Domingo da Paixão

Grande fruto que se tira da meditação da Paixão de Jesus Cristo

Abraham, pater vester, exultavit, ut videret diem meum: vidit et gavisus est – “Abraão, vosso pai, desejou ansiosamente ver o meu dia: ele o viu e exultou de gozo” (Jo 8, 56)

Sumário. Não é sem razão que Abraão e com ele os demais justos do Antigo Testamento desejavam tão ansiosamente ver o dia do Senhor. Sim, porque depois da vinda de Jesus Cristo, é impossível que uma alma crente que medita nas dores e ignomínias que Ele sofreu por nosso amor, não se abrase em amor e não se resolva firmemente a tornar-se santa. Se, pois, queremos progredir no caminho de perfeição, meditemos a miúdo, e especialmente nestes dias, na Paixão do Redentor, e meditando afiguremo-nos que presenciamos os mistérios dolorosos.

I. Não é sem razão que o patriarca Abraão desejou ansiosamente ver o dia do Senhor; e que, tendo tido a ventura de vê-lo por uma revelação divina, ainda que em espírito somente, se alegrou em seu coração, como atesta o Evangelho de hoje. Sim, porque o tempo que se seguiu à vinda de Jesus Cristo, já não é mais tempo de temor, mas tempo de amor: Tempus tuum, tempus amantium (1).

Na Lei antiga, antes da Encarnação do Verbo, podia o homem, por assim dizer, duvidar se Deus o amava. Depois de O havermos visto, porém, morrendo por nós, exangue e vilipendiado sobre um patíbulo infame, já não podemos duvidar que Ele nos ame com toda a ternura. — Quem poderá jamais compreender, que excesso de amor levou o Filho de Deus a pagar a pena dos nossos pecados? E, todavia, isso é um ponto de fé: Dilexit nos, et lavit nos in sanguine suo (2) — “Ele nos amou, lavou-nos em seu sangue” . Ó misericórdia infinita! Ó amor infinito de Deus!

Mas porque é que tantos cristãos olham com indiferença para Jesus Cristo crucificado? Que na Semana Santa assistem à comemoração da morte de Jesus, mas sem algum sentimento de ternura e gratidão, como se não se comemorasse um fato verdadeiro, ou não lhes dissesse respeito?

Não sabem, ou não creem, porventura, o que os santos Evangelhos dizem acerca da Paixão de Jesus Cristo? Com certeza o creem, mas não refletem. Entretanto, é impossível que uma alma crente, que medita nas dores e ignomínias que Jesus Cristo padeceu por nosso amor, não se abrase de amor para com Ele e não tome uma forte resolução de tornar-se santa, a fim de não se mostrar ingrata para com Deus tão amante. Caritas Christi urget nos (3) — “A caridade de Cristo nos constrange” .

II. Meu irmão, se queres sempre crescer em amor para com Deus e progredir na perfeição, medita a miúdo na Paixão de Jesus Cristo, conforme o conselho que te dá São Boaventura: Quotidie mediteris Domini passionem. Especialmente nestes dias, que procedem a comemoração da sua morte dolorosíssima, guiado pelos sagrados Evangelhos, contempla com olhos cristãos tudo que o Salvador sofreu nos principais teatros de seu padecimento; isto é, no horto das oliveiras, na cidade de Jerusalém e no monte Calvário.

Para que tires desta meditação o fruto mais abundante possível, representa-te os sofrimentos de Jesus Cristo tão vivamente, que te pareça veres diante dos olhos o Redentor tão maltratado, e sentires em ti mesmo as chagas que n’Ele abriram as pontas dos espinhos e dos cravos, a amargura do vinagre e fel, o pejo das ignomínias e dos desprezos: Hoc enim sentite in vobis, quod et in Christo Iesu (4) — “Senti em vós o que Jesus Cristo sentiu” . Ao passo que assim meditas, repete muitas vezes com o Apóstolo: Tudo isso o Senhor tem feito e padecido por mim, para me mostrar o seu amor e ganhar o meu: Dilexit me, et tradidit semetipsum pro me (5) — “Ele me amou e se entregou por mim” . E não O amarei?

Sim, amo-Vos; † Jesus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as coisas ; e porque Vos amo, pesa-me de Vos haver ofendido, e proponho antes morrer do que Vos tornar a ofender. “Vos, ó Senhor onipotente, lançai sobre mim um olhar benigno, para que por vossa proteção seja regido no corpo e defendido na alma”. (6) † Doce Coração de Maria, sêde minha salvação.

Referências:

(1) Ez 16, 8 (2) Ef 5, 2 (3) 2 Cor 5, 14 (4) Fl 2, 5 (5) Gl 2, 20 (6) Or. Dom. curr.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 374-376)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.

S. Alfonso Maria De Liguori Evangelizare Pauperibus Misit Me

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