Domingo da Sexta Semana que sobrou depois da Epifania

O grão de Mostarda e a Igreja Católica

Simile est regnum coelorum grano sinapis, quod accipiens homo seminavit in agro suo – “O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo” (Mt 13, 31)

Sumário. No Evangelho de hoje a Igreja Católica é comparada a um grão de mostarda; porque, posto que pequena na sua origem, em breve se dilatou de tal modo, que todas as nações se puseram debaixo da sua proteção. Já que temos a ventura de pertencer a esta Igreja, demos graças por isso a Deus. Se, porém, desejamos que a fé nos salve, meditemos frequentemente nas máximas salutares da fé e façamos por não sermos do número daqueles que, vivendo no pecado ou na tibieza, são membros mortos ou moribundos.

I. O divino Redentor compara o reino dos céus, isto é, a sua Igreja, a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. E com razão; pois, assim como a mostarda é a menor das sementes, assim a Igreja de Jesus Cristo foi na sua origem muito pequena e desprezível aos olhos dos homens.

— Pequena e desprezível em seu fundador; que, posto que fosse Deus, quis passar sua vida na obscuridade e nas humilhações e afinal morreu crucificado entre dois ladrões, pelo que dizia o Apóstolo que Jesus foi para os judeus escândalo e para os gentios loucura (1).

— Pequena também e desprezível em sua doutrina; porque quanto à fé impõe para crer dogmas superiores e, na aparência, contrários à razão humana; quanto às obras, ensina máximas bastante difíceis e humilhantes: manda-nos sofrer as injúrias, perdoar aos inimigos, renunciar a nós mesmos.

— Pequena finalmente e desprezível nos meios para se propagar; pois que para a sua dilatação foram escolhidos doze pobres pescadores, homens sem prestígio e sem instrução: Quae stulta sunt huius mundi elegit Deus (2) — “Deus escolheu o que é insensato segundo o mundo”.

Mas assim como o grão de mostarda, “ quando tem crescido, é a maior de todas as hortaliças e se faz árvore, de maneira que vêm as aves do céu e se aninham em seus ramos ”, assim também a Igreja de Jesus Cristo, pequena e desprezível na sua origem, com o auxílio de Deus cresceu em breve tempo de tal maneira, que uma multidão de pessoas, e entre estas reis, imperadores e sábios, a ela vieram abrigar-se, achando a verdadeira felicidade.

— Meu irmão, dá graças ao Senhor por teres nascido no grêmio desta Igreja; cuida, porém, que não sejas um membro morto ficando no estado de pecado, ou moribundo, vivendo em tibieza voluntária.

II. O grão de mostarda, como observa Santo Agostinho, tem virtude medicinal, pois que expele do corpo os humores nocivos e fortalece os estômagos fracos. Nesta propriedade os santos intérpretes veem uma figura, não só da Igreja em geral, mas também das verdades evangélicas, e especialmente daquelas máximas que apagam o ardor da concupiscência e nos confirmam no exercício do bem começado. Mas para experimentarmos efeito tão salutar, não nos devemos contentar com o conhecimento e a crença nestas santas máximas. À imitação do homem da parábola, devemos além disso semeá-las no campo do nosso coração, isto é, considerá-las muitas vezes antes de nossas ações, e por assim dizer, mastigá-las por uma meditação refletida; pois que também neste particular são semelhantes ao grão de mostarda, o qual, na palavra de Santo Ambrósio, é tanto mais cheiroso, quanto mais se esfrega: Quanto plus teritur, tanto plus redolet .

Ó meu Deus, que graças Vos poderei dar por me haverdes chamado com tanto amor a fazer parte da vossa família? Como podia merecer tão grande graça apesar da previsão de tantas injúrias que Vos havia de fazer?! E eu tenho a ventura de estar no seio da vossa Igreja (de ser admitido a viver na vossa casa), na companhia de tantos servos vossos, com os mais abundantes meios para a minha santificação.

Meu Senhor, espero agradecer-Vos melhor no céu, e ali cantar eternamente as vossas misericórdias para comigo. Entretanto sou vosso, e vosso quero ser sempre; já me dei todo a Vós, agora renovo a minha consagração. Quero ser-Vos fiel; não Vos quero mais ofender, custe o que custar; quero, numa palavra, ser católico (eclesiástico, religioso), não só pelo nome, mas pelo fato. — Vós, porém, ó Deus todo-poderoso, ajudai-me com a vossa graça. “Fazei que esteja sempre ocupado em meditar as vossas santas máximas, e que as minhas palavras e obras sejam sempre conformes ao vosso divino beneplácito.” (3)

† Doce coração de Maria, sede minha salvação.

Referências:

(1) 1 Cor 1, 23 (2) 1 Cor 1, 27 (3) Or. Dom. curr.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 292-300)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.