Sábado da Quinta Semana depois da Epifania

Quanto os religiosos devem confiar no patrocínio de Maria

Ego diligentes me diligo: et qui mane vigilante ad me, invenient me – “Eu amo os que me amam: e os que vigiam desde a manhã por me buscarem, achar-me-ão” (Pr 8, 17)

Sumário. Se a divina Mãe ama todos os homens com tão grande afeto, que nenhum outro lhe seja superior, ou mesmo igual, quanto mais não amará os religiosos, que sacrificaram a liberdade, a vida e tudo ao amor de Jesus Cristo? Ponhamos, pois, toda a nossa confiança em tão boa Mãe. Provemos-lhe a nossa devoção, honrando-a fervorosamente e fazendo com que os outros também a honrem. Um religioso que não tem para com nossa Senhora uma devoção especial, perseverará dificilmente.

I. Se é certo, como é certíssimo, no dizer de São Pedro Damião, que a divina Mãe Maria ama todos os homens com tamanho afeto, que, depois de Deus, não há nem pode haver quem a exceda ou iguale no amor: amat nos amore invincibili — “ama-nos com amor inexcedível”, quanto devemos pensar que a grande Rainha ama os religiosos, que consagraram a sua liberdade, a sua vida, tudo ao amor de Jesus Cristo? Ela bem vê que a vida deles é mais semelhante à sua e à do seu divino Filho. Vê-os empregados continuamente em louvá-la e em honrá-la com novenas, visitas, rosários, jejuns e outras práticas de devoção. Vê-os muitas vezes a seus pés a invocá-la e a pedir-lhe graças, graças essas todas conformes aos seus santos desejos, como sejam: a perseverança no serviço divino, a força contra as tentações, o desapego da terra, o amor para com Deus.

Ah! Como poderemos duvidar que ela deixe de empenhar todo o seu poder e misericórdia em benefício dos religiosos, especialmente de nós, que vivemos nesta santa Congregação (1), na qual, como se sabe, se faz profissão especial de honrar a Virgem Mãe com visitas, jejum no sábado, mortificações particulares nas suas novenas, etc., e com promover por toda a parte a sua devoção, por meio de pregações e novenas em sua honra?

A nossa excelsa Senhora é grata, e tão grata, que, como diz Santo André Cretense, costuma dar grandes coisas em retribuição a quem lhe oferece o mais pequeno obséquio: Solet maxima pro minimis reddere . A quem a honra e procura fazê-la honrar dos outros, ela promete, na sua benevolência, livrá-lo do pecado: Qui operantur in me, non peccabunt ; promete-lhe também o paraíso: Qui elucidant me, vitam aeternam habebunt (2).

Por esta razão devemos nós especialmente dar graças a Deus por nos haver chamado a esta Congregação, onde, pelos costumes da comunidade e pelos exemplos dos companheiros, somos frequentemente advertidos e como que constrangidos a recorrer a Maria e a honrar continuamente esta nossa Mãe amantíssima, que se chama e é a alegria, a esperança, a vida e a salvação de quem a invoca e honra.

II. Grande é a confiança que os religiosos devem ter no patrocínio de Maria Santíssima; e grande deve ser a sua devoção, porque, aliás, perseverarão dificilmente. — São Francisco de Borgia perguntou certa vez a uns noviços, de que Santo eram mais devotos, e achou que alguns deles não tinham devoção especial a Nossa Senhora. Advertiu por isso ao Mestre dos noviços que olhasse com mais atenção para aqueles desgraçados; e aconteceu que todos eles perderam miseravelmente a vocação e saíram da religião.

Minha Mãe amabilíssima e amantíssima, pelo amor de Jesus Cristo vos suplico, não permitais que tão grande desgraça venha sobre mim. Agradeço sempre ao meu Senhor e a vós, que além de me haverdes arrancado do mundo, me chamastes para viver nesta Congregação, onde se pratica uma particular devoção para convosco. Aceitai-me, portanto, minha Mãe, para vos servir, e não tomeis por mal que entre tantos vossos diletos filhos vos sirva também este miserável. Vós, depois de Deus, haveis de ser sempre a minha esperança, o meu amor. Em todas as minhas necessidades, em todas as tribulações e tentações, sempre recorrerei a vós, que haveis de ser o meu refúgio, a minha consolação. Não quero outro conforto nos combates, nas tristezas e nos aborrecimentos desta vida, senão Deus e a vós.

Minha amabilíssima Mãe, para vos servir, renuncio a todos os reinos do mundo; o meu reino nesta terra será servir, bendizer e amar a minha dulcíssima Senhora: cui servire, regnare est — “a quem servir, é reinar”, como diz Santo Anselmo. Visto que sois a Mãe da perseverança, obtende que eu vos seja fiel até à morte.

— Fazendo assim, espero, e espero com segurança, ir um dia louvar-vos e bendizer-vos eternamente e nunca mais apartar-me de vossos pés. Iesus et Maria — assim protesto com vosso amante servo Santo Afonso Rodrigues — amores mei dulcissimi, pro vobis patiar, pro vobis moriar; sim totus vester, sim nihil meus — “Jesus e Maria, amores meus dulcíssimos, padeça por Vós, morra por Vós, seja todo vosso e nada meu”.

Referências: (1) Santo Afonso escreveu esta meditação para os noviços da Congregação do Santíssimo Redentor por ele fundada (2) Eclo 24, 30-31

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 224-226)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.

S. Alfonso Maria De Liguori Evangelizare Pauperibus Misit Me

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