Segunda-feira da Quarta Semana depois da Epifania

Incerteza da hora da morte

Videte, vigilate et orate: nescitis enim quando tempus sit – “Estai de sobreaviso, vigiai e orai ; porque não sabeis quando seja o tempo” (Mc 13, 33)

Sumário. Irmão meu, já está fixado o ano, o mês, o dia, a hora e o momento em que devemos deixar a terra e entrar na eternidade; esse tempo é-nos, porém, desconhecido. Jesus Cristo no-lo oculta a fim de estarmos sempre preparados para morrer. Ora, dize-me: se a morte te viesse colher neste instante, achar-se-ia a tua consciência em bom estado? Oh, quantos já morreram, e morrem cada dia subitamente!

I. Meu irmão, já está fixado o ano, o mês, o dia, a hora e o momento, em que tu e eu devemos deixar a terra e entrar na eternidade; esse tempo é-nos, porém, desconhecido. A fim de estarmos sempre preparados, Jesus Cristo ora nos avisa que a morte virá como um salteador de noite e às escondidas: Sicut fur in nocte, ita veniet (1) ; ora nos recomenda que estejamos vigilantes, pois no momento em que menos o pensarmos, Ele próprio virá para nos julgar: Qua hora non putatis, Filius hominis veniet (2) . Diz São Gregório que Deus, para nosso bem, nos oculta a hora da morte, para que estejamos sempre prontos para morrer. — Visto, pois, que a morte nos pode tirar a vida a todo o tempo e em qualquer lugar, se quisermos morrer bem e salvar-nos, é preciso, diz São Bernardo, que a todo o tempo e em todo o lugar estejamos esperando pela morte.

Cada um sabe que deve morrer; mas o mal está em muitos verem a morte tão de longe, que quase a perdem de vista. Os velhos mais decrépitos e as pessoas mais doentias ainda se gabam de ter mais três ou quatro anos de vida. Mas eu, ao contrário, digo: quantos não temos conhecido que em nossos dias morreram repentinamente, uns estando sentados, outros no meio do caminho, outros dormindo em seu leito! É certo que nenhum deles julgava morrer tão subitamente, ou naquele dia em que morreu. Digo mais: de todos que neste ano passaram à outra vida, morrendo no próprio leito, nenhum imaginava que devia terminar os seus dias este ano. Poucas são as mortes que não chegam inesperadas!

II. Irmão meu, quando o demônio te tenta para pecar, dizendo que amanhã poderás confessar-te, responde-lhe: Quem sabe se o dia de hoje não é o último de minha vida? Se a hora, o momento em que voltasse as costas a Deus, fosse o último para mim, de modo que já não me restasse tempo para reparar a falta, que seria de mim na eternidade? A quantos míseros pecadores não sucedeu serem surpreendidos pela morte e precipitados no inferno a arderem eternamente no mesmo momento em que saboreavam algum manjar envenenado!

Infernus domus mea est (3) — “A minha casa é o inferno” . Assim é, ó Senhor: o lugar em que me devia achar agora, não é este onde estou, mas sim o inferno que tantas vezes mereci pelos meus pecados. Vós, porém, tivestes tanta paciência comigo e me esperastes, porque não quereis que eu me perca, senão que eu me arrependa! Eis, ó meu Deus, que volto para Vós; a vossos pés me lanço e Vos peço perdão. Miserere mei, Deus, secundum magnam misericordiam tuam (4). — “Tende piedade de mim, ó Deus, segundo a vossa grande misericórdia” . Senhor, para me perdoardes, é preciso uma grande e extraordinária misericórdia, porque Vos ofendi com pleno conhecimento. Outros pecadores também Vos ofenderam, mas não tinham as luzes que me destes. Apesar de tudo isto, ordenais-me ainda que me arrependa de meus pecados, e que espere o perdão. Sim, meu amado Redentor, de todo o coração me arrependo de Vos ter ofendido e espero o perdão pelos merecimentos da vossa Paixão.

Ó Padre Eterno, perdoai-me pelo amor de Jesus Cristo; escutai as suas súplicas, já que intercede por mim e se faz meu advogado. O perdão, porém, não me basta, ó Deus digno de infinito amor; quero ainda a graça de Vos amar. Amo-Vos, soberano Bem, e para sempre Vos ofereço o meu corpo, a alma, a vontade, a liberdade, todo o meu ser. — Ó Maria, grande Mãe de Deus, impetrai-me a santa perseverança.

Referências:

(1) 1 Ts 5, 2 (2) Lc 12, 40 (3) Jó 17, 13 (4) Sl 50, 1

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 193-196)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.

S. Alfonso Maria De Liguori Evangelizare Pauperibus Misit Me

REZE CONOSCO

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