Domingo da Terceira Semana que sobrou depois da Epifania

Virtudes praticadas pelo leproso e pelo centurião

Amen dico vobis: non inveni tantam fidem in Israel – “Em verdade vos digo: não achei tamanha fé em Israel” (Mt 8, 10)

Sumário. O leproso e o centurião, desejosos, um de obter a própria cura, outro a de seu servo, recorrem a Jesus Cristo com fé viva, com abandono perfeito a Deus e com humildade profunda; e por isso foram atendidos. Se nós também quisermos obter as graças desejadas, imitemos tão belos exemplos, cada vez que tratarmos com Deus na oração e particularmente quando recebermos a santa comunhão.

I. Refere São Mateus que, “havendo Jesus descido do monte, grande multidão de povo o seguiu. E eis que vindo um leproso a ele, o adorava, dizendo: Se tu quiseres, Senhor, poderás curar-me. E Jesus, estendendo a mão, tocou-o, dizendo: Quero. Sara. E logo sarou a sua lepra”…

“Tendo o Redentor entrado em Cafarnaum, chegou-se a ele um centurião, fazendo-lhe esta súplica e dizendo: Senhor, um servo meu está caído em casa paralítico, e sofre muito. E Jesus lhe disse: Eu irei, e o curarei. Mas o centurião respondeu: Senhor, eu não sou digno de que em minha casa; mas dize só uma palavra, e o meu servo ficará são. Pois também eu sou homem sujeito a outro, que tenho soldados às minhas ordens, e digo a um: Vai e acolá, e ele vai; e a outro: Vem cá, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz”.

“Jesus, ouvindo-o assim falar, admirou-se e disse para os que o seguiam: Em verdade vos digo que não achei tamanha fé em Israel. Digo-vos, porém, que muitos hão de vir do Oriente e do Ocidente, que se assentarão com Abraão, Isaac e Jacó no reino dos céus, e os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; aí haverá choro e ranger de dentes. – Então disse Jesus ao centurião: Vai, e te seja feito assim como creste. E naquela mesma hora o servo ficou são: Et sanatus est puer in illa hora .” (2)

Paremos aqui para considerar a grande fé daqueles dois homens; comparemo-la à nossa e envergonhemo-nos, porque, embora pertençamos, na qualidade de cristãos, ao povo escolhido de Deus (e mais ainda se somos padres e religiosos), talvez lhes sejamos inferiores na fé.

II. Além da , o leproso do Evangelho ensina-nos a virtude de abandono completo a Deus . Pois, tratando-se de uma coisa temporal, não a pede absolutamente, mas de conformidade com a vontade divina, dizendo:

“Senhor, se tu queres, podes curar-me”.

– O centurião, por sua vez, nos dá ainda um belo exemplo de humildade profunda , porquanto, cheio de respeito para com a majestade de Jesus Cristo, se reconhece indigno de hospedar a seu Deus, e não quer que Jesus vá pessoalmente à sua casa para curar a paralisia de seu criado.

Esforcemo-nos por possuir um abandono tão perfeito e uma humildade tão profunda, cada vez que tivermos de tratar com Deus na oração, e especialmente quando formos receber o santíssimo sacramento da Eucaristia. – Parece que é esta exatamente a intenção da Igreja quando, na hora da comunhão, nos põe na boca estas belas palavras: Domine, non sum dignus, ut intres sub tectum meum – “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha alma”.

Ah, meu Jesus amabilíssimo, com quanto mais razão do que o humilde centurião reconheço-me indigno de vossos favores, em particular, de Vos hospedar no meu peito pela santa comunhão! A minha alma está toda coberta da lepra repugnante, de muitas faltas e imperfeições. Mais ainda. Qual paralítico, estou prostrado inerte em minha negligência, e não cuido em levantar-me da letargia de minha tibieza. Mas, se Vós quiserdes, ó Senhor, podeis curar-me; podeis mesmo fazer de mim um grande santo. “Deus onipotente e eterno, olhai propício para a minha fraqueza, e, em meu favor, estendei a mão poderosa de vossa majestade” (2); afim de que, tendo-Vos amado cá na terra com todas as minhas forças, possa ir cantar no céu as vossas misericórdias. Fazei-o pelo amor de Maria Santíssima.

Referências:

¹ Entre a Epifania e o domingo da Septuagésima há no mínimo dois ou no máximo seis domingos com as respectivas semanas; igualmente entre o Pentecostes e o Advento o número de domingos varia entre 23 e 28. Os domingos que sobraram depois da Epifania terão, pois, o seu lugar entre o 23º e o último domingo depois de Pentecostes, conforme o número das semanas que ainda devem decorrer até o primeiro domingo do Advento. Consulte-se ao respeito alguma folhinha eclesiástica ou almanaque religioso.

(1) Mt 8, 1-3 (2) Or. Dom. curr.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 243-245)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.