Domingo da Sexta Semana depois da Epifania

A parábola do fermento e os efeitos da graça santificante

Simile est regnum coelorum fermento – “O reino dos céus é semelhante ao fermento” (Mt 13, 33)

Sumário. Nesta parábola do fermento os santos Padres veem uma figura da caridade, isto é, da graça santificante. Assim como a levedura penetra toda a massa, levanta-a e lhe dá sabor; assim a graça divina tira da alma a friúra do pecado e, excitando nela santos afetos, torna-a digna de amizade de Deus. Mais: faz com que a alma seja a morada do Espírito Santo, sua filha, sua esposa. Lancemos um olhar sobre nossas almas: estão elas ornadas da graça santificante?

I. Na parábola do fermento Santo Agostinho, o Bem-aventurado Alberto Magno e outros veem uma figura da caridade, isto é, da graça santificante. Porquanto, como a levedura penetra toda a massa, levanta-a e lhe dá sabor, assim a graça santificante tira da alma a friúra áspera do pecado, e inflamando-a no amor celeste eleva-a a um estado sobrenatural, torna-a digna da amizade de Deus.

– Por isso é que o Espírito Santo chama a graça um tesouro infinito:

Infinitus enim thesaurus est hominbus (1) – “É um tesouro infinito para os homens”

Esse tesouro, porém, acrescenta o santo homem Job, é um tesouro oculto, pois, se os homens conhecessem o valor da graça divina, não a trocariam por uma fumaça, um punhado de terra, um vil prazer:

Nescit homo pretium eius (2) – “O homem não conhece o seu preço”

Privados da luz da fé, os pagãos julgavam impossível que uma criatura pudesse ser amiga de Deus. E seguindo unicamente a luz natural, tinham razão, pois a amizade, segundo observa São Jerônimo, torna os amigos iguais. Deus, contudo, em muitos lugares nos declarou que, em virtude da sua graça, nos tornamos seus amigos, observando a sua lei:

Vos amici mei estis, si feceritis quae praccipio vobis (1) – “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando”

Ó bondade de Deus ”, exclama São Gregório, “ não lhe merecemos o nome de servos, e digna-se chamar-nos seus amigos! ”. Como se julgaria feliz quem fosse honrado com a amizade de seu rei! Mas seria temeridade para um vassalo o pretender travar amizade com o seu príncipe. No entanto uma alma pode sem temeridade aspirar a amizade do seu Deus.

Conta Santo Agostinho que, estando dois validos do paço num convento, um deles pôs-se a ler a vida de Santo Antônio abade. A medida que ia lendo, o seu coração desprendia-se dos afetos mundanos. Voltando-se depois para o companheiro: Amigo, disse-lhe, que é que procuramos? Servindo o imperador, podemos esperar mais do que ser amigos? Chegando a isso, poremos em maior perigo a nossa salvação eterna. Além disso, com que dificuldade chegaremos a ser amigos do imperador! Ao contrário, assim conclui, desde já posso ser amigo de Deus, se o quiser.

II. Quem está na graça de Deus, torna-se, pois, amigo de Deus. Mais ainda, torna-se seu filho:

Dii estis, et filii Excelsi omnes (2) – “Sois deuses, e todos filhos do Excelso”

É esta a grande prerrogativa que o amor divino nos alcançou por meio de Jesus Cristo. Além disso, a alma em estado de graça torna-se esposa de Deus:

Sponsabo te mihi in fide (3) – “Desposar-me-ei contigo com fidelidade”

Por isso o pai do filho pródigo, ao restituir-lhe as boas graças, ordenou que lhe dessem o anel, sinal dos esponsais.

– Finalmente, como diz São Paulo, quem está na graça de Deus, torna-se templo do Espírito Santo:

Templum Dei estis, et Spiritus Dei habitat in vobis (4) – “Sois o templo de Deus e o Espírito de Deus habita em vós”

Soror Maria de Oignies viu um dia o demônio sair do corpo de uma criança que estavam batizando, e o Espírito Santo entrar com um cortejo de anjos.

Ó meu Deus, eis que minha alma, quando estava em vossa graça, era vossa amiga, vossa filha, vossa esposa e vosso templo. Mas depois perdeu tudo pelo pecado, e tornou-se vossa inimiga e escrava do inferno. Graças Vos dou por me haverdes ainda dado o tempo para reparar o mal que fiz, para reentrar em vossa graça e aumentá-la mais e mais. Ó Bondade infinita, arrependo-me sobre todos os males de Vos ter ofendido, e amo-Vos sobre todas as coisas. Dignai-Vos receber-me de novo em vossa amizade. Por piedade, não me desprezeis. Bem sei que merecia ser repelido de Vós; mas Jesus Cristo merece por mim que me aceiteis de novo, visto estar arrependido, em consideração do sacrifício que de si mesmo fez no Calvário.

Adveniat regnum tuum – “Venha o vosso reino”. Meu Pai (é assim que vosso Filho me ensinou a chamar-Vos), meu Pai, vinde reinar no meu coração pela vossa graça, fazei com que só Vos sirva, que viva só para Vós e que só Vos ame. Numa palavra, “ fazei com que ocupando-me sempre com pensamentos santos e racionáveis, eu execute com palavras e obras o que é de vosso agrado divino ” (5).

Peço esta graça também a vós, ó grande Mãe de Deus, e minha Mãe Maria.

Referências: (1) Jo 15, 14 (2) Sl 81, 6 (3) Os 2, 20 (4) 1Cor 3, 16 (5) Or. Dom. curr.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 227-229)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.

S. Alfonso Maria De Liguori Evangelizare Pauperibus Misit Me

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