1ª Sexta-feira de Maio

O Coração de Jesus, Vítima Voluntária

Posuit Dominus in eo iniquitatem omnium nostrum — “Pôs o Senhor sobre ele a iniquidade de nós todos” (Is 53, 6)

Sumário. Jesus Cristo sabia que todos os sacrifícios dos animais, oferecidos a Deus no passado, não tinham podido satisfazer pelos pecados dos homens. Eis que então o Coração de Jesus, a inocência, a pureza, a santidade mesma, é carregado de todos os crimes; ei-lo tornado, por nosso amor, objeto das maldições divinas, por causa dos nossos pecados. Ó caridade incomparável, ó caridade infinita e divina do Coração de Jesus!

I. Assim como todas as águas vão lançar-se no mar, assim todas as aflições se reuniram no Coração de Jesus. Ele as aceitou com o mais sublime devotamento, impelido pelo seu amor para conosco, amor que chegou ao excesso: pois não é um excesso de amor da parte de Deus, ter querido se carregar de todas as iniquidades do mundo, a fim de sofrer o castigo delas? Jesus Cristo sabia que todos os sacrifícios dos animais, oferecidos a Deus no passado, não tinham podido satisfazer pelos pecados dos homens. Eis que então o Coração de Jesus, a inocência, a pureza, a santidade mesma, se ofereceu a seu Pai e é carregado de todas as blasfêmias, torpezas, sacrilégios, impurezas, numa palavra, de todos os crimes dos homens.

Eis, pois, o Coração de Jesus, tornado, pelo nosso amor, objeto das maldições divinas, por causa dos nossos pecados, pelos quais se obrigou a satisfazer à eterna justiça; ei-lo carregado de tantas maldições quantos pecados mortais foram, são e serão cometidos sobre a terra. Neste estado é que ele se apresenta a seu Pai, como culpado e responsável por todos os nossos crimes, e Deus, seu Pai, o condena por isso a padecer morte infame da cruz.

Ó caridade incomparável do Coração de Jesus! Ele, nosso Deus, fez-Se nosso fiador, obrigando-se a pagar as nossas dívidas, segundo a bela expressão do Apóstolo (1); e, depois de ter satisfeito por nós, promete-nos da parte de Deus a vida eterna. Também o Eclesiástico nos recomendou, há muitos séculos, nunca nos esquecermos do benefício que devemos a este celeste fiador: Gratiam fideiussoris ne obliviscaris; dedit enim pro te animam suam (2).

Ó caridade infinita do Coração de Jesus! Os médicos fazem todos os esforços para curarem o enfermo por quem se interessam. Mas qual é o médico que toma sobre si a enfermidade de outrem para o curar? Jesus Cristo é o único médico que tomou sobre si as nossas enfermidades para as curar. O Verbo divino não quis enviar outrem para fazer este misericordioso ofício: ele mesmo se dignou vir para ganhar todo o nosso amor.

II. Ó caridade verdadeiramente divina do Coração de Jesus! Ele não se contentou de oferecer à justiça divina uma satisfação suficiente, quis que ela fosse superabundante; digo superabundante, porque, para nos resgatar, uma simples súplica do Homem-Deus bastava; mas o que era suficiente para a Redenção, não satisfazia ao amor do Coração mais amante que tem havido e pode haver.

Ó caridade verdadeiramente inefável e inaudita do Coração de Jesus, Vós nos obrigais a pormos em Vós confiança sem limites, pois nada nos pode perturbar tanto, quanto Vós nos podeis sossegar. Ó Coração de Jesus, Vós sois o porto seguro daqueles que, na tempestade, recorrem a Vós! Ó Pastor vigilante, é errar, não esperar em Vós, uma vez que se tenha vontade séria de se corrigir. Vós dissestes: Eu sou o vosso advogado: a vossa causa é a minha. Eu sou a vossa caução: vim pagar as vossas dívidas. Sou o vosso Salvador: resgatei-vos com o meu sangue, não para vos abandonar, mas para vos enriquecer.

Meu Jesus, se Deus Vos carregou de todos os pecados dos homens, com que peso não aumentei pelos meus a cruz que levastes até o Calvário? Ah! Meu terno Salvador, Vós víeis já então as injúrias que eu Vos havia de fazer: apesar disto, não deixastes de amar-me e preparar-me estas grandes misericórdias de que me cumulastes depois. Se então Vos tenho sido tão caro, eu, o mais vil e ingrato dos pecadores, que tanto Vos ofendi, justo é que, a vosso turno, Vós me sejais caro, ó meu Deus, bondade e beleza infinitas.

Ah! Oxalá nunca Vos houvesse contristado! Agora, meu Jesus, vejo toda a indignidade do meu procedimento. Malditos pecados, enchestes de amargura o Coração tão terno e amante do meu Redentor! Perdoai-me, meu Jesus, arrependo-me de Vos ter ofendido: no futuro sereis o único objeto do meu amor. Ó amabilidade infinita, eu Vos amo de todo o meu coração, resolvido a não amar mais senão a Vós. Ó Maria, Mãe de Jesus, impetrai-me um ardente amor para com vosso Filho amabilíssimo.

Referências: (1) Hb 7, 22. (2) Eclo 29, 20.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até à Undécima semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 369-372)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.