Do grande mal que fazem os que ocultam os Pecados na Confissão – Meditação Alternativa

Do grande mal que fazem os que ocultam os Pecados na Confissão

Pro anima tua ne confundaris dicere verum —“Não te envergonhes de falar a verdade, quando se trata da tua alma” (Eclo 4, 24)

Sumário. O demônio, depois de obcecar tantas pobres ovelhas de Jesus Cristo, induzindo-as a pecar, faz como o lobo; apanha-as pelo pescoço, a fim de que não gritem por socorro, confessando-se sinceramente. E deste modo fazendo que cometam novo pecado, de ordinário mais grave que o primeiro, como é o sacrilégio, leva-as com segurança ao inferno. Oxalá que aquelas almas desgraçadas compreendessem o grande mal que causam a si mesmas, e o grande bem de que se privam pela maldita vergonha na confissão!

I. Diz Santo Agostinho que o lobo, para que a ovelha lhe não escape, a apanha pelo pescoço, de modo que não possa gritar por auxílio balando, e assim a leva com segurança, e a devora. O mesmo pratica o demônio com tantas infelizes ovelhas de Jesus Cristo. Depois de obcecá-las, para que não vejam o mal que cometem ofendendo a Deus, apanha-as pelo pescoço, para que não se confessem. Deste modo fá-las cometer um pecado, de ordinário mais grave que o primeiro, como é o sacrilégio, e assim conduz a presa com segurança ao inferno. Oxalá que aqueles pecadores desgraçados compreendessem o grande mal que causam a si mesmos, e o grande bem de que se privam pela maldita vergonha!

Nos tribunais da terra se diz que o que confessa é condenado; mas no tribunal de Jesus Cristo acontece o contrário: o que confessa é que obtém o perdão. Mais, para quem cometeu um pecado grave, não há outro remédio de salvação, senão a confissão do pecado. Ou confissão, ou condenação! Não basta que se arrependa de coração; não basta que vá ao deserto e pratique a penitência mais sincera: Ou confissão, ou condenação!

Que esperança de salvação pode ter aquele que vai confessar-se, e, calando o pecado, se serve da confissão para mais ofender a Deus, e constituir-se mais escravo do demônio? Que dirias do enfermo que tomasse uma taça de veneno, em vez do remédio que o médico lhe tinha ordenado? Ó céus! Que é a confissão para um pecador que cala os pecados, senão uma taça de veneno, que lhe agrava a consciência com a malícia do sacrilégio?

Quando o confessor absolve o penitente, ministra-lhe o Sangue de Jesus Cristo, visto que o absolve pelos merecimentos deste Sangue. Mas o que cala os pecados, calca aos pés o Sangue de Jesus, e, se além disso recebe a comunhão, atira em certo modo, como diz São João Crisóstomo, a hóstia consagrada aos esgotos. Daí provêm que tais sacrílegos já nesta terra sofrem um inferno antecipado; como se carregassem com tantas víboras, quantos são os sacrilégios que cometem.

Se ao menos os criminosos de tão nefandos excessos pudessem consolar-se com o pensamento: Ninguém conhecerá jamais o meu pecado. Não, porque o mesmo pecado que agora eles se recusam a confessar em segredo a um só homem, que tem compaixão e nunca dele poderá falar, a fé nos diz que, para maior confusão deles, o Senhor o manifestará no dia do juízo em presença dos anjos e de todos os homens. Revelabo pudenda tua in facie (1) — “Descobrirei tuas infâmias diante de tua própria face”.

II. Ânimo, pois, meu irmão; se porventura tivesses cometido o erro de calar pecados por vergonha, escuta o que te aconselha Santo Ambrósio: O demônio tem preparado o processo de todos os teus pecados, para deles te acusar no tribunal de Deus. Queres fugir a esta acusação? Toma a dianteira a teu acusador, diz o santo, acusa-te tu mesmo a um confessor: Praeveni accusatorem tuum . Basta que lhe digas:

“Meu pai, tenho um escrúpulo sobre a vida passada, mas tenho vergonha de o dizer”

Basta que digas isso, porque será dever do confessor tirar-te do coração a serpente que te rói a consciência.

Ânimo pois: “Pelo amor de tua alma, não te envergonhes de dizer a verdade; há vergonha que conduz ao pecado; e há vergonha que traz consigo glória e graça” — Pro anima tua ne confundaris dicere verum (2). Vai prontamente, ovelha perdida, Jesus Cristo te espera; tem os braços abertos para te perdoar e te abraçar, desde o momento em que confesses o teu pecado. Asseguro-te que depois de uma confissão completa, sentirás uma alegria tão grande, por teres limpado a tua consciência e recuperado a graça de Deus, que sempre bendirás a hora em que fizeste uma boa confissão.

Apressa-te, pois, a procurar teu confessor, e não dês mais tempo ao demônio, para de novo te tentar; apressa-te, porque Jesus Cristo te está esperando. Qual bom pastor, deixa de novo as outras noventa e nove ovelhas, procura-te com ânsia e suspira pelo momento em que sobre os ombros te possa reconduzir ao aprisco e dizer aos anjos e santos do céu:

“Congratulai-vos comigo, porque achei a minha ovelha desgarrada” (3)

Ó Eterno Pai, fortalecei tantos pobres pecadores para vencerem o respeito humano e fazerem confissão sincera de todos os seus pecados. Vós também, ó grande Mãe de Deus, e Refúgio dos pecadores, ajudai-os.

Referências: (1) Na 3, 5. (2) Eclo 4, 24. (3) Lc 15, 6.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 503-506)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.