Terça-feira da Vigésima quinta e última semana depois de Pentecostes

Na morte tudo acaba

Dies mei breviabuntur; et solum mihi superest sepulchrum – “Os meus dias se abreviam, e só me resta o sepulcro” (Jó 17, 1)

Sumário. A felicidade da vida presente é comparada por Davi ao sono de um homem que desperta; porque os bens deste mundo parecem grandes, mas em realidade nada são e duram pouco, como pouco dura o sono e logo se evapora. Já que nos temos que separar um dia desses bens, desprendamo-nos de tudo aquilo que nos afasta ou nos pode afastar de Deus, e não deixemos para amanhã o bem que podemos fazer hoje. Por terem procrastinado o bem, quantos se acham agora no purgatório e quiçá no inferno!

I. Davi chama à felicidade da vida presente sonho de um homem que desperta: Velut somnium surgentium (1); porque os bens deste mundo parecem grandes, mas em realidade nada são e duram pouco, assim como pouco dura o sonho e logo se evapora. Este pensamento determinou São Francisco de Borja a dar-se inteiramente a Deus.

O Santo foi encarregado de acompanhar à Granada o corpo da imperatriz Isabel. Quando abriram o caixão, o aspecto horrível e o mau cheiro do cadáver afugentaram toda a gente. Mas Francisco, guiado pela luz divina, deteve-se a contemplar naquele cadáver a vaidade do mundo e exclamou fitando-o:

“Sois vós então a minha imperatriz? Sois vós aquela diante de quem se prostravam respeitosos tão notáveis personagens? Ó Isabel, minha senhora, que é feito da vossa majestade, da vossa beleza?”… “É, pois, assim”, concluiu consigo, “que terminam as grandezas e coroas da terra! Quero para o futuro servir um senhor que me não possa ser roubado pela morte.”

Desde então consagrou-se inteiramente ao amor de Jesus crucificado, fazendo voto de abraçar o estado religioso, o que depois executou entrando na Companhia de Jesus.

Tinha, portanto, razão certo homem desiludido quando escreveu estas palavras sobre um crânio: Cogitanti vilescunt omnia — “Tudo se afigura desprezível àquele que reflete” . Quem pensa na morte, não pode amar a terra. Mas porque é que há tantos desgraçados que amam este mundo? Porque não pensam na morte. — Filii hominum, usquequo gravi corde (2) — Pobres filhos de Adão, diz o Espírito Santo, porque não arrancais do coração tantas afeições terrenas que vos fazem amar a vaidade e a mentira? O que aconteceu a vossos pais, acontecer-vos-á também. Habitaram eles essa mesma morada, dormiram nesse mesmo leito, e agora não estão mais aí. O mesmo vos acontecerá igualmente.

II. Meu irmão, cuida em dar-te sem demora todo inteiro a Deus, antes que a morte chegue, não deixes para amanhã o que podes fazer hoje, porque o dia presente passa e não volta mais, e amanhã pode vir a morte que nada mais te deixará fazer. Por causa dessas procrastinações, quantos estão agora no purgatório, e quiçá no inferno? Liberta-te quanto antes do que te afasta ou te pode afastar de Deus. Abandonemos pelo afeto os bens terrestres, antes que a morte no-los venha arrancar à força. — Beati mortui qui in Domino moriuntur (3). Felizes aqueles que, ao morrer, se acham já mortos para as afeições do mundo! Longe de recearem a morte, desejam-na e abraçam-na com alegria, pois, em lugar de os separar dos bens que amam, une-os ao soberano Bem, que é o único objeto do seu amor e que os tornará eternamente felizes.

Meu amado Redentor, agradeço-Vos o terdes esperado por mim. Que seria de mim, se me tivésseis deixado morrer quando estava longe de Vós? Seja sempre bendita a vossa misericórdia e a paciência que durante tantos anos me dispensastes. Agradeço-Vos a luz e a graça com que hoje me favoreceis. Então não Vos amava e pouco se me dava ser amado de Vós. Agora Vos amo de todo o coração, e não sinto maior pena do que a de haver desagradado tanto a um Deus tão bom.

Meu doce Salvador, porque não morri mil vezes antes de Vos ter ofendido! Tremo só ao pensar que no futuro Vos posso ofender ainda. Fazei-me morrer da morte mais cruel, antes que eu perca de novo a vossa graça. Fizestes-me tantas graças que não pedia, que já não receio me negueis a que Vos peço agora. Não permitais que Vos perca; dai-me o vosso amor e nada mais desejo. — Maria, minha esperança, intercedei por mim.

Referências:

(1) Sl 72, 20 (2) Sl 4, 3 (3) Ap 14, 13

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 322-324)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.