25 de Julho

Jesus, modelo de Obediência

Humiliavit semetipsum, factus oboediens usque ad mortem — “Humilhou-se a si mesmo, feito obediente até a morte” (Fl 2, 8)

Sumário. A fim de nos ensinar a obediência, o Filho de Deus desce ao seio de uma virgem, sua criatura, e se faz servo não só de Maria e José, mas ainda de Pilatos, que o condena à morte, e dos algozes, que o açoitam, coroam de espinhos e crucificam. E, apesar de tal exemplo, quantos não há que, recusando obedecer a Jesus Cristo e aos seus representantes, se fazem escravos do demônio! Se, infelizmente, fomos tão loucos, reparemos depressa a nossa falta e roguemos ao Senhor que nos prenda nos seus doces laços.

I. Para a salvação dos homens desce à terra o Verbo Eterno. Donde é que desce? A summo coelo egressio eius (1). Desce do seio de seu Pai eterno, no qual foi gerado desde a eternidade, entre os resplendores dos santos. E aonde desce? Ao seio de uma Virgem, filha de Adão, que, em comparação com o seio de Deus, não é senão horror; pelo que a Igreja canta: Non horruisti Virginis uterum — “Não tivestes horror ao seio de uma Virgem”. E com razão; pois, no seio do Pai o Verbo é Deus como o Pai, é imenso, onipotente, perfeitamente feliz, Senhor supremo, em tudo igual ao Pai.

No seio de Maria é criatura, é pequeno, fraco, aflito, servo e inferior ao Pai: Formam servi accipiens — “Tomou a forma de servo”. Refere-se, como sendo um prodígio de humildade, que Aleixo, filho de um senhor romano, quis viver como servo na casa de seu pai. Mas que é a humildade deste santo em comparação à de Jesus Cristo? Entre o filho e o servo do pai de Santo Aleixo havia, sem dúvida, alguma diferença de condição; mas entre Deus e servo de Deus a distância é infinita. Demais, o Filho de Deus, sendo já servo de seu Pai, quis ainda, por obediência, fazer-se servo das suas criaturas, isto é, de Maria e José: Et erat subditus illis (2) — “E estava-lhes sujeito”.

Também Jesus se fez servo de Pilatos, que o condenou à morte, aceitando a condenação por obediência; fez-se servo dos algozes, que o açoitaram, o coroaram de espinhos e crucificaram. A todos obedeceu humildemente, entregando-se-lhes nas mãos. Ah! Depois disto recusaremos ainda obedecer aos representantes deste amável Senhor? Sujeitar-nos ao serviço de Jesus Cristo, que para nossa salvação se sujeitou a uma servidão tão dolorosa e humilhante?

A sermos servos deste tão grande e tão amável Senhor, preferiremos a escravidão do demônio, que não ama àqueles que o servem, mas os odeia e trata como um tirano, tornando-os infelizes e miseráveis nesta vida e na outra? Se porventura temos sido tão insensatos, por que não saímos depressa desta desgraçada escravidão?

II. Tenhamos ânimo! Já que pela graça de Jesus Cristo estamos livres da escravidão do inferno, abracemos e apertemos com amor as doces correntes que nos fazem servos e amigos de Jesus Cristo, e nos merecerão depois a coroa do Reino eterno entre os escolhidos do paraíso.

Amadíssimo Jesus meu, Vós sois o Rei do céu e da terra; mas por meu amor Vos fizestes servo até dos algozes, que Vos rasgaram as carnes, feriram a cabeça, e enfim cravaram de mãos e pés na cruz, para Vos fazerem morrer de dor. Adoro-Vos como meu Deus e meu Senhor, e envergonho-me de aparecer diante de Vós, quando penso por que miseráveis satisfações rompi tantas vezes os vossos santos laços, dizendo-Vos na face que não mais Vos queria servir. É com justiça que mo reprochais: Rupisti vincula mea, dixisti: non serviam — “Rompeste os meus laços, disseste: não servirei”.

O que ainda me faz esperar o vosso perdão, ó Salvador meu, são os vossos merecimentos e a vossa bondade, que não sabe desprezar um coração contrito e humilhado: Cor contritum et humiliatum, Deus, non despicies (4). Confesso, meu Jesus, que fiz mal em Vos desagradar; confesso que pelos meus pecados mereço mil infernos. Ah, castigai-me como quiserdes, mas não me priveis da vossa graça e do vosso amor. Pesa-me sumamente de Vos ter desprezado, e amo-Vos de toda a minha alma. Tomo a resolução de, no futuro, não servir e não amar senão a Vós. Pelos vossos méritos, ó Senhor, prendei-me a Vós pelas cadeias do vosso santo amor, e não permitais me suceda ainda sacudi-las.

Amo-Vos sobre todas as coisas, ó meu Libertador; antes quero ser vosso servo que possuir o universo: de que serve o mundo a quem é privado da vossa amizade? Ó meu dulcíssimo Jesus, não permitais que me separe de Vós; não permitais que me separe de Vós! E esta a graça que Vos peço e sempre quero pedir. Peço- Vos também a graça de renovar continuamente este pedido: Meu Jesus, não permitais que me separe do vosso amor. Também a vós imploro esta graça, ó Maria, minha Mãe; ajudai-me pela vossa intercessão a não me separar mais de Deus.

Referências: (1) Sl 18, 7. (2) Lc 2, 51. (3) Jr 2, 20. (4) Sl 50, 19.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até à Undécima semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 384-387)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.