Mês de Outubro – Santo Afonso, modelo da Vida Interior e Recolhida

Santo Afonso, modelo da Vida Interior e Recolhida

Melior est patiens viro forti, et qui dominatur animo suo expugnatore urbium — “O homem paciente é melhor do que o valoroso ; e o que domina o seu ânimo, melhor do que o expugnador de cidades” (Pv 16, 32)

Sumário. Foram numerosos os espinhos semeados no caminho que nosso santo percorreu, e ele, por ter a compleição biliosa, devia sentir sobremaneira as picaduras. Mas, querendo imitar a Jesus Cristo, manso e humilde, de coração, Afonso, por meio de esforços heróicos, chegou não só a sofrer com paciência, senão a desejar sempre sofrimentos maiores. Ah! Se nós também estudássemos o grande livro do Crucifixo, quão leves se nos afigurariam as cruzes que Deus nos envia!

I. Exorta-nos São Tiago “a termos por um motivo de maior alegria, as diversas tribulações que nos sucedem, sabendo que a provação da nossa fé produz a paciência; a paciência faz obra perfeita” (1). Eis porque nosso santo, que, não contente com aplicar-se à perfeição de um modo qualquer, fizera o propósito de escolher sempre o que fosse mais perfeito, empregou todos os meios para progredir na virtude da paciência. Por outro lado, o Senhor, que o destinara a ser um modelo perfeito de resignação, não lhe diminuiu as ocasiões de sofrimentos, semeando-lhe o caminho da vida de vários espinhos.

O corpo de Afonso sofreu contínuas e dolorosas enfermidades, especialmente durante os últimos dezessete anos da vida, tolhido em todos os seus membros por aguda artrite, tornou-se como que outro Jó, ou antes uma imagem viva de Jesus crucificado. As enfermidades juntaram-se as perseguições, não somente da sua própria pessoa, senão também da sua Congregação, à qual amava mais que a si mesmo. Com as perseguições vieram-lhe os desprezos. Afonso foi tratado como injusto, orgulhoso, iludido, hipócrita, corruptor da moral cristã, e afinal como ignorante. Assim foi tratado aquele cuja sabedoria foi e será sempre admirada pelo mundo inteiro.

Finalmente, para não falar de outros sofrimentos, aos desprezos se ajuntaram, particularmente nos últimos anos da sua vida, os escrúpulos, as tentações, a aridez e a desolação espiritual. No meio, porém, de todas as tribulações, o santo ficou sempre contente e resignado à vontade divina. “ O mercado ”, dizia ele, “ onde as almas espirituais fazem mais lucro, são as tribulações. Vale mais uma hora de sofrimentos, padecidos com inteira resignação, do que todos os tesouros da terra. Senhor, graças Vos rendo por me dardes uma amostra das dores que padecestes. Basta que não me envieis ao inferno, e com vosso auxílio estou pronto a sofrer tudo ”. Assim dizia o santo Doutor, e com sua paciência te ensina, a ti, que te glorias de ser seu filho e devoto, e não sabes sofrer uma leve injúria, uma pequena mortificação, uma palavra picante.

II. Não imaginemos que a paciência heróica de Afonso fosse talvez efeito de frieza ou insensibilidade natural. Ao contrário, por causa da sua compleição biliosa, era extremamente arrebatado e levado à ira. Mas, no dizer dos seus biógrafos, como, desde o dia em que virara as costas ao mundo, se propusera à imitação de Jesus Cristo, manso e humilde de coração, com violência contínua e abnegação de si mesmo, chegou não somente a sofrer com paciência, mas a desejar os sofrimentos, as humilhações e os desprezos. Ele mesmo o deu a entender a um seu íntimo. Querendo este que o santo rebatesse um insulto, a fim de não aviltar o caráter episcopal, Afonso respondeu: Trabalhei quarenta anos para adquirir um pouco de paciência, e quereríeis que o perdesse num instante?

Portanto, meu irmão, seja qual for o teu gênio, o teu estado, a tribulação que te aflige, também tu podes imitar os exemplos do teu grande protetor. Abraça, pois, de boa vontade a cruz, considerando-a como vinda das mãos de um Deus que é todo amor para contigo, e lembra-te de que de um modo ou de outro sempre a terás de levar. Mas, como observa o nosso santo Doutor, há esta diferença: Se padeceres com paciência, padecerás menos e te salvarás; se padeceres com impaciência, padecerás mais e te condenarás. Se não te achares com força suficiente, pede-a ao Senhor pelos merecimentos do santo.

Ó meu Jesus, pelos merecimentos de Santo Afonso, ajudai-me a sofrer com paciência as tribulações desta vida, e perdoai-me todas as ofensas que Vos fiz pelas minhas impaciências e pela minha pouca resignação nos sofrimentos que me enviastes para o meu bem. E vós, Virgem Santíssima e minha Mãe Maria, alcançai-me do vosso divino Filho a graça de o amar, pois que o amor me dará também força para sofrer tudo por amor dele.

Referência: (1) Tg 1, 2-4.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Tempo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 479-482)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.