Segunda-feira da Terceira Semana que sobrou depois da Epifania

Misericórdia de Deus em acolher os pecadores arrependidos

Non avertet faciem suam a vobis, si reversi fueritis ad eum – “Não apartará (Deus) de vós o seu rosto, se vós voltardes para Ele” (2 Cr 30, 9)

Sumário. Quão grande seja a misericórdia de Deus para com os pecadores, e quão grande a ternura do amor com que acolhe o pecador arrependido, bem o revelam as parábolas da ovelha desgarrada e do filho pródigo. Se no passado nós também temos pelo pecado abandonado nosso bom Pai e Pastor, não tardemos em voltar para Ele, resolvidos a nunca mais d’Ele nos apartarmos, custe o que custar, certos de que nos tratará como se nunca jamais o tivéssemos ofendido.

I. Os príncipes da terra não se dignam nem sequer de olhar para os súditos rebeldes que lhes veem pedir perdão; mas não é assim que Deus procede para conosco: Não apartará de vós o seu rosto, se vós voltardes para Ele. Deus não sabe desviar a sua divina face daquele que lhe cai arrependido aos pés. Não; pois que ele mesmo o convida com a promessa de o receber logo que venha. “Voltai para mim”, diz o Senhor, “e Eu vos receberei” (1); “convertei-vos a mim, e Eu me converterei a vós” (2).

Com que amor e ternura abraça Jesus Cristo o pecador que volta para Ele! É isso exatamente o que nos quis dar a entender pela parábola da ovelha desgarrada, que o pastor, achando-a, põe-na aos ombros e convida os amigos a que tomem parte no seu regozijo: Congratulamini mihi, quia inveni ovem meam, quae perierat — “Congratulai-vos comigo porque achei a ovelha que estava perdida” . E conclui com estas palavras: “Haverá mais júbilo no céu por um pecador que fizer penitência, do que sobre noventa e novo justo a quem não é necessária a penitência.” (3). E São Gregório dá a razão disso; porque os pecadores arrependidos são em geral mais fervorosos que os próprios justos.

O Redentor demonstra ainda mais a sua misericórdia em acolher o pecador arrependido, na parábola do filho pródigo; onde declara que Ele próprio é esse bom pai que, ao ver voltar o filho perdido, lhe vai ao encontro, e sem lhe dar tempo de falar, o abraça, o beija, e ao abraçá-lo fica quase fora de si, tão viva é a consolação que sente: Accurrens cecidit super collum eius, et osculatus est eum (4). — Numa palavra, pelo excesso de sua misericórdia Deus chega a dizer que, quando o pecador se arrepende, quer mesmo esquecer-se dos pecados, como se o pecador nunca o tivesse ofendido (5). Vai mais longe ainda e diz: Venite et arguite me; si fuerint peccata vestra ut coccinum, quasi nix dealbabuntur (6) — “Vinde e argui-me; se os vossos pecados forem como o escarlate, eles se tornarão brancos como a neve” . Como se dissesse: Vinde, pecadores, e se vos não perdoar, repreendei-me e acusai-me de infidelidade. Ó excesso de bondade! Ó misericórdia infinita!

II. O Senhor gloria-se de usar de misericórdia e de perdoar aos pecadores: Exaltabitur parcens vobis (7) — “Ele será exaltado perdoando-vos” . E quanto tempo demora Deus antes de perdoar? Perdoa logo. Ó pecador, diz o profeta, não é preciso chorares muito; à primeira lágrima o Senhor terá piedade de ti: Ad vocem clarmoris tui, statim ut audierit, respondebit tibi (8). Deus não faz conosco como nós fazemos com Ele. Deus nos chama e nós nos fazemos de surdos. Deus não faz assim; no mesmo instante que te arrependes e lhe pedes perdão, Ele responde e te perdoa: Statim ut audierit, respondebit tibi .

A quem é que fiz guerra, meu Deus? A Vós, que sois tão bom, que me criastes, que morrestes por mim e me tendes suportado com tamanha clemência depois de tantas infidelidades! Só a consideração da paciência que tivestes comigo deveria fazer-me viver todo abrasado em vosso amor. Depois de tantas ofensas, quem me teria aturado tanto tempo como vós me aturastes? Ai de mim, se de hoje por diante eu Vos tornasse a ofender e me condenasse! A lembrança das vossas misericórdias, ó meu Deus, seria para mim um inferno mais cruel que o próprio inferno.

Não, meu Redentor, não permitais que Vos volte de novo as costas; deixai-me antes morrer. Vejo que a vossa misericórdia não me pode aturar mais tempo. Pesa-me, ó meu soberano Bem, de Vos ter ofendido. Amo-Vos de todo o meu coração e resolvido estou a consagrar-Vos todo o resto da minha vida. Ó Pai Eterno, atendei-me pelos merecimentos de Jesus Cristo; dai-me a santa perseverança e o vosso santo amor. Ouvi-me, meu Jesus, pelo sangue que derramastes por mim: Te ergo, quaesumus, tuis famulis subveni, quos pretioso sanguine redemisti — “Nós Vos suplicamos, socorrei a vossos servos, que resgatastes pelo vosso precioso sangue. — Ó Maria, minha Mãe, deitai sobre mim o vosso olhar piedoso e atraí-me todo para Deus.

Referências:

(1) Jr 3, 1 (2) Zc 1, 3 (3) Lc 15, 7 (4) Lc 15, 20 (5) Ez 18, 22 (6) Is 1, 18 (7) Is 30, 18 (8) Is 30, 19

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 245-248)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.