta carne rebelde ?

I. Jesus nasce na gruta de Belém. Já que a pobre Mãe não tem nem lã nem plumas para preparar um leito conveniente para o seu tenro Filhinho, que faz? Estende um pouco de palha numa manjedoura e nela reclina o Filho recém-nascido: Et reclinavit eum in praesepio . Mas, ó Deus, tal leito é duro e penoso demais para um menino que acaba de nascer. Os membros de uma criança são demasiado delicados, e especialmente os de Jesus, feitos pelo Espírito Santo extremamente delicados, afim de que fossem mais sensíveis às dores: Corpus autem aptastit nihil — “Formaste-me um corpo” (1). Pelo que lhe foi em extremo doloroso um leito tão duro.

Foi uma dor e uma ignomínia. Pois, que filho de um homem, da mais vil condição que seja, é colocado, logo depois de nascido, sobre a palha? A palha é leito próprio dos animais; e o Filho de Deus não tem na terra outro leito senão a palha! Quando um dia São Francisco de Assis estava sentado à mesa, ouviou ler estas palavras do Evangelho: “Reclinou-o numa manjedoura” ; e disse: “Como? O meu Senhor está deitado sobre a palha, e eu hei de ficar sentado? “. Levantou-se logo, e terminou a sua pobre refeição sentado no chão, entre lágrimas de ternura ao contemplar o quanto devia sofrer Jesus Menino, deitado sobre a palha.

Mas porque é que Maria, que tanto tinha suspirado pelo nascimento do Filho, que tanto o amava, não o guardou nos braços em vez de o expor a tão grande sofrimento num leito tão duro? É um mistério, diz Santo Thomas de Vilanova: Neque illum tali loco posuisset, nisi magnum aliquod mysterium ageretur . Deste mistério há diversas explicações, mas entre todas mais me agrada a de São Pedro Damião. Jesus recém-nascido quis ser posto sobre a palha para nos ensinar a mortificação dos sentidos: Legem martyrii praefigurabat . O mundo havia-se perdido pelas satisfações dos sentidos; por elas se havia perdido Adão, e depois dele um sem numero dos seus descendentes até o dia de hoje. O Verbo eterno desceu do céu para nos ensinar o amor dos sofrimentos, e começou a no-lo ensinar desde criança, escolhendo para si os sofrimentos mais ásperos que uma criança pode suportar. — Foi, pois, ele mesmo quem inspirou a Maria, que em vez de o guardar nos seus tenros braços, o pusesse sobre aquele leito tão duro, afim de sentir mais o frio da gruta e as picadas da rude palha.

II. Ó terno amante das almas, ó amável Redentor meu, não Vos satisfazem a dolorosa Paixão que Vos aguarda, e a morte cruel da cruz que Vos preparam; quereis começar a padecer desde o primeiro momento da vossa existencial Sim, porque desde o vosso nascimento quereis começar a ser meu Redentor e satisfazer pelos meus pecados à divina justiça. Escolheis palha por leito, para que me livreis do fogo do inferno, onde tantas vezes mereci ser precipitado. Chorais e gemeis sobre essa palha para me obterdes do vosso Pai, pelas vossas lágrimas, o perdão das minhas faltas.

Ah! Quanto me afligem essas lágrimas e me consolam também! Afligem-me pela compaixão que sinto ao ver-Vos, Menino inocente, sofrer tanto por crimes que não cometestes. Consolam-me, porque nos vossos sofrimentos vejo a minha salvação e o vosso imenso amor para comigo. Mas, meu Jesus, não Vos quero deixar chorar e sofrer sozinho; quero chorar convosco, pois só eu é que devo chorar os desgostos que Vos causei. Já que mereci o inferno, não recuso sofrimento algum, contanto que recupere a vossa amizade.

Perdoai-me, ó Salvador meu, restitui-me a vossa amizade, fazei que Vos ame e castigai-me segundo a vossa vontade. Livrai-me das penas eternas, e depois disponde de mim como quiserdes. Não Vos peço consolações nesta vida; é indigno delas quem teve a petulância de Vos ofender, ó bondade infinita. Pronto estou a sofrer todas as cruzes que me enviardes; mas quero amar-Vos, Jesus meu.

— Ó Maria, fiel companheira de Jesus em todas as suas dores, alcançai-me a força de suportar as minhas penas com paciência. Ai de mim, se, depois de tantos pecados, não sofrer alguma coisa na vida presente. E feliz de mim, se sofrendo puder acompanhar-vos, ó minha dolorosa Mãe, e ao meu Jesus, sempre aflito e crucificado por meu amor.

Referências: (1) Hb 10, 5

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 413-415)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.