Terça-feira da Vigésima Semana depois de Pentecostes

A vida presente é uma viagem para a eternidade

Non enim habemus hic manentem civitatem, sed futuram inquirimus – “Não temos aqui cidade permanente, mas procuramos a futura” (Hb 13, 14)

Sumário. Vendo tantos ímpios em prosperidade e tantos justos em tribulação, os próprios pagãos, guiados pela luz da razão, reconheceram que a terra não é nossa pátria, mas somente um lugar de passagem e de merecimento. Quão insensatos, pois, somos, se, sendo cristãos e crendo as verdades da fé, nos afeiçoamos aos bens deste mundo, do qual teremos de sair um dia e, entretanto, nos descuidamos de construir com as boas obras uma morada no outro mundo, onde ficaremos por toda a eternidade!

I. Vendo que nesta terra tantos ímpios vivem em prosperidade, e tantos justos, ao contrário, em tribulação, os próprios pagãos, iluminados unicamente pela luz natural, reconheceram esta verdade que, dada a existência de Deus e sendo Deus justo, deve haver outra vida, onde os maus sejam castigados e os justos recebam o prêmio. Ora, o que os pagãos admitiram, seguindo unicamente a luz da razão, nós, os cristãos, reconhecemo-lo pela fé:

“Não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura.”

A terra não é nossa pátria, é apenas um lugar de passagem, por onde, em pouco tempo, nos devemos dirigir à morada da eternidade: Ibit homo in domum aeternitatis suae (1) — “O homem irá à casa de sua eternidade”.

Assim, meu irmão, a casa que habitas não é tua morada; é uma hospedaria, de onde bem cedo e quando menos o imaginares, terá de sair. Sabe que, chegada a hora de tua morte, teus amigos mais caros serão os primeiros a expulsar-te. E qual então será a tua morada? Uma cova será a casa de teu corpo até o dia do juízo; e tua alma irá à casa da eternidade, quer no céu, quer no inferno.

Daí o conselho de Santo Agostinho: Hospes es, transis et vides — “És hóspede; vais passando e vês” . Bem louco seria o viajante que, achando-se de passagem num país, nele gastasse todo o seu patrimônio na compra de uma quinta ou casa, que dentro de breves dias teria de abandonar. Lembra-te, portanto, diz o Santo, que não és neste mundo senão um passageiro; não te afeiçoes ao que vês. Vê e passa; procura uma boa casa na qual terá de morar para sempre. — Se te salvares, feliz de ti! Que bela habitação não é o paraíso! Os mais belos palácios dos monarcas não passam de currais em comparação da cidade celeste, única que se possa chamar toda bela: Urbs perfecti decoris (2) — “Cidade de beleza perfeita” . Pelo contrário, ai de ti se te condenares! Estarias abismado num mar de fogo e de tormentos, desesperado, abandonado de todos e sem Deus. E por quanto tempo? Por toda a eternidade!

II. Meu irmão, queres saber qual será tua habitação na eternidade? Será a que tu mesmo tiveres escolhido por meio de tuas obras. Aviva a tua fé, e se pelo passado mereceste o inferno, chora o tempo que perdeste e procura remi-lo, empregando o que te resta unicamente em servires a Deus e em O amares de todo o teu coração.

Se não houvesse outro motivo, pensa que cada instante podes embelezar a casa de tua eternidade e enriquecê-la de imensos tesouros. Portanto não deixes para fazer amanhã o que puderes fazer hoje, porque o dia de hoje estaria perdido para ti e não voltaria mais. Se te fizessem doação de tanta terra quanto pudesses percorrer num dia, ou de tanto dinheiro quanto pudesses contar no mesmo tempo, como não havias de te apressar? E agora, que a cada momento podes adquirir tesouros eternos, quererás perder o tempo?

Ó meu Senhor, aí está a morada que mereci pelo meu procedimento: o inferno. Bendita seja para sempre a vossa misericórdia, que esperou por mim e me dá tempo para reparar as faltas. Bendito seja o sangue de Jesus Cristo que me alcançou esta misericórdia! Não, meu Deus, não quero mais abusar de vossa paciência. Pesa-me sobre todos os males de Vos ter ofendido, menos por ter merecido o inferno do que por ter ultrajado a vossa bondade infinita.

Se eu estivesse agora no inferno, ó meu soberano Bem, nem eu poderia amar-Vos, nem Vós me poderias amar. Amo-Vos e quero ser por Vós amado. Eu não o mereço, mas merece-O Jesus Cristo, que na cruz se Vos ofereceu em sacrifício, afim de que me pudésseis perdoar e amar. Pai Eterno, pelo amor de vosso Filho, concedei-me a graça de sempre Vos amar e de Vos amar muito. Amo-Vos, ó Filho de Deus, que morrestes por mim. — Amo-vos, ó Mãe de Deus, que pela vossa intercessão me obtivestes o tempo de fazer penitência. Alcançai-me ainda, ó minha Senhora, a dor de meus pecados, o amor de Deus e a santa perseverança.

Referências:

(1) Ecle 12, 5 (2) Lm 2, 15

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 157-159)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.

S. Alfonso Maria De Liguori Evangelizare Pauperibus Misit Me

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