Terça-feira da Semana da Septuagésima

Comemoração da agonia e oração de Jesus no Horto

Et factus in agonia prolixius orabat – “E, posto em agonia, orava (Jesus) com maior instância” (Lc 22, 43)

Sumário. Imaginemos ver a Jesus, que, pela previsão dos tormentos e ignomínias que o esperavam, e muito mais da ingratidão com que os homens lhe haviam de pagar, cai em agonia no Horto e sua sangue; mas nem assim deixa de rogar a seu eterno Pai. É este o exemplo que devemos seguir, quando nos achamos em aflição e desolação. Unamos então as nossas penas às de Jesus; mas não deixemos de orar e de repetir com Ele: Pai, seja feita a vossa vontade.

I. O nosso amante Redentor, aproximando-se a hora da sua morte, dirigiu-se para o horto de Getsêmani, onde, por si mesmo, deu princípio à sua amargosíssima Paixão, permitindo que o temor, o tédio e a tristeza viessem atormentá-Lo. Coepit pavere et taedere… contristari et moestus esse (1). Mas como! Não era o mesmo Jesus que tanto tinha desejado sofrer e morrer pelos homens? E como teme agora tanto as penas e a morte? Porque está triste e aflito até ao ponto que a tristeza parece tirar-lhe a vida? (2) Ah! Bem desejava Jesus morrer por nós; mas, para que não pensássemos que por virtude da sua divindade morria sem sofrer, suplicou a seu Pai que o livrasse, assim nos quis fazer conhecer que morria de morte tão angustiosa, que grandemente o aterrava.

Porém, o que propriamente afligiu o Coração de Jesus no horto, não foi tanto a previsão dos tormentos que teria de sofrer, como a previsão de nossos pecados. Jesus tinha vindo ao mundo para tirar os pecados. Mas vendo que apesar de sua Paixão se cometeriam no mundo tantos crimes, sofreu uma dor tão intensa, que antes de morrer o reduziu à agonia e o fez suar sangue vivo em tanta abundância, que chegou a ensopar a terra: Et factus est sudor eius sicut guttae sanguinis decurrentis in terram (3). Sim, porque Jesus viu então diante de si todos os pecados que os homens tinham de cometer depois da sua morte, todos os ódios, desonestidades, furtos, blasfêmias e sacrilégios. — Jesus então disse: É assim, ó homens, que recompensais o meu amor? Ah, se eu vos visse gratos para comigo, como iria contente morrer por vós. Mas, ver, depois de tantos sofrimentos meus, tantos pecados, depois de tanto amor meu, tamanha ingratidão, eis o que me faz suar sangue.

II. No meio de sua penosíssima agonia, que faz o Senhor? Dobra os joelhos, prostra-se com o rosto no chão, e roga a seu divino Pai, dizendo: Pater, si possibile est, transeat a me cálix iste; verumtamen non sicut ego volo, sed sicut tu — “Pai meu, se é possível, passe de mim este cálice; todavia não seja como eu quero, mas sim como tu” (4). Como se dissesse: Meu Pai, Vós vedes que os tomentos que se me chegam a sofrer são horríveis; sabeis como o horror natural me impele a fugir deles e que por isso é grande a tristeza que me oprime. Vós sabeis tudo isso. Sendo, pois possível que, sem embargo do decreto de vossa justiça, passe de mim este cálice amargoso, sem que eu o beba, rogo-Vos que me atendais o pedido. Mas, de nenhum modo se faça o que eu quero, senão o que Vós quereis; porquanto em todas as coisas prefiro a vossa santíssima vontade à minha. — Ó oração sublime! Ó perfeitíssima resignação!

Eis aí o que nós também devemos fazer; pois que, como diz São Cipriano, Jesus quis, não somente com palavras, senão também com suas obras, ensinar-nos o verdadeiro modo de orar. Em nossas aflições e desolações, unamos a nossa pena com a do Coração de Jesus no horto e digamos com Ele:

Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; faça-se, porém, não a minha vontade, senão a vossa. — Se apesar disso, se prolongar a desolação, conformemo-nos com a vontade divina, e longe de nos relaxarmos em nossas orações, prolonguemo-las à imitação de Jesus Cristo mesmo, que posto em agonia orou com mais instância: Factus in agonia, prolixius orabat .

É assim, ó Senhor, que proponho fazer; Vós, porém, dai-me a graça de Vos ser fiel. “Ó meu Jesus, Vós que no horto, com palavras e exemplo nos ensinastes a orar, para vencermos os perigos das tentações, concedei-me propício, que sempre aplicado à oração, mereça tirar dela fruto copioso.” (5) Fazei-o pelo amor de vossa e minha amada Mãe Maria.

Referências: (1) Mc 14, 33. Mt 26, 37 (2) Mt 26, 38 (3) Lc 22, 44 (4) Mt 26, 39 (5) Or. Eccl.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 249-252)

Clique no botão abaixo para receber a meditação do dia direto no seu celular!

plugins premium WordPress

1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.

S. Alfonso Maria De Liguori Evangelizare Pauperibus Misit Me

REZE CONOSCO

Todos os dias nós te enviaremos a meditação correspondente para te ajudar a aprimorar sua rotina de oração!