Quinta-feira da Terceira Semana do Advento

Jesus atribulado durante toda a sua vida

Pauper sum ego, et in laboribus a iuventute mea – Eu sou pobre e vivo em trabalhos desde a minha mocidade (Sl 87, 16)

Sumário. Jamais alguém amou Deus e a própria alma como Jesus ama seu Pai e as nossas almas. Por isso é que Jesus, vendo desde o seio de Maria todos os pecados em particular e conhecendo tanto a injúria por eles feita ao Pai, como os males que deles deviam provir para as nossas almas, sofreu durante toda a sua vida, o martírio mais doloroso. Mas se Jesus se afligiu a tal ponto por pecados que não eram seus próprios, é mais do que justo que nós também nos aflijamos, que os havemos cometido.

I. Considera que todas as penas e ignomínias que Jesus sofreu em sua vida e na morte, Lhe eram presentes desde o primeiro instante da sua vida: Dolor meus in conspectu meo semper (1) — A minha dor está sempre diante de mim. Desde o berço Jesus começou a oferecer todas essas penas em satisfação por nossos pecados, principiando desde então a ser nosso Redentor. Ele mesmo revelou a um seu servidor, que desde o começo de sua vida até à morte sofreu, e sofreu tanto por qualquer um dos nossos pecados, que, se houvera tido tantas vidas quantos homens existem, teria morrido de dor igual número de vezes, se Deus não lhe tivesse conservado a vida para sofrer ainda mais. Oh! Que martírio padeceu incessantemente o Coração amante de Jesus pela vista de todos os pecados dos homens! Ad quamlibet culpam singularem habuit aspectum, diz São Bernardino (2) . Sim, desde que Jesus desceu ao seio de Maria, cada pecado em particular era-Lhe presente, e cada pecado afligia-O imensamente.

Diz Santo Tomás, que a dor causada a Jesus Cristo pelo conhecimento da injúria feita ao Pai e dos males que do pecado resultariam para as almas tão amadas, excedeu a dor de todos os pecadores contritos. — Com efeito, nunca um pecador amou Deus e a sua alma como Jesus ama seu Pai e as nossas almas. Daí é que o Redentor sofreu, desde o seio de sua Mãe, a agonia que depois padeceu no horto à vista de todas as nossas culpas que tomara sobre si a fim de satisfazer por elas. Pauper sum ego, et in laboribus a iuventute mea (3) — Eu sou pobre e vivo em trabalhos desde a minha mocidade. Assim predisse o Salvador de si mesmo pela boca de Davi, que toda a sua vida seria um padecimento contínuo. — Donde São João Crisóstomo conclui que nós não nos devemos afligir por outra coisa senão pelo pecado; e que, assim como Jesus passou toda a sua vida em aflição por causa dos nossos pecados, assim nós, que os havemos cometido, devemos estar possuídos de uma contínua dor, pela lembrança de termos ofendido um Deus que nos amou tanto.

II. Santa Margarida de Cortona nunca deixou de chorar as suas culpas. Certo dia disse-lhe o confessor: “Margarida, deixa-te de chorar; o Senhor já te perdoou.” — “Como”, respondeu a Santa, “como poderei dar-me por satisfeita com as lágrimas derramadas e com a dor daqueles pecados que afligiram o meu Jesus Cristo durante a sua vida toda?” — Imitemos esta Santa pecadora, e pensando muitas vezes nos nossos pecados, digamos frequentemente ao Senhor:

Ó meu Jesus, eis aqui a vossos pés o ingrato, o perseguidor, que Vos fez sofrer durante toda a vossa vida. Mas dir-Vos-ei com Isaías: Tu autem eruisti animam meam, ut non periret: proiecisti post tergum tuum omnia peccata mea (4) — Tu livraste a minha alma para que não pereça, lançaste atrás das tuas costas todos os meus pecados. Eu Vos ofendi e Vos traspassei o Coração com tantos pecados, mas Vós não recusastes tomar sobre Vós todas as minhas culpas. Eu por minha livre vontade tenho condenado a minha alma a arder no inferno, cada vez que consenti em ofender-Vos gravemente, e Vós, como preço de vosso sangue, não Vos cansastes de livrá-la e de fazer que não ficasse perdida. Meu amado Redentor, graças Vos dou e quisera morrer de dor ao pensar que tenho ofendido tão gravemente a vossa bondade infinita.

Ó meu amor, perdoai-me e vinde tomar posse de todo o meu coração. Dissestes que não Vos dedignais de entrar no coração de quem Vos abre a porta, e de fazer-lhe companhia: Si quis aperuerit mihi ianuam, intrabo ad illum, coenabo cum illo (5) . Se em outros tempos Vos repulsei de mim, agora Vos amo e não quero outra coisa senão a vossa graça. Eis que Vos abro a porta, entrai em meu pobre coração, mas entrai para nunca mais sair dele. Meu coração é pobre, mas entrando nele Vós o fareis rico. Serei rico enquanto Vos possuir, o supremo Bem. — Ó Rainha do céu, Mãe aflita desse aflito Filho, a vós também causei dores amargosas, porquanto tivestes tão grande parte nos sofrimentos de Jesus. Minha Mãe, perdoai-me e alcançai-me a graça de servir fielmente, agora que, como espero, Jesus de novo entrou em minha alma.

Referências: (1) Sl 37, 18 (2) S. Bernardinus Sen. t. II, serm. 56 (3) Sl 87, 16 (4) Is 38, 17 (5) Ap 3, 20

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 53-52)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.

S. Alfonso Maria De Liguori Evangelizare Pauperibus Misit Me

REZE CONOSCO

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