Segunda-feira da Décima Oitava Semana depois de Pentecostes

Desprezo do mundo com o pensamento da morte

Qui utuntur hoc mundo, tamquam non utantur; praeterit enim figura huius mundi – “Os que usam deste mundo, sejam como se não usassem; porque a figura deste mundo passa” (1 Cor 7, 31)

Sumário. A sombra sinistra da morte escurece o brilho de todos os cetros e coroas; faz-nos compreender que o que o mundo estima não é senão fumaça, lodo e miséria. Com efeito, para que servem as riquezas, as dignidades e as honras, já que depois da morte não nos restará nada senão um caixão, dentro do qual nosso corpo se corromperá? Para que serve a beleza e a saúde do corpo, já que afinal não restará nada senão um punhado de pó nojento e alguns ossos descarnados? Nossas obras somente acompanhar-nos-ão para a eternidade. Todavia quão poucos são os que procuram fazer provisão de boas obras?

I. O pensamento da vaidade do mundo e que tudo o que o mundo estima não é senão ilusão e engano fez muitas almas resolverem a dar-se inteiramente a Deus. Quid prodest homini, si mundum universum lucretur? (1) – De que servirá ganhar o mundo inteiro a quem tenha perdido a alma para sempre? Penetrados desta grande máxima do Evangelho, quantos jovens se resolveram a deixar parentes, pátria, riquezas, honras, mesmo coroas, para encerrar-se num convento, ou ocultar-se num deserto, afim de só pensarem em Deus! – O dia da morte é chamado dia de perdição: Iuxta est dies perditionis (2). Dia de perdição, sim, porque todos os bens que possamos adquirir nesta terra teremos de deixá-los todos no dia da morte. Pelo que Santo Ambrósio nota com muita sabedoria que erradamente chamamos nossos os bens terrestres, já que não os podemos levar conosco para o outro mundo onde teremos de ficar eternamente. Tão somente as boas obras nos acompanharão e nos consolarão na eternidade.

Todos os tesouros terrenos, as dignidades mais altas, a prata, o ouro, as pedras mais preciosas, perdem o seu brilho quando vistos lá do leito da morte. A sombra sinistra da morte escurece até os cetros e as coroas, e faz-nos compreender que tudo quanto o mundo estima não é senão fumaça, lodo, vaidade e miséria – Com efeito, de que servirão na morte todas as riquezas amontoadas, pois que então nada mais teremos do que um caixão no qual nosso corpo, quando dele nada restará senão um punhado de pó nojento e alguns ossos descarnados?

Que é, portanto, a vida do homem sobre esta terra? Eis como nô-la descreve São Thiago: Vapor est ad modicum parens, et deinceps exterminabitur (3) – “É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanecerá” – Hoje tal personagem é estimado, temido, elogiado; amanhã será desprezado, criticado e amaldiçoado: Vidi impium superexaltatum… et transivi, et ecce non erat (4) – “Vi o ímpio exaltado… e passei, e eis que não mais existia” . Não mora mais na sua fazenda, no seu palácio luxuoso que tinha construído. Onde é que está? Na sepultura, reduzido a pó.

II. Statera dolosa in manu eius (5) – “Tem na mão uma balança enganosa” . Avisa-nos o Espirito Santo que não nos deixemos enganar pelo mundo, que pesa os bens numa balança falsa. Nós devemos pesar os verdadeiros bens, quais são aqueles que em breve devem ter fim. Disse Santa Teresa: Não se deve fazer caso de coisas que acabam com a morte. – Ó Deus, com que ficaram tantos ministros de Estado, tantos generais de exército, tantos príncipes, tantos imperadores romanos, agora que para eles terminou a cena e se acham na eternidade? Periit memoria eorum cum sonitu (6) – “A lembrança deles pereceu com o som”. Representaram papel brilhante no mundo, seu nome estava na boca de todos; e depois que morreram, terminou para eles a cena, o renome e tudo o mais. Feliz, pois, daquele que aos olhos de Deus representou bem o seu papel.

É bem conhecido que mudança de vida operou em São Francisco de Borja a vista do corpo inânime da imperatriz Isabel, formosíssima em vida, mas depois de morta objeto de horror para quem a via. Tomara que todos nós o imitássemos, antes que nos colha a morte! Mas façamo-lo depressa, porque a morte já vem ao nosso encontro, e não sabemos quando chegará. Não permitamos que, das luzes que Deus nos concede agora, só nos reste finalmente o remorso e as contas a dar a Deus, quando tivermos na mão a vela mortuária. Resolvamo-nos a fazer agora o que então quiséramos ter feito e não poderemos mais fazer.

Ó meu Deus! Já tivestes bastante paciência comigo; não quero mais tardar em me dar todo a Vós. Vós me tendes convidado tantas vezes a romper com o mundo e a dar-me todo ao vosso amor! Hoje me convidais uma vez ainda; eis-me aqui, acolhei-me em vossos braços, já que neste momento me entrego todo a Vós. – Ó Cordeiro imaculado, Vós que um dia Vos sacrificastes no Calvário, morrendo por meu amor sobre uma cruz, lavai-me primeiro em vosso sangue, perdoando-me todas as injúrias que de mim recebestes, e depois abrasai-me todo em vosso amor. Amo-Vos sobre todas as coisas; amo-Vos com toda a minha alma. E fora de Vós, que poderia eu achar no mundo mais digno de ser amado e que mais me tenha amado? – Mãe de Deus e minha Advogada Maria, rogai por mim e obtende-me uma verdadeira e constante mudança de vida.

Referências:

(1) Mt 16, 26 (2) Dt 32, 35 (3) Zc 4, 15 (4) Sl 36, 35-36 (5) Os 12, 7 (6) Sl 9, 7

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 117-120)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.

S. Alfonso Maria De Liguori Evangelizare Pauperibus Misit Me

REZE CONOSCO

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