Quarta-feira da Décima Nona Semana depois de Pentecostes

A morte do justo é a entrada na vida

Haec porta Domini, iusti intrabunt in eam – “Esta é a porta do Senhor, os justos entrarão por ela” (Sl 117, 20)

Sumário. A morte, considerada segundo os sentidos, causa pavor e temor, mas considerada segundo a fé, é consoladora e desejável; porque é a porta da vida, pela qual forçosamente deve passar quem quiser entrar no gozo de Deus. Tal é a graça que Jesus Cristo nos alcançou pela sua morte. Pelo que os santos, enquanto estavam na terra, não desejavam senão sair do cárcere do miserável corpo e entrar no reino celestial. Se nós temos tamanho horror à morte, é porque amamos pouco ao Senhor.

I. A morte, considerada segundo os sentidos, causa pavor e temor; mas considerada segundo a fé, é consoladora e desejável; porque, como observa São Bernardo, não só é o fim dos trabalhos e o remate da vitória, como também a porta da vida, pela qual deve passar forçosamente quem quiser entrar no gozo e contemplação de Deus: “Esta é a porta do Senhor, os justos entrarão por ela.” — São Jerônimo chamava a morte e lhe dizia: Aperi mihi, soror mea — “Ó morte, minha irmã, se me não abres a porta, não poderei entrar no gozo de meu Senhor” . São Carlos Borromeu, vendo em sua casa um quadro que representava um esqueleto com uma foice na mão, mandou chamar um pintor e ordenou-lhe que apagasse a foice e a substituísse por uma chave de ouro. Queria por este meio inflamar-se mais e mais no desejo da morte, porque é a morte que nos deve abrir o paraíso.

Se um rei, diz São João Crisóstomo, tivesse preparado para alguém uma habitação na sua própria morada e no entretanto o deixasse viver num curral, quanto não deveria esse homem desejar sair do curral para passar ao palácio régio? A alma nesta vida vive no corpo como numa prisão, de onde deve sair um dia para entrar no palácio do céu. É por isso que Davi orava assim: Educ de custodia animam meam (1) — “Livrai a minha alma de sua prisão” . E o santo velho Simeão, quando tinha nos braços o menino Jesus, não lhe soube pedir outra coisa senão a morte, para se ver livre das cadeias da vida presente. Nunc dimittis servum tuum, Domine (2) – “Agora, deixas ir o teu servo” . “Pede que o deixem ir”, diz Santo Ambrósio, “como se fosse retido.”

Qual não foi a alegria do copeiro de Faraó, quando soube por José que dentro em pouco devia sair da prisão e voltar a ocupar o seu posto! E não se regozijará uma alma que ama a Deus, sabendo que dentro em breve vai ser livre da prisão deste mundo e entrar na posse de Deus? É, pois, com razão que a morte dos santos se chama o seu nascimento; visto que pela morte nascem para a vida bem aventurada que nunca terá fim.

II. Lê-se na vida de São João o Esmoleiro, que um homem muito rico lhe recomendara seu filho único e lhe dera muitas esmolas, afim de obter longa vida para esse filho; mas pouco tempo depois o moço morreu. Queixando-se o pai amargamente da perda do filho, enviou-lhe Deus um anjo que lhe disse:

“Pediste para teu filho longa vida. Pois bem, sabe que já está gozando dela no céu por toda a eternidade.”

Tal é a graça que Jesus Cristo nos alcançou, conforme a promessa que nos foi feita pela boca do profeta Oséias: Ero mors tua, o mors (3) — “Ó morte, eu serei a tua morte” . Jesus, morrendo por nós, fez com que a morte se nos tornasse vida.

Ó Deus de minha alma, eu, miserável pecador, merecia uma morte desgraçada, porque Vos desonrei pelo passado, voltando-Vos as costas. Mas vosso Filho Vos honrou, sacrificando a vida na cruz. Pela honra que Vos deu vosso amado Filho, perdoai-me a desonra que Vos causei. Ó meu soberano Bem, arrependo-me de Vos ter ofendido; e prometo-Vos que doravante não hei de amar senão a Vós. A minha salvação, espero-a de vossa bondade. Tudo que atualmente tenho de bom é dádiva de vossa graça; a Vós me reconheço devedor de tudo: G ratia Dei sum id quod sum (4) — “É pela graça de Deus que sou o que sou.” Se pelo passado Vos desonrei, espero honrar-Vos eternamente, abençoando a vossa misericórdia.

Sinto um grande desejo de Vos amar; sois Vós quem me inspirais, e eu Vô-lo agradeço, ó meu amor. Continuai, continuai a ajudar-me do mesmo modo por que tendes começado; para o futuro peço ser vosso, todo vosso. Renuncio a todos os prazeres do mundo. Que maior gozo posso eu ter, do que amar-Vos, a Vós, meu Senhor tão amável e que tanto me tendes amado? É só amor que Vos peço, ó meu Deus, amor, amor. E espero pedir-Vo-lo sempre, até que, morrendo no vosso amor, eu chegue ao reino do amor, onde sem ter que o pedir, estarei cheio de amor e não deixarei nunca mais, um momento, de Vos amar em toda a eternidade e com todas as minhas forças. — Maria, minha Mãe, vós que amais tanto o vosso Deus e tanto O desejais ver amado, fazei com que eu O ame muito nesta vida, afim de O amar muito na outra e para sempre.

Referências:

(1) Sl 141, 8 (2) Lc 2, 29 (3) Os 13, 14 (4) 1 Cor 15, 10

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 141-144)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.

S. Alfonso Maria De Liguori Evangelizare Pauperibus Misit Me

REZE CONOSCO

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