Segunda-feira da Sexta Semana que sobrou depois da Epifania

Da perfeita resignação com a vontade divina

Meus cibus est ut faciam voluntatem eius qui misit me, ut perficiam opus eius – “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou, para consumar a sua obra” (Mt 13, 31)

Sumário. É um ponto de fé que Deus não quer senão o que é melhor para nós; isto é, a nossa santificação. Se quisermos, pois, ser santos e achar mesmo na terra a paz verdadeira, procuremos ter a nossa vontade em repouso, unindo-a sempre à vontade amabilíssima de Deus. Remetamos ao Pai celestial toda a nossa solicitude, certos de que, afinal, tudo cede para o maior bem do justo. Em cada adversidade, seja qual for, repitamos a palavra habitual dos santos: Seja feita a vossa vontade!

I. O que nos sustenta na nossa vida mortal é o alimento; eis porque Jesus Cristo disse que o seu alimento era o cumprir a vontade de seu Pai. Deve isso ser também o sustento das nossas almas; porque nossa vida consiste em cumprirmos a vontade divina; quem não a cumpre está morto (1). — O Sábio escreve: Fideles in dilectione acquiescent illi (2) — “Os que lhe são fiéis no amor, concordam com Ele” . Aqueles que são pouco fiéis no amor divino, quereriam que Deus acquiesceret eis , concordasse com eles; isto é, se conformasse com a vontade deles e lh´a fizesse em tudo. Aqueles, porém, que amam a Deus, acquiescunt illi , concordam com Ele, conformam-se com tudo o que Deus faz tanto deles mesmos como dos seus bens. Em todas as adversidades que os afligem, nas enfermidades, nas injúrias, nos desgostos, na perda de bens ou de parentes, eles têm sempre na boca e no coração a palavra tão familiar aos santos: Fiat voluntas tua — “Seja feita a vossa vontade”.

Deus não quer senão o que é melhor para nós, isto é, a nossa santificação: Haec est voluntas Dei: sanctificatio vestra (3) — “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” . Procuremos, pois, conservar a nossa vontade em repouso, unindo-a sempre à vontade de Deus, tranquilizemos igualmente o nosso espírito pelo pensamento que tudo o que Deus faz é melhor para nós. Quem não fizer assim, nunca achará a verdadeira paz.

Toda a perfeição alcançável nesta terra, lugar de purificação e, por consequência, de penas e trabalhos, consiste em sofrer com paciência tudo o que contraria o nosso amor próprio, e para sofrê-lo com paciência, não há meio mais eficaz do que sofrê-lo para cumprir a vontade de Deus. — Aquele que se conforma em tudo à vontade de Deus está sempre em paz, e não o entristecerá coisa alguma que lhe suceda: Non contristabit iustum quidquid ei acciderit (4). E porque é que o justo não se entristece, aconteça-lhe seja o que for? Porque sabe que tudo o que acontece neste mundo acontece pela vontade divina e que afinal todas as coisas contribuem para o seu bem (5). Numa palavra, a vontade divina embota, por assim dizer, todos os espinhos, e tira a amargura de todas as tribulações que nos sobrevierem neste mundo.

II. Eis aí o belo conselho de São Pedro, para acharmos a paz perfeita no meio de todos os trabalhos deste mundo: Remetei para Deus todas as vossas inquietações, porque Ele tem cuidado de vós (6). Com efeito, se há um Deus que pensa continuamente em nosso bem, porque nos cansaremos com tantas preocupações, como se o nosso bem dependesse somente dos nossos cuidados? Entreguemo-nos nas mãos de Deus, de quem tudo depende: Lança sobre o Senhor, exorta-nos o profeta Davi, o teu cuidado, e Ele te sustentará; não deixará que flutue o justo para sempre (7).

Numa palavra, sejamos solícitos para obedecermos a Deus em tudo o que Ele nos manda ou aconselha, e depois entreguemos-Lhe o cuidado da nossa salvação. Ele se lembrará de nos dispensar todos os meios que nos sejam necessários; porquanto o que põe em Deus toda a sua esperança, está certo da proteção divina. “Eu te livrarei”, assim fala o Senhor pela boca de Jeremias, “e não serás entregue nas mãos dos homens que temes; salvarás a tua alma, porque tiveste confiança em mim: Erit tibi anima tua in salutem, quia in me habuisti fiduciam. ” (8)

Ó Deus da minha alma, aceitai o sacrifício de toda a minha vontade e de toda minha liberdade. Reconheço que merecia que me virásseis as costas e rejeitásseis esta minha oferta, porque tantas vezes Vos tenho sido infiel; ouço, porém, que ainda mandais que Vos ame de todo o meu coração; por isso estou certo que o aceitais. Entrego tudo à vossa vontade. Fazei-me saber o que de mim desejais, que estou disposto a cumpri-lo. Fazei que Vos ame, e depois disponde de mim e de tudo o que é meu, segundo a vossa vontade. Eis que estou nas vossas mãos; fazei o que julgardes mais útil à minha eterna salvação; porque protesto que só a Vós quero e nada mais. — Ó Mãe de Deus, Maria, obtende-me a santa perseverança.

Referências:

(1) Sl 29, 6 (2) Sb 3, 9 (3) 1 Ts 4, 3 (4) Pv 12, 21 (5) Rm 8, 28 (6) 1 Pd 5, 7 (7) Sl 54, 23 (8) Jr 39, 18

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 300-303)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.