Quarta-feira da Quinta Semana da Quaresma

Jesus ora no Horto e seu sangue

Tunc venit Iesus cum illis in villam, quae dicitur Gethsemani – “Então foi Jesus com eles a uma herdade, que é chamada Gethsemani” (Mt 26, 36)

Sumário. O Filho de Deus, para nos ensinar o modo de orar, pede no horto a seu Pai divino, que O exima de beber o cálice de sua Paixão; com resignação, porém, acrescenta que se conforma em tudo à divina vontade. Prostra-se com a face na terra, e é tão grande o temor, o aborrecimento e a tristeza que Lhe sobrevém pela previsão dos seus padecimentos e da nossa ingratidão, que chega a suar sangue vivo. Ah, meu pobre Senhor, se eu menos houvera pecado, Vós menos teríeis sofrido.

I. Finda que foi a ação de graças depois da Ceia, Jesus sai do cenáculo com os seus discípulos, entra no horto de Getsêmani e se põe em oração. Mas, ai! No mesmo instante assaltam-No juntos grande temor, grande aborrecimento e grande tristeza. Com o coração oprimido pela dor, o nosso Redentor diz que a sua alma bendita está triste até à morte: Tristis est anima mea usque ad mortem (1) . — Jesus quis que então Lhe fosse presente aos olhos toda a funesta cena dos tormentos e opróbrios que Lhe estavam preparados. Na Paixão, estes tormentos afligiram-No um após outro; mas ali no horto vieram cruciá-Lo todos juntos, as bofetadas, os escarros, os açoites, os espinhos, os cravos e os vitupérios, que depois deveria sofrer. Submisso, aceita-os todos; mas, aceitando-os treme, agoniza e ora.

Mas, meu Jesus, quem Vos constrange a sofrer tantas penas? Constrange-me, responde, o amor que tenho aos homens. — Ah! Que assombro devia causar no céu o ver a força feita fraqueza! Um Deus aflito! E para que? Para salvação dos homens, suas criaturas! Naquele horto foi oferecido o primeiro sacrifício: Jesus foi a vítima, o amor, o sacerdote e o ardor de seu afeto para com os homens foi o fogo sagrado que consumiu o sacrifício.

Pater mi, si possibile est, transeat a me calix iste (2) — “Pai meu, se é possível, passe de mim este cálice” . Assim ora Jesus: Meu Pai, se é possível, isenta-me de beber este cálice tão amargoso. Mas Jesus ora assim, não tanto para ficar isento, como para nos fazer compreender a pena que padece e aceita por nosso amor. Ora assim também para nos ensinar que nas tribulações nos é permitido pedir a Deus que nos livre; mas ao mesmo tempo devemo-nos conformar em tudo com a vontade divina, e dizer o que Ele disse: Verumtamen non sicut ego volo, sed sicut tu (3) — “Todavia não seja como eu quero, mas sim como tu” .

Sim, meu Senhor, por vosso amor abraço todas as cruzes que me queiras enviar. Vós, embora inocente, padecestes tanto por meu amor, e eu, pecador como sou, depois de haver tantas vezes merecido o inferno, me recusei a sofrer para Vos agradar e obter de Vós o perdão e a graça! Non sicut ego volo, sed sicut tu ; seja feita não a minha vontade, mas, sim, sempre a Vossa!

II. Procidit super terram (4). Durante a sua oração, Jesus prostrou-se com a face em terra, porquanto, vendo-se coberto com a vestidura sórdida de todos os nossos pecados, parece que se envergonhava de levantar os olhos ao céu. — Ó meu amado Redentor, não me animaria a Vos pedir perdão de tantas injúrias que Vos fiz, se as vossas penas e os vossos merecimentos não me dessem confiança. Eterno Pai: Respice in faciem Christi tui (5) — “Ponde os olhos no rosto de vosso Cristo” ; olhai, não para as minhas iniquidades, mas para esse vosso Filho dileto, que treme, que agoniza e sua sangue a fim de obter para mim o vosso perdão. Vede-O e tende piedade de mim.

Que! Jesus meu, não há nesse jardim para Vos suplicar nem algozes, nem açoites, nem espinhos, nem cravos; que é então que faz correr o vosso sangue? Ah! compreendo agora: não foi a previsão de vossos tormentos próximos a causa de vossa aflição, pois espontaneamente Vos oferecestes a sofrê-las. Foi a vista de meus pecados; eles foram o cruel lagar que fez correr o sangue de vossas sagradas veias. De sorte que não Vos foram desumanos os algozes, nem cruéis os açoites, os espinhos, a cruz; desumanos e cruéis vos foram, ó meu dulcíssimo Jesus, os meus pecados, que tanto Vos afligiram no horto. Se eu menos houvera pecado, menos houvéreis Vós padecido. Eis então, ó meu Jesus, como correspondi ao amor que vos trouxe a morrer por mim: não fiz mais que ajuntar novas penas e tantas outras que tivestes de sofrer.

Ó meu amado Senhor, pesa-me de Vos ter ofendido; sinto dor, mas não bastante; quisera conceber uma dor capaz de me tirar a vida. Ah! pela cruel agonia que sofrestes no horto, dai-me uma parte do horror que tivestes de meus pecados. Se outrora Vos afligi por minha ingratidão, fazei que Vos agrade daqui em diante por meu amor. — Ó Maria, Mãe das dores, recomendai-me a vosso Filho aflito e triste por meu amor.

Referências:

(1) Mc 14, 34 (2) Mt 26, 39 (3) Ib. (4) Mc 14, 35 (5) Sl 83, 10

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 382-384)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.

S. Alfonso Maria De Liguori Evangelizare Pauperibus Misit Me

REZE CONOSCO

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