Terça-feira da Vigésima Primeira Semana depois de Pentecostes

Da Misericórdia de Deus

Misericordia domini plena est terra – “Da misericórdia do Senhor é cheia a terra” (Sl 32, 5)

Sumário. A bondade é por sua natureza inclinada a comunicar seus bens a outros. Por isso é que Deus, a bondade essencial, tem um extremo desejo de comunicar a sua felicidade, e a sua natureza não o inclina a punir, mas a usar de misericórdia. Esta o fez descer do céu à terra, levar uma vida penosa e, afinal, morrer por nós sobre uma cruz. Não pensemos, pois, que Jesus Cristo nos faça esperar o perdão muito tempo, depois do pecado; contanto que estejamos resolvidos a não o tornarmos a ofender.

I. A bondade é essencialmente comunicativa, isto é, tende a comunicar seus bens também a outros. Ora, Deus, que de natureza é a bondade infinita, tem um desejo extremo de nos comunicar a sua felicidade. Por isso, não deseja castigar, mas usar de misericórdia para com todos. O castigar, diz Isaías, é uma obra alheia da natureza de Deus, e se manda algum castigo, fá-lo, por assim dizer, contra sua vontade, e como que coagido pela impiedade: Irascetur, ut faciat opus suum, alienum opus eius, ut operetur opus suum; peregrinum est opus eius ab eo (1).

E Davi dizia:

“Ó Deus, desamparaste-nos, e destruíste-nos: tu te iraste, e tiveste piedade de nós. Mostraste ao teu povo coisas duras; deste-nos a beber o vinho de compunção. Deste aos que te temem um sinal, para que fugissem da face do arco.” (2)

Como se dissesse: O Senhor se mostrou irado, para que venhamos à resipiscência e detestemos os pecados. Se nos manda algum castigo, é porque nos ama, e, usando de misericórdia na vida presente, nos quer livrar do castigo eterno. — Numa palavra, o Senhor constitui a sua glória em usar de misericórdia e em perdoar aos pecadores: Exaltabitur parcens vobis (3), pois, como diz a Santa Igreja, desta maneira Deus se compraz em manifestar a sua onipotência: Omnipotentiam tuam parcendo maxime et miserando manifestas (4).

Foi esta grande misericórdia que o levou a enviar à terra seu próprio Filho, para se fazer homem, levar trinta e três anos uma vida penosa e finalmente morrer sobre uma cruz, afim de nos livrar da morte eterna: Proprio Filio suo non pepercit, sed pro nobis omnibus tradidit illum (5) — “Não poupou a seu Filho, mas entregou-O por todos nós” .

— Pela mesma razão cantou São Zacharias:

“Pelas entranhas de misericórdia do nosso Deus, com que nos visitou o Sol nascente do alto.” (6)

Por estas palavras, entranhas de misericórdia, entende-se uma misericórdia que procede do íntimo do coração de Deus, porquanto preferiu ver morto seu Filho feito homem a ver-nos perdidos.

II. Não penses, meu irmão, que Deus te fará esperar muito tempo pelo perdão. Apenas desejes o perdão, já Ele estará pronto a dar-to. Não é preciso chorar muito; logo à primeira lágrima derramada pela dor de teus pecados, Deus terá misericórdia de ti: Ad vocem clamores tui, statim ut audierit, respondebit tibi (7) — “Logo que ouvir a voz de teu clamor, te responderá” . O Senhor não age para conosco como nós agimos para com Ele: Deus nos convida e nós nos fazemos de surdos. Não assim Deus: statim ut audierit — logo que nos ouvir dizer: Perdão, meu Deus —, responder-nos-á e concederá o perdão.

Meu amado Redentor, prostrado aos vossos pés, agradeço-Vos não me haverdes abandonado depois de tantos pecados. Quantos dos que Vos ofenderam menos que eu não terão as luzes com que agora me iluminais! Vejo que me quereis salvo e eu quero salvar-me principalmente para Vos agradar. Quero ir ao céu para cantar eternamente as misericórdias que tendes tido comigo. Tenho confiança que já me perdoastes; mas, se por ventura ainda estivesse em vossa desgraça, por não ter sabido arrepender-me devidamente das ofensas que Vos fiz, agora me arrependo de toda a minha alma e detesto-as sobre todos os outros males. † Meus Jesus, misericórdia!

Perdoai-me, por piedade, e aumentai cada vez mais em mim a dor de Vos ter ofendido, meu Deus, que sois tão bom. Dai-me dor, dai-me amor. Amo-Vos, † Jesus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as coisas ; mas amo-Vos muito pouco. Quero amar-Vos muito; e este amor eu Vô-lo peço e de Vós espero. Atendei-me, meu Jesus; prometestes atender a quem Vos roga. — Ó Mãe de Deus, Maria, todos me dizem que não deixais sem consolo o que a vós se recomenda. Ó vós, que depois de Jesus sois minha esperança, a vós recorro e em vós confio; recomendai-me a vosso Filho e salvai-me.

Referências:

(1) Is 28, 21 (2) Sl 59, 3-6 (3) Is 30, 18 (4) Miss. Rom. (5) Rm 8, 32 (6) Lc 1, 78 (7) Is 30, 19

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 176-178)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.

S. Alfonso Maria De Liguori Evangelizare Pauperibus Misit Me

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