Quinta-feira da Terceira Semana que sobrou depois da Epifania

Excelência da Santíssima Eucaristia

Quid est bonum eius et quid pulchrum eius, nisi frumentum electorum et vinum germinans virgines – “Qual é o bem dele e qual é a sua formosura senão o pão dos escolhidos e o vinho que gera virgens?” (Zc 9, 17)

Sumário. O mais digno e excelente entre todos os sacramentos é o Santíssimo Sacramento do Altar, porque os demais sacramentos contém os dons de Deus, mas este contém o próprio Deus. Por isso não há outro meio mais eficaz para conduzir uma alma à perfeição do que a santa comunhão, que a une a Jesus Cristo e a faz uma só coisa com Ele. Dize-me, meu irmão, que é que o Senhor podia fazer mais a fim de se fazer amar de nós? Todavia não somente O temos amado pouco até hoje, mas ainda Lhe temos sido ingratos.

I. O mais nobre e excelente entre todos os sacramentos é o Santíssimo Sacramento do Altar. Os demais sacramentos contém os dons de Deus, mas o sacramento da Eucaristia contém o próprio Deus. Afirma o Doutor Angélico, que os outros sacramentos foram instituídos por Jesus Cristo a fim de preparar o homem para a recepção ou administração da Santíssima Eucaristia, a qual, na frase do Santo, é a consumação da vida espiritual, porquanto deste Sacramento deriva toda a perfeição de nossas almas.

Segundo o ensino dos mestres espirituais, toda a perfeição de uma alma consiste na união com Deus; pois bem, não há melhor meio para nos unir mais com Deus, do que a santa comunhão, pela qual a alma se forma uma só coisa com Jesus Cristo, como ele mesmo disse: Qui manducat meam carnem… in me manet, et ego in eo (1) – “O que come a minha carne, fica em mim e eu nele” . É belíssima a comparação que a este respeito faz São Cirilo de Alexandria. Diz ele que na santa comunhão o Senhor se une à nossa alma assim como se unem dois pedaços de cera derretida. — Foi exatamente para este fim que nosso Salvador instituiu o Santíssimo Sacramento em forma de alimento; para nos dar a entender que, assim como o alimento se transforma em nosso sangue, assim este pão celeste se torna uma coisa conosco.

Há, porém, esta diferença entre o alimento terrestre e a Santíssima Eucaristia: aquele se transforma em nossa substância, ao passo que na recepção desta, nós somos transformados na natureza de Jesus Cristo, segundo esta palavra que o abade Ruperto lhe põe na boca: Tomai-me por vosso alimento e sereis pela minha graça o que Eu sou por natureza. O Senhor deu a entender isso também a Santo Agostinho, quando lhe disse: Non ego in te, sed tu mutaberis in me — “Não sou eu que serei transformado em ti, mas tu serás transformado em mim” . — Ó prodígio de amor! O Deus tão poderoso, que tem o céu por seu trono, a terra por escabelo, os exércitos dos anjos por ministros, as estrelas por coroa, esse Deus tão grande, tão imenso, que nem os céus podem conter em seus vastos espaços, esse Deus se tornou nosso sustento para nos fazer participar de sua natureza divina!

II. Quid est quod debui ultra facere vineae meae, et non feci? (2) — “Que coisa há que eu devesse ainda fazer à minha vinha, que não lhe tenha feito?” . Ó minha alma, ouve o que te diz teu Deus: Que devia Eu fazer por ti e não o tenho feito: por teu amor Eu me fiz homem; de Senhor me fiz escravo; humilhei-me até nascer numa gruta, como um verme; cheguei mesmo a morrer por ti, e a morrer sobre um madeiro infame. Parecia, pois, que Eu não podia ir mais longe; mas por teu amor ainda excogitei e efetuei mais. Depois da minha morte, Eu me quis deixar ficar contigo no Santíssimo Sacramento. Dize-me, que é que devia fazer mais para cativar o teu amor? Quid est quod debui ultra facere?

Ó meu Senhor e meu Redentor, tendes razão: que Vos poderei responder? Não sei que dizer. Foi excessiva a vossa bondade para comigo, excessiva foi a minha ingratidão para convosco. Cheio de admiração pela vossa imensa bondade, e envergonhado à vista de minha ingratidão, me prostro a vossos pés e Vos digo: Meu Jesus, compadecei-Vos de mim, que paguei o vosso amor com tamanha ingratidão. Tomai vingança, assim Vos digo, tomai vingança de mim e castigai-me; mas não me castigueis desamparando-me; castigai-me e mudai-me. — Ó Senhor, que podeis esperar de mim, se Vós mesmo não o fizerdes? Nada posso fazer, senão dar-Vos o meu pobre coração, a fim de que façais dele o que for de vossa vontade. Eis que Vô-lo dou todo inteiro, Vô-lo consagro, Vô-lo sacrifico. Possui-o para sempre; não o quero mais. Se o quiserdes amar, achareis também o meio para o guardar. Peço-Vos que não o deixeis mais em minhas mãos; aliás tornarei a Vô-lo roubar.

Ó Deus amabilíssimo, ó amor infinito, já que me obrigastes tanto a amar-Vos, peço-Vos: fazei com que eu Vos ame, fazei com que eu Vos ame. Vós, que tão grande milagre fizestes neste Sacramento para entrardes em meu coração, fazei mais este: fazei que eu seja todo vosso, mas todo, todo, todo, sem partilha, sem reserva, de sorte que eu possa dizer nesta vida e na eternidade, que Vós sois o único Senhor de meu coração e a minha única riqueza: Deus cordis mei et pars mea, Deus in aeternum (3). — Ó Maria Santíssima, mãe e esperança minha, ajudai-me e serei certamente atendido.

Referências:

(1) Jo 6, 57 (2) Is 5, 4 (3) Sl 72, 26

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 253-256)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.