Quinta-feira da Sexta Semana depois da Epifania

Amor de Deus em fazer-se homem

Verbum caro factum est, et habitavit in nobis – “O Verbo se fez carne, e habitou entre nós” (Jo 1, 14)

Sumário. Que se havia de dizer, se um príncipe, por compaixão de um verme morto, quisesse tornar-se verme, e fazendo um banho de seu sangue, morresse para restituir o verme à vida? Mais porém do que isso fez por nós o Verbo Eterno, que, sendo Deus, quis fazer-se homem como nós e morrer por nós, a fim de nos merecer a vida da graça divina que tínhamos perdido. Apesar disso, quão poucos são os que se Lhe mostram gratos! Do número destes poucos sejamos também nós.

I. Consideremos o amor imenso que Deus nos mostrou fazendo-se homem, para nos adquirir a salvação eterna. Adão, nosso primeiro pai, peca, e por se ter rebelado contra Deus, é expulso do paraíso e condenado, com todos os seus descendentes, à morte eterna. Eis, porém, que o Filho de Deus, vendo o homem perdido e querendo livrá-lo da morte, se oferece a tomar a natureza humana e morrer justiçado sobre uma cruz. Mas — assim se me afigura que Lhe dissesse então o Pai — mas, meu Filho, reflete que na terra terás de levar uma vida humilde e penosa. Deverás nascer numa gruta fria e serás posto numa manjedoura. Ainda criança, terás de fugir par ao Egito a fim de te livrares das mãos de Herodes. De volta do Egito terás de viver numa oficina como humilde aprendiz, pobre e desprezado. Finalmente, perderás a vida sobre uma cruz, à força de dores, coberto de opróbrios e abandonado de todos. — Meu Pai, responde o Filho, não importa, aceito tudo, com tanto que o homem seja salvo.

Que se havia de dizer, se jamais um príncipe, por compaixão de um verme morto, quisesse fazer-se verme, e fazendo um banho de seu sangue, morresse a fim de restituir a vida ao verme? — Pois, mais do que isso fez por nós o Verbo Eterno, que, sendo Deus, quis fazer-se verme como nós e morrer por nós, a fim de nos fazer recuperar a vida da divina graça que tínhamos perdido. — Vendo que os muitos dons a nós concedidos não bastaram para Lhe granjear o nosso amor, que fez? Ele se fez homem e se deu todo a nós.

Verbum caro factum est, et tradidit semetipsum pro nobis — “O Verbo se fez carne, e se entregou a si mesmo por nós”

O homem, diz São Fulgêncio, afastou-se de Deus, porque o desprezou; mas Deus, pelo amor que tem ao homem, desceu do céu para procurá-lo. E para que desceu? Para que o homem conhecesse quanto Deus o amava, e assim se resolvesse a amá-Lo ao menos por gratidão. Os irracionais que se chegam a nós, se fazem amar; e porque somos tão ingratos para com Deus que do céu baixou à terra, para se fazer amar?

II. Quando certo dia um sacerdote dizia esta palavra da Missa: Et Verbum caro factum est — “E o Verbo se fez carne” , um dos assistentes deixou de fazer ato de reverência, pelo que o demônio lhe deu uma forte bofetada, dizendo:

“Ah ingrato! Se Deus tivera feito por mim o que fez por ti, estaria continuamente com o rosto em terra para lhe dar graças”

Ó grande Filho de Deus, Vós Vos fizestes homem para Vos fazer amar pelos homens; mas qual é o amor que os homens Vos têm? Vós sacrificastes o vosso sangue e a vossa vida pela salvação das nossas almas: porque é que Vos somos tão pouco reconhecidos, que, em vez de Vos amar, Vos desprezamos com tamanha ingratidão? — E eu, Senhor, quiçá mais do que os outros, Vos ofendi assim. A vossa Paixão é a minha esperança. Suplico-Vos pelo amor que Vos fez tomar a natureza humana e morrer por mim sobre a cruz, que me perdoeis todas as ofensas que Vos fiz. Amo-Vos, ó Verbo incarnado, amo-Vos, ó Bondade infinita. † Jesus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as coisas . Arrependo-me de todos os desgostos que Vos causei, e quisera morrer de dor. Ó meu Jesus, dai-me o vosso amor, não permitais que ainda viva ingrato ao afeto que me haveis mostrado. Quero amar-Vos sempre. Dai-me a santa perseverança.

— Ó Maria, Mãe de Deus e minha Mãe, alcançai-me do vosso Filho a graça de amá-Lo sempre até à morte.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 237-239)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.

S. Alfonso Maria De Liguori Evangelizare Pauperibus Misit Me

REZE CONOSCO

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