Quarta-feira da Quinta Semana depois da Páscoa

Remorso do condenado: podia salvar-me tão facilmente

Transiit messis, finita est aestas, et nos salvati non sumus – “O tempo da ceifa é passado, o estio findou-se, e nós não fomos salvos” (Jr 8, 20)

Sumário. O que mais que o fogo cruciará o réprobo no inferno é ter que dizer consigo: Se eu tivesse feito para Deus tanto quanto fiz para condenar-me, seria um grande santo; agora, ao contrário, hei de ser infeliz para sempre! – Meu irmão, quem sabe se este cruel remorso não virá a ser o teu lá no abismo infernal, se não mudares de vida? Apressa-te, pois, sem perda de tempo: remedeia o mal feito e resolve-te a empregar todos os meios para assegurar-te a salvação eterna.

I. Apareceu certo dia um condenado a Santo Umberto e disse-lhe que o que mais atormentava no inferno era a lembrança do pouco pelo que se tinha condenado e do pouco que tivera de fazer para se salvar. O mesmo nos afirma o Angélico Santo Tomás: “A principal pena dos condenados”, diz ele, “será o verem que se perderam por um nada, e que podiam, com suma facilidade, adquirir a glória do paraíso, se o houvessem querido.” – É pois verdade, dirá então o desgraçado réprobo, se eu me tivesse mortificado para não ver aquele objeto, se tivesse vencido o respeito humano, se tivesse evitado tal ocasião, tal companheiro, tal conversação, não me teria condenado. Se me tivesse confessado cada semana, se tivesse perseverado na congregação, se todos os dias tivesse feito leitura espiritual, se me tivesse recomendado a Jesus e Maria, não teria recaído. Tantas vezes tomei a resolução de assim fazer, mas nunca a executei; ou comecei a fazê-lo e depois me descuidei e assim me condenei.

Este remorso será aumentado com a lembrança dos bons exemplos que lhe davam os bons amigos e companheiros; e mais ainda com a vista dos favores que Deus lhe concedeu para a salvação: dons naturais, como sejam a saúde, a fortuna, os talentos, que Deus lhe deu para se santificar fazendo deles bom uso; dons também sobrenaturais: tantas luzes, inspirações, convites, tantos anos concedidos para reparação das faltas cometidas. Mas o desgraçado verá que no triste estado em que se acha, já não há tempo para remediar o mal.

Dirá gemendo com os seus companheiros no desespero: Transiit messis, finita est aestas, et nos salvati non sumus – “O tempo da ceifa é passado, o estio findou-se, e nós não fomos salvos” . A hora da salvação passou para mim; estou irreparavelmente perdido. Oh! Se todos estes trabalhos que passei para me perder fossem feitos para Deus, ter-me-ia tornado um grande santo! Agora, que me resta senão mágoas e remorsos que me atormentarão eternamente? Sim, mais cruciante do que o fogo e todos os outros tormentos do inferno será para o réprobo o ter de reconhecer: podia ser feliz para sempre; e serei eternamente desgraçado!

II. Meu irmão, se no passado nós também temos merecido estar com aqueles infelizes para chorarmos desesperados no inferno é preciso que reparemos o mal que fizemos; é preciso que mudemos, quanto antes, de vida. Não digas: quero fazê-lo mais tarde. O inferno está cheio de almas que falavam assim; mas veio a morte e agora não têm mais tempo para o fazer. Deves, portanto, resolver-te e dizer: quero salvar-me a todo custo. Perca eu tudo: bens, amigos e vida, contanto que não perca minha alma.

Sobretudo examinemo-nos muitas vezes para ver se porventura nos tenhamos afrouxado na devoção para com Maria Santíssima, e roguemos-lhe que aumente sempre em nós o seu amor. Qui operantur in me, non peccabunt; qui elucidant me, vitam aeternam habebunt (1) – “Os que obram por mim não pecarão, e os que me esclarecerem, terão a vida eterna” . É o que afirma de si mesma a divina Mãe, é o que confirma a experiência contínua. É impossível que se perca um devoto de Maria, que a honra fielmente e a ela se recomenda.

Ah, meu Jesus, como pudestes suportar-me tanto? Tantas vezes Vos voltei às costas e nunca deixastes de me procurar! Tantas vezes Vos ofendi e sempre me haveis perdoado! Tornei a ofender-Vos e Vós também tornastes a perdoar-me! Por piedade, dai-me uma parte da dor que sofrestes no horto de Gethsemani por causa de meus pecados, que então Vos fizeram suar sangue. Arrependo-me, querido Redentor meu, arrependo-me de ter retribuído tão mal o vosso amor. Ó malditos gostos, detesto-vos e amaldiçôo-vos; vós me fizestes perder a graça de meu Senhor.

Meu amado Jesus, amo-Vos agora sobre todas as coisas; e por vosso amor renuncio a todas as minhas satisfações ilícitas e proponho antes morrer mil vezes do que Vos tornar a ofender. Por esse terno afeto com que me amastes sobre a cruz e sacrificastes por mim a vossa vida divina, peço-Vos que me deis luz e força para resistir às tentações e implorar o vosso auxílio quando for solicitado para o mal. – Ó Maria, minha esperança, vós que podeis tudo junto de Deus, impetrai-me a santa perseverança; obtende-me a graça de nunca me separar do seu santo amor. Obtende-me também uma terna devoção para convosco, ó minha santíssima Mãe.

Referências:

(1) Eclo 24, 30

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 80-82)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.

S. Alfonso Maria De Liguori Evangelizare Pauperibus Misit Me

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