2a Meditação – Domingo da Terceira Semana da Quaresma

Estado miserável dos que recaem no pecado

Et fiunt novissima hominis illius peiora prioribus – “E o último estado daquele homem virá a ser pior do que o primeiro” (Lc 11, 26)

Sumário. Meu irmão, já que resolveste dar-te todo a Deus, e já o executaste, não creias que as tentações tenham terminado. Antes, mais do que nunca, prepara-te para travar combate com o demônio, que, como diz Jesus Cristo, buscando repouso e não o achando, redobra os esforços para tornar a entrar na alma donde foi expulso. Desgraçado de quem torna a cair depois de ser levantado! Irá enfraquecendo cada vez mais; Deus retirará a sua mão com as graças; e assim o fim de tal homem será pior do que o princípio.

I. Meu irmão, já que resolveste dar-te todo a Deus, e assim o executaste, não acrediteis que se tenham acabado as tentações. Escuta o que te diz Jesus Cristo no Evangelho de hoje:

“Quando o espírito imundo saiu do homem, anda por lugares desertos, buscando repouso; e não a achando, diz: Voltarei para a casa donde saí. E quando chega, acha-a varrida e adornada. Vai então, e toma consigo outro sete espírito piores do que ele, e, entrando na casa, fazem nela habitação. E o último estado daquele homem virá a ser pior do que o primeiro”.

Com isto o Senhor nos quer dizer que, quanto mais uma alma procura unir-se a Deus e servi-Lo, tanto mais contra ele se enfurece o inimigo, e procura entrar na alma donde foi desterrado. Se o consegue, não entra mais sozinho, mas traz companheiros consigo, para melhor se aquartelar, e assim a segunda ruína da mísera alma será pior do que a primeira.

Diz Santo Tomás que todo o pecado, ainda que tenha sido perdoado, deixa sempre a ferida causada pela culpa. Se portanto se junta outra ferida à antiga, fica a alma tão enfraquecida, que para se levantar precisará de uma graça especial. Por outra parte, Deus não concederá facilmente semelhante graça a um ingrato, que, depois de ser chamado com tão grande amor, e admitido à sua amizade, depois de assentar-se à Mesa eucarística para se alimentar com o Corpo sagrado de Jesus, esquecendo-se de todas estas misericórdias divinas, se revolta contra Ele e Lhe prefere o demônio. Ah! O Senhor fica em extremo sensibilizado com tamanha ingratidão, e por isso: Fiunt novissima hominis illius peiora prioribus — “O último estado daquele homem virá a ser pior do que o primeiro”.

II. Ai daquele que, sendo amigo de Deus e tendo recebido muitas graças, torna a cair e se declarar seu inimigo e escravo do demônio! — Irmão meu, a fim de que te não suceda tamanha desgraça, esforça-te de toda a maneira por ficares constante na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a tentação (1). Examina novamente a tua consciência; estuda todas as tuas paixões, especialmente a que no passado tenha sido a tua paixão dominante. Quando sentires que as inclinações más tornam a brotar em tua alma, procura abatê-las depressa pelos meios que o teu confessor te indicar, antes que ganhem força; no caso contrário serão os teus mais formidáveis inimigos.

A arma principal, porém, de que te deves servir, é a oração, porque o espírito imundo é um campeão armado, mais robusto do que tu, e que além de uma longa experiência tem a inteligência e a força de anjo. Numa palavra, lembra-te que quem na tentação ora e se recomenda a Deus, certamente será vencedor; e quem não ora, será vencido e se condenará.

Ó Jesus, meu Redentor, pelos merecimentos de vosso sangue espero que já me haveis perdoado as ofensas que Vos fiz, e que irei agradecer-Vos eternamente no paraíso. Vejo que no passado caí e recaí miseravelmente, porque me descuidei de recorrer a Vós. Agora peço-Vos a santa perseverança e proponho pedi-la sempre, especialmente quando me vir tentado. Mas de que me valerá esta minha resolução, se Vós não me derdes a força para cumpri-la? Rogo-Vos pelos merecimentos de vossa paixão, me concedais a graça de recorrer a Vós em todas as minhas necessidades. — “Dignai-Vos, ó Deus todo-poderoso, atender às minhas humildes súplicas, e estender em minha defesa o braço da vossa majestade” (2).

Fazei-o pelo amor de vossa e minha queria Mãe Maria.

Referências:

(1) Eclo 2, 1 (2) Or. Dom. curr.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 337-339)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.