Quinta-feira da Terceira Semana depois da Epifania

Jesus na casa de Nazaré

Descendit (Iesus) cum eis, et venit Nazareth, et erat subditus illis – “Desceu (Jesus) com eles, e veio para Nazaré e lhes estava sujeito” (Lc 2, 51)

Sumário. De volta do Egito, São José foi para a Galiléia e fixou a sua morada na pobre casa de Nazaré. Foi portanto ali que o Filho de Deus passou na obscuridade e no desprezo o resto de sua infância e mocidade, até a idade de trinta anos, a fim de nos ensinar a vida humilde, recolhida e oculta. E apesar disso há tantos cristãos tão orgulhosos, que só ambicionam ser vistos e honrados!… Examinemo-nos, se por ventura somos do número desses ambiciosos.

I. Quando São José voltou para a Palestina, soube que Arquelau reinava na Judéia, no lugar de seu pai Herodes. Teve, pois, medo de ir para lá, e avisado em sonho, retirou-se para Nazaré, cidade da Galiléia, onde fixou sua morada numa pobre casa. Ó ditosa casa de Nazaré, eu te saúdo e te venero! Há de chegar um tempo em que serás visitada pelas primeiras grandezas da terra. Quando os romeiros se virem dentro de ti, não se saciarão de derramar lágrimas de ternura, lembrando-se que é dentro das tuas pobres paredes que o Rei do céu passou quase toda a sua vida.

É naquela casa que o Verbo Encarnado viveu o resto de sua infância e da sua mocidade. E como viveu? Viveu pobre e desprezado pelos homens, qual simples oficial e obedecendo a Maria e José: et erat subditus illis — “e lhes estava sujeito” . Ó Deus! Que ternura se experimenta em pensar que naquela pobre casa o Filho de Deus faz o ofício de criado! Ora vai buscar água, ora abre ou fecha a loja, ora varre a casa, ora ajunta as achas para o fogo, ora afadiga-se ajudando José em seus trabalhos. Ó assombro! Ver um Deus que varre a casa! Um Deus que faz o ofício de servente! Ó pensamento que devia abrasar a todos em santo amor para com um Redentor que tanto se abaixou para se fazer amar por nós!

Adoremos todas essas ações humildes de Jesus, porquanto foram todas divinas. Adoremos sobretudo a vida oculta e desprezada que Jesus Cristo levou na casa de Nazaré. Ó homens orgulhosos, como podeis ter a ambição de serdes vistos e honrados vendo o vosso Deus que passa trinta anos de sua vida em pobreza, oculto e ignorado, para vos ensinar o recolhimento e a vida humilde e oculta?

II. Ó Menino adorado! Eu Vos vejo, qual humilde operário, trabalhar e suar numa pobre oficina. Já entendo: é para mim que Vos abateis e fatigais de tal sorte. Assim como empregastes toda a vossa vida por amor de mim, fazei, ó meu amado Senhor, que eu empregue também por vosso amor o que ainda me resta de vida. Não considereis a minha vida passada, que tanto para mim como para Vós tem sido uma vida de dor e de lágrimas, uma vida desregrada, uma vida de pecados. Permiti, ó Jesus, que a Vós me associe nos dias que ainda me restam, deixai-me trabalhar e sofrer convosco na oficina de Nazaré e depois morrer convosco no Calvário, abraçando a morte que me destinastes.

Ó meu amadíssimo Jesus, meu amor, não permitais que eu Vos deixe e Vos abandone novamente, como fiz outrora. Vós, ó meu Deus, vivestes oculto, ignorado e desprezado, e sofrestes numa oficina em tão grande pobreza, e eu, verme desprezível, andei atrás das honras e prazeres, e por eles me separei de Vós, Bem supremo! Agora, porém, ó meu Jesus, eu Vos amo; e porque Vos amo, não quero mais viver longe de Vós. Renuncio a tudo o mais para unir-me a Vós, ó meu Redentor, oculto e humilhado por mim. Com a vossa graça me dais mais contentamento do que jamais me têm dado todas as vaidades e prazeres da terra, pelos quais tive a desgraça de Vos deixar.

Ó Virgem Santíssima, que ditosa sois por haverdes acompanhado vosso Filho na sua vida pobre e oculta, e vos terdes assim feito semelhante ao vosso Jesus. Minha Mãe, fazei que eu também, ao menos pelo pouco tempo de vida que me resta, me torne semelhante a vós e a meu Redentor.

— “E Vós, ó Pai Eterno, que pelo mistério da Encarnação do Verbo consagrastes misericordiosamente a casa da Bem-aventurada Virgem Maria, e a colocastes maravilhosamente no seio da vossa Igreja, concedei-nos que, afastados dos tabernáculos dos pecadores, mereçamos habitar em vossa santa Casa, pelo mesmo nosso Senhor Jesus Cristo.” (1)

Referências:

(1) Or. Eccl.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 183-186)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.

S. Alfonso Maria De Liguori Evangelizare Pauperibus Misit Me

REZE CONOSCO

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