Quinta-feira da Quarta Semana que sobrou depois da Epifania

Jesus, no Santíssimo Sacramento, espera-nos com extrema misericórdia

Iesus ergo fatigatus ex itinere, sedebat sic supra fontem – “Jesus, pois, fatigado do caminho, estava assim assentado sobre o poço” (Jo 4, 6)

Sumário. Assim como um dia o Senhor, todo bondade e amor, estava sentado à borda de um poço, esperando a Samaritana para a converter, assim agora, descido do céu sobre os nossos altares, que são outras tantas fontes de graças, permanece conosco, esperando as almas e convidando-as a lhe fazerem companhia. Animemo-nos, pois, a recorrer sempre a este divino Sacramento, abramos-lhe o coração, cheios de confiança, e peçamos-lhe tudo de que precisamos. Ao mesmo tempo entreguemo-nos com abandono filial à sua providência, certos de que disporá tudo para nosso bem.

I. Oh, que belo espetáculo foi ver o nosso doce Redentor naquele dia em que, fatigado do caminho, se sentara, todo bondade e amor, à borda de um poço, esperando a Samaritana para a converter e salvar! Jesus estava assim sentado sobre o poço. Pois, com igual doçura o mesmo Jesus se conserva, dia a dia, no meio de nós, descido do céu sobre os nossos altares, como outras tantas fontes de graças, esperando as almas e convidando-as a Lhe fazerem companhia, ao menos por alguns instantes, a fim de as atrair ao seu perfeito amor.

Parece que de todos os altares, onde está Jesus sacramentado, fala assim a todos: “Filhos de Adão, porque fugis da minha presença? Porque não vindes a mim e não vos aproximais de mim, que tanto vos amo, e para vosso bem aqui estou no abatimento em que me vedes? Que temeis? Não é ainda como juiz que eu agora estou na terra; neste sacramento de amor me ocultei unicamente para encher de graças e salvar a quem quer que a mim recorra: Non veni, ut iudicem mundum, sed ut salvificem mundum (1) — Não vim a julgar o mundo, mas a salvá-lo.”

Compreendamos bem: assim como Jesus esta no céu sempre vivo para interceder em nosso favor (2) — “ semper vivens ad interpellandum pro nobis ” — assim no Sacramento do altar se ocupa continuamente, dia e noite, em exercer em nosso favor o caridoso ofício de advogado e se oferecer a si mesmo como vítima ao Pai Eterno, para obter d’Ele misericórdia e graças sem número. — E já que nós temos a dita especial de morar em seu palácio, procuremos ficar o mais possível na sua presença, considerando-O no santo tabernáculo com as mãos cheias de todos os bens. Seja-nos tudo uma ocasião para renovarmos a nossa visita, fazendo como o Padre Salésio da Companhia de Jesus. Se o chamavam à portaria, se voltava à sua cela, se ia de um para outro lugar na casa, aproveitava sempre estas ocasiões para renovar as suas visitas ao seu amadíssimo Senhor. Esta devoção lhe mereceu a felicidade de ser assassinado pelos hereges, quando defendia o dogma do Santíssimo Sacramento.

II. Quando nos aproximamos de Jesus na Eucaristia, não nos devemos perturbar (como diz o piedoso Tomás de Kempis) pelo temor dos castigos; devemos, ao contrário, expor-Lhe as nossas necessidades, as nossas misérias, como um amigo o faria a seu amigo: sicut solet loqui dilectus ad dilectum, amicus ad amicum.

Pois que é assim, permiti, ó meu Rei e Senhor aqui oculto, permiti que Vos abra o meu coração cheio de confiança e Vos diga:

Meu Jesus, terno amigo das almas, compreendo a injúria que Vos fazem os homens. Vós os amais, e eles não Vos amam; Vós lhes fazeis bem, e eles Vos desprezam; Vós quereis que eles Vos ouçam, e eles não Vos escutam; Vós lhes ofereceis graças, e eles as rejeitam. Ah, meu Jesus, é verdade que noutro tempo me uni a estes ingratos para Vos ofender assim. Ó Deus, assim é infelizmente. Mas quero-me corrigir; quero reparar, durante o resto de minha vida, os desgostos que Vos dei, fazendo quanto posso para Vos agradar e satisfazer.

Entrego-me todo inteiro à vossa amável providência, certo de que disporeis tudo para meu bem. Dizei, Senhor, o que de mim quereis, quero fazer a vossa vontade sem restrição: dai-me conhecê-la por meio da santa obediência, e espero executá-la. Meu Deus, sinceramente Vos prometo que não omitirei nada do que souber que mais Vos deve agradar, ainda que seja necessário perder tudo, parentes, amigos, honra, saúde, até a própria vida.

Perca-se tudo, contanto que fiqueis satisfeito. Feliz perda, quando se perde e se sacrifica tudo para contentar o vosso Coração, ó Deus de minha alma! Amo-Vos, ó Bem supremo, mais amável que todos os outros bens; e, amando-Vos, uno o meu pobre coração aos corações com que Vos amam os Serafins, uno-o ao Coração de Maria. Amo-Vos com toda a minha alma, e só a Vós quero amar, e para sempre só a Vós quero amar. † Louvado e agradecido seja a cada momento o santíssimo e diviníssimo Sacramento (3).

Referências:

(1) Jo 12, 47 (2) Hb 7, 25 (3) Indulg. de 100 dias uma vez por dia e três vezes nas Quintas-feiras e na oitava do Corpo de Deus.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 267-269)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.