Quarta-feira da Quinta Semana que sobrou depois da Epifania

Desespero dos réprobos no Inferno

Mortuo homine impio, nulla erit ultra spes – “Morto o homem ímpio, não restará mais esperança alguma” (Pv 11, 7)

Sumário. Enquanto o pecador vive, há sempre esperança de conversão; mas quando a morte o arrebatou no estado de pecado, não lhe resta mais esperança alguma e verá sempre diante dos olhos a sentença de sua eterna condenação. Sim, porque o inferno tem uma porta de entrada, mas não de saída. O que o réprobo começa a sofrer no primeiro dia da sua entrada, terá de sofrê-lo sempre. Qual não seria, pois, o nosso desespero, se por desgraça nos viéssemos a condenar!… Ó Pai Eterno, pelo amor de Jesus Cristo, castigai-me como quiserdes, mas poupai-me na eternidade.

I. Quem entra uma vez no inferno, nunca mais dele sairá. Este pensamento fazia Davi exclamar tremendo:

“Ó Senhor, não me afogue a tempestade, nem me absorva o mar profundo, nem cerre o poço a sua boca sobre mim” (1)

Mal cai um réprobo neste poço de tormentos, logo se fecha a entrada e não se abre mais. O inferno tem uma porta de entrada, mas não de saída, diz Eusébio Emisseno: Descensus erit, ascensus non erit . Eis como ele explica as palavras do salmista: Não cerre o poço a sua boca sobre mim: Enquanto vivo, pode o pecador ter esperança de conversão, mas se a morte o surpreender no estado de pecado, perdê-la-á para sempre : Morto o homem ímpio, não restará mais esperança alguma.

Se os condenados pudessem ao menos embalar-se em alguma falsa esperança e assim achar algum alívio na sua desesperação! O homem enfermo mortalmente e estendido no leito, apesar de desenganado pelos médicos, ainda busca iludir-se e consolar-se dizendo:

“Quem sabe se ainda não se encontra um médico ou um remédio que me possa curar?”

Um criminoso condenado às galés perpétuas acha também uma consolação neste pensamento:

“Quem sabe se algum acontecimento não me tirará destas cadeias?”

Se o réprobo pudesse ao menos dizer igualmente:

“Quem sabe se um dia não sairei desta prisão?”

E assim iludir-se com alguma falsa esperança. Mas não: no inferno não há esperança, nem verdadeira nem falsa; não há o quem sabe.

Statuam contra faciem (2) — “Eu t´o porei diante de tua face” . O desgraçado réprobo terá incessantemente diante da vista a sentença que o condena a gemer eternamente nesse abismo de sofrimentos. O condenado não sofre somente a pena de cada instante, mas sofre a cada instante a pena da eternidade, vendo-se obrigado a dizer: O que sofro atualmente, sofrê-lo-ei sempre. Pondus aeternitatis sustinent , diz Tertuliano: os réprobos gemem sob o peso da eternidade.

II. Dirijamos ao Senhor a súplica que lhe fazia Santo Agostinho:

“Meu Deus, queimai e cortai aqui, não me poupeis, a fim de que possais perdoar-me na eternidade”

As penas da vida presente são passageiras: Sagittae tuae transeunte ; mas os castigos da outra vida nunca têm fim. Temamo-los, pois, temamos esse trovão: Vox tonitrui tui in rota (3); esse trovão da condenação eterna, que, no dia do juízo, sairá contra os réprobos da boca do divino Juiz: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno (4). Diz-se: in rota ; porque a roda é a imagem da eternidade, que não tem fim. Será grande o suplício do inferno, mas o que mais nos deve assustar é ser o castigo irrevogável.

Ó meu Redentor, se eu atualmente estivesse condenado, como mereci tantas vezes, não haveria para mim esperança de perdão. Ah, Senhor, agradeço-Vos o tempo e as luzes que ainda me concedeis e prometo mudar de vida. Como? Esperarei porventura que me mandeis ao inferno? Eis-me aqui prostrado aos vossos pés; recebei-me na vossa graça. Outrora fugia de Vós; mas agora estimo a vossa amizade mais do que a posse de todos os reinos da terra. Não quero mais resistir aos vossos convites. Vós me quereis todo para Vós; todo inteiro me consagro a Vós. Sobre a cruz Vos destes todo a mim, eu me dou todo a Vós.

Prometestes: Si quid petieritis me in nomine meo, hoc faciam (5) — “Se me pedirdes alguma coisa no meu nome, fá-lo-ei” . Ó meu Jesus, confiado na vossa bela promessa, no vosso nome e pelos vossos merecimentos peço-Vos a vossa graça e o vosso amor. Fazei que na minha alma reine a vossa graça e o vosso santo amor, assim como nela reinou o pecado. Graças Vos dou por me terdes animado a fazer-Vos este pedido; pois isto me afiança que serei atendido. Atendei-me, ó meu Jesus, e dai-me um grande amor para convosco, dai-me um grande desejo de Vos agradar e a força para o executar. — Ó minha poderosa Advogada, Maria, atendei-me também vós, e rogai a Jesus por mim.

Referências:

(1) Sl 68, 16 (2) Sl 49, 21 (3) Sl 76, 19 (4) Mt 25, 41 (5) Jo 14, 14

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 287-290)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.