Terça-feira da Nona Semana depois de Pentecostes

Remorso do condenado: Eu me condenei por um nada

Gustans gustavi paululum mellis, et ecce morior – “Tomei um pouco de mel, e por isso morro” (1 Rs 14, 43)

Sumário. A consciência roerá o coração dos réprobos por muitos remorsos; mas um dos que mais o atormentarão, será a lembrança de que se perdeu por um nada. Oh! que rugidos soltará o condenado, pensando que por algumas satisfações momentâneas e envenenadas, renunciou a um reino de eterna felicidade, e está condenado a arder para sempre naqueles abismos!… Meu irmão, reflete bem que também hás de sentir um dia o mesmo desespero, se não te aproveitares agora da divina misericórdia, e lembra-te mais uma vez de que para te assegurar a eternidade nenhuma providência é demasiada.

I. A consciência roerá o coração dos réprobos por grande número de remorsos; mas um dos que mais os atormentarão será o pensar no nada das coisas porque se condenaram. Quando Esaú tinha comido o prato das lentilhas, pelas quais vendeu o direito de primogenitura, diz a Escritura que pela dor e mágoa da perda se pôs a rugir. Irrugiit clamore magno (1). Mas, oh! que uivos e rugidos mais horrorosos não soltará o réprobo, pensando que por umas satisfações fugitivas e envenenadas perdeu um reino de eterno gozo, e que está reduzido a ver-se eternamente condenado a uma morte contínua! Chorará mais amarguradamente do que Jonathas, quando se viu condenado à morte por Saul, seu pai, por ter tomado um pouco de mel: Tomei um pouco de mel, e por isso morro.

Ó céus! que pena sofrerá o condenado, considerando então a causa da sua condenação! Presentemente, o que é a nossos olhos a vida já passada, senão um sonho, um instante? Que hão de parecer pois a quem está no inferno, esses cinquenta ou sessenta anos de vida passados na terra, quando se vir no oceano da eternidade, na qual passará cem e mil milhões de anos e de séculos e sempre verá que a eternidade está ainda no seu começo?

Mas, que digo! cinquenta anos de vida! Serão porventura cinquenta anos de gozo? Gozará porventura o pecador, vivendo longe de Deus, doçuras contínuas em sua vida pecaminosa? Quanto tempo duram esses prazeres do pecado? Uns instantes apenas, e todo o resto de tempo é, para o que vive na desgraça de Deus, um tempo de mágoas e pesares. Que serão, portanto, esses curtos momentos de prazer, aos olhos do infeliz réprobo? e especialmente, como se lhe afigurará então aquele último pecado pelo qual se perdeu?

Portanto — assim dirá de si para si, — por uma miserável satisfação, que durou apenas um instante, e apenas gozada se dissipou como o vento, estou condenado a arder neste fogo, sem esperança e abandonado de todos, enquanto Deus for Deus, durante toda a eternidade!

II. Que favor não seria para o réprobo, se Deus lhe concedesse mais um ano ou mês de vida, para reparar o mal praticado, e aplacar os remorsos que de contínuo o atormentam? Ora, meu irmão, esse tempo é a ti que Deus o concede, e então em que o quererás empregar? Pensa que se trata da eternidade, e que, na palavra de São Bernardo, nenhuma providência é demasiada para a pores ao abrigo dos perigos: Nulla nimia securitas, ubi periclitatur aeternitas .

Iluminai-me, Senhor, e fazei-me conhecer a injustiça que cometi ofendendo-Vos, e o castigo que mereci. Meu Deus, sinto grande mágoa por Vos haver ofendido; mas esta mágoa me consola. Se me tivésseis enviado ao inferno, como merecia, o inferno do meu inferno seria o remorso de pensar que me perdi por tão pouca coisa. Mas, agora este remorso me consola, porque me anima a esperar o perdão que prometestes ao que se arrepende. Sim, meu Senhor, arrependo-me de Vos haver ultrajado; abraço a mágoa que sinto e peço-Vos que m’a aumenteis e conserveis até à morte, afim de que eu chore sempre amargamente os desgostos que Vos dei.

Perdoai-me, meu Jesus! Ó meu Redentor, que, para ter piedade de mim, não tivestes piedade de Vós mesmo, condenando-Vos a morrer de dor: suplico-Vos que me livreis do inferno onde não mais Vos poderia amar. Fazei que a mágoa de Vos ter ofendido sustente em mim uma dor contínua e ao mesmo tempo me abrase todo em amor por Vós, que me haveis amado tanto, me haveis suportado com tão grande paciência, e, em vez de me castigar, me enriqueceis de luzes e graças. Graças Vos dou, ó meu Jesus, e amo-Vos mais que a mim mesmo, amo-Vos de todo o coração. — Não sabeis desprezar o que Vos ama. Amo-Vos; não me repilais de vossa presença. Recebei-me em vossa amizade, e não permitais que Vos torne a perder.— Maria, minha Mãe, aceitai-me por vosso servo e prendei-me a Jesus, vosso Filho. Suplicai-lhe que me perdoe, que me dê o seu amor e a graça da perseverança até à morte.

Referências:

(1) Gn 27, 34

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 272-274)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.

S. Alfonso Maria De Liguori Evangelizare Pauperibus Misit Me

REZE CONOSCO

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