Segunda-feira da Terceira Semana depois da Epifania

Os bens do mundo não nos podem fazer felizes

Vidi in omnibus vanitatem et afflictionem animi – “Vi em tudo vaidade e aflição do ânimo” (Ecl 2, 11)

Sumário. Os irracionais que foram criados para a satisfação dos sentidos acham a felicidade nos bens da terra, e possuindo-os nada mais desejam. A alma humana, porém, criada para amar a Deus e estar-lhe unida, nunca achará a paz nos prazeres dos sentidos, como demasiadamente prova a experiência. Só Deus pode contentá-la plenamente. Qual não será, pois a nossa loucura, se, deixando o Senhor, corrermos atrás dos bens falazes do mundo!

I. Neste mundo todos os homens trabalham para alcançar a paz. Afadiga-se tal negociante, tal soldado, tal litigante, porque imaginam que realizando o negócio, obtendo a desejada promoção, ganhando a demanda, farão fortuna e acharão a paz. Pobres mundanos, que procuram a paz no mundo, que lha não pode dar! Só Deus pode dar-nos a paz: Da servis tuis, assim ora a Igreja , illam quam mundus dare non potest pacem — “dai aos vossos servos a paz que o mundo não pode dar” . Não, o mundo com todos os seus bens não pode contentar o coração do homem, porque o homem não foi criado para esses bens, mas somente para Deus, donde resulta que só Deus o pode satisfazer. Os animais, que foram criados para os bens materiais, acham a paz nos bens terrestres. Mas a alma, que foi criada tão somente para amar a Deus e viver com Ele unida, nunca poderá achar a paz nos gozos dos sentidos; só Deus a pode tornar plenamente contente.

São Lucas fala de um rico que, tendo obtido colheita abundante de seus campos, disse assim para consigo: “Minha alma, tens muitos bens em depósito para largos anos; descansa, come, bebe, regala-te.” (1) Mas este desgraçado foi tratado como insensato. E com razão, diz São Basílio; ou não queria por ventura equiparar-se aos animais imundos, e pretendia contentar sua alma com a comida, com a bebida e com os deleites sensuais? Nunquid animam porcinam habes?

Numa palavra, assim conclui São Bernardo, o homem pode encher-se de bens do mundo, mas nunca saciar-se com eles. — Escrevendo o mesmo Santo a propósito desta passagem do Evangelho: Ecce nos reliquimus omnia — “Eis que nós deixamos tudo” , acrescenta que viu no mundo diversos doidos, que todos eram atormentados por uma grande fome. Para se fartar, uns comiam terra: imagem dos avarentos; outros aspiravam o ar; imagem dos ambiciosos; outros que estavam próximos de uma fornalha, recebiam na boca as centelhas que voavam: imagens dos coléricos; outros, enfim, à beira de uma lagoa paludosa, bebiam dessas águas corrompidas: imagens dos desonestos. Depois o Santo, dirigindo-se a eles, exclama: Ó insensatos, não vedes que estas coisas, longe de matar a fome, só podem atiçá-la? Haec potius famem provocant, quam extinguunt.

II. Os bens do mundo têm somente aparência de bens, é por isso que não podem saciar o coração do homem. Comedistis et non estis satiati (2) — “Comestes e não fostes saciados” . Assim o avarento, quanto mais adquire, e o dissoluto, quanto mais se revolve em seus deleites, tanto mais se mostra, a um tempo, desgostoso e ávido de novos prazeres. O mesmo acontece ao ambicioso, que quer saciar-se com uma fumaça. Se os bens da terra pudessem contentar o homem, os ricos, os monarcas seriam perfeitamente felizes, mas a experiência prova o contrário. É o que Salomão declara, afiançando-nos que nada tinha negado aos sentidos: Vanitas vanitatum et omnia vanitas (3) — “Vaidade das vaidades, e tudo é vaidade”.

Que me resta, meu Deus, das ofensas que Vos fiz, senão penas, amarguras e títulos para o inferno? A dor que sofro agora não me desagrada; pelo contrário consola-me, porque é efeito de vossa graça, e já que Vós a excitais em mim, dai-me a confiança que me quereis perdoar. O que me aflige é a amargura de que Vos enchi, ó meu Redentor, que tanto me haveis amado. Merecia ser então abandonado, meu Senhor, mas, em lugar de me abandonardes, vejo que me ofereceis o perdão e que sois o primeiro a pedir a paz. Sim, meu Jesus, quero fazer as pazes e desejo a vossa graça mais do que qualquer outro bem.

Arrependo-me de Vos ter ofendido, Bondade infinita, e por isso quisera morrer de dor. Eu Vos suplico, pelo amor que me tendes tido, a ponto de por mim expirar na cruz: perdoai-me e recebei-me no vosso Coração. Mudai o meu coração de tal sorte, que Vos dê tanto gosto no futuro, como no passado Vos causei desgosto. Pelo vosso amor, renuncio a todos os gozos que o mundo me possa oferecer e tomo a resolução de antes querer perder a vida que a vossa graça. Dizei-me o que tenho a fazer para Vos ser agradável; estou pronto a tudo fazer.

— Prazeres, honras, riquezas, a tudo renuncio; só a Vós quero, meu Deus, minha alegria, meu tesouro, minha vida, meu amor, meu tudo! Ajudai-me, ó Senhor, a Vos ser fiel. Fazei que Vos ame, e disponde de mim como Vos aprouver.

— Maria, minha Mãe e minha Esperança depois de Jesus, recebei-me debaixo da vossa proteção e fazei com que eu seja todo de Deus.

Referências:

(1) Lc 12, 19 (2) Ag 1, 6 (3) Ecl 1, 2

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 175-178)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.

S. Alfonso Maria De Liguori Evangelizare Pauperibus Misit Me

REZE CONOSCO

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