Quarta-feira da Terceira Semana que sobrou depois da Epifania

Só em Deus se acha a verdadeira felicidade

Delectare in Domino, et dabit tibi petitiones cordis tui – “Deleita-te no Senhor, e Ele te outorgará as petições de teu coração” (Sl 36, 4)

Sumário. A experiência demonstra que todos os bens do mundo não podem contentar o coração do homem, criado para um bem infinito. Encontre-se com Deus, una-se a Deus, e ei-lo contente, nada mais desejando, até no meio das cruzes e tribulações, porque o amor divino é como o mel, que torna doces e amáveis as coisas mais amargosas. Se, pois, quisermos ser felizes, amemos sinceramente Jesus Cristo, entretenhamo-nos com Ele na oração e visitemo-Lo muitas vezes no Santíssimo Sacramento. Tenhamos também uma devoção terna para com a grande Mãe de Deus.

I. Todos os bens e prazeres do mundo não podem contentar o coração do homem. Quem o pode, pois, contentar? Só Deus. Deleita-te no Senhor, e Ele te outorgará as petições de teu coração. O coração do homem anda sempre à procura de um bem que o possa saciar. Desfrute riquezas, prazeres, honras; não estará contente, porque estes bens são finitos e ele foi criado para um bem infinito. Encontre-se com Deus, una-se a Deus, e ei-lo contente sem mais outro desejo.

Santo Agostinho nunca achou a paz enquanto passou a vida nos prazeres dos sentidos. Mas, quando se deu a Deus, então confessou e disse ao Senhor: Inquietum est cor nostrum, donec requiescat in te — “Nosso coração está inquieto, enquanto não descansa em Vós” . Meu Deus, dizia, agora vejo que todas as criaturas são vaidade e aflição, e só Vós sois a verdadeira paz da alma. Instruído assim à sua custa, escreveu:

“Ó homem, criatura mesquinha, porque andas à procura dos bens deste mundo? Procura o único bem que encerra todos os outros.”

Como Deus sabe tornar felizes as almas fiéis que o amam! Quando São Francisco de Assis deixou tudo por amor de Deus, posto que andasse descalço, coberto apenas com uns farrapos, morto de frio e fome, experimentava um gozo celestial ao pronunciar estas palavras:

Deus meus et omnia — “Meu Deus e meu tudo”

Quando São Francisco de Borja, depois de religioso, devia em viagem dormir sobre a palha, sentia tamanha consolação que nem conseguia conciliar o sono. Da mesma forma São Filipe Neri, tendo deixado tudo, recebia de Deus consolação tão viva, que, ao deitar-se, exclamava:

“Meu Jesus, deixai-me dormir”

No meio de seus árduos trabalhos nas Índias, São Francisco Xavier descobria o peito, exclamando:

“Basta, Senhor, de consolações; já não me cabem no peito”

Santa Teresa costumava dizer que uma só gota de consolação celeste dá mais contentamento que todas as doçuras e divertimentos do mundo. — Além disso, não podem falhar as promessas que Deus fez de recompensar o que por seu amor renuncia aos bens do mundo, dando-lhe ainda nesta vida o cêntuplo de paz e de felicidade. Centuplum accipiet et vitam aeternam possidebit (1) — “Receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna”.

II. Que é que estamos procurando? Vamos a Jesus Cristo, que nos convida, dizendo:

“Vinde a mim, todos os que estais carregados e fatigados e eu vos aliviarei” (2)

— É verdade que nesta vida os próprios santos têm que sofrer, porque a terra é um lugar de merecimentos e não se pode merecer sem sofrer. Diz contudo São Boaventura que o amor divino é semelhante ao mel que adoça e torna agradáveis as coisas mais amargas. O que ama a Deus, ama a vontade divina e isto lhe faz gozar uma alegria espiritual nas próprias aflições, porque sabe que, abraçando-a, agrada e contenta a seu Deus.

Grande Deus, os pecadores querem desprezar a vida espiritual, mas sem a terem saboreado! Vident crucem, sed non vidente unctionem . Eles veem, diz São Bernardo, somente as mortificações que sofrem os amigos de Deus, e os prazeres de que se privam, mas não veem as delícias espirituais que o Senhor lhes prodigaliza. Oh! Se os pecadores provassem a paz que goza uma alma que não quer senão Deus: Gustate et videte, quoniam suavis est Dominus (3) — “Gostai e vede, quão suave é o Senhor” .

Meu irmão, começa a fazer meditação todos os dias, a comungar frequentes vezes, a entreter-te com Jesus no Santíssimo Sacramento; aplica-te a uma devoção filial para com Maria Santíssima e recorre a esta boa Mãe em todas as tuas necessidades. Em suma, começa a desligar-te do mundo e unir-te a Deus e verás que o Senhor, no pouco tempo que passares com Ele, te há de dar mais consolações do que o mundo te deu com todos os seus divertimentos: “Gosta e vê, quão suave é o Senhor”.

Meu amado Redentor, como pude ser, no passado, tão cego até Vos abandonar, ó Bem infinito, a fonte de todas as consolações, em troca das miseráveis satisfações dos sentidos? Graças vos dou pelo tempo que me concedeis para reparar o mal que fiz. Meu Jesus, amo-Vos de todo o coração, e, porque Vos amo, pesa-me sobre todas as coisas de Vos ter ofendido. Não permitais que ainda me separe de Vós; fazei que sempre Vos ame e depois fazei de mim segundo a vossa vontade.

Doce Coração de Maria, sede minha salvação.

Referências:

(1) Mt 19, 29 (2) Mt 11, 29 (3) Sl 33, 9

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 251-253)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.