Segunda-feira da Vigésima Primeira Semana depois de Pentecostes

Da solidão do coração

Ecce elongavi fugiens, et mansi in solitudine – “Eis que me afastei fugindo e permaneci na solidão” (Sl 54, 8)

Sumário. A solidão do coração consiste em só a Deus consagrarmos o nosso amor. Vê-se, portanto, que para esta solidão não se precisa de desertos nem de grutas. Os que por obrigação têm de tratar com o mundo, desde que tenham o coração livre de apegos terrestres, podem gozá-la no meio das ruas e das praças. Numa palavra, nenhuma das ocupações que têm por fim o cumprimento da vontade divina impede a solidão do coração. Devemos, por isso, elevar muitas vezes o nosso espírito a Deus, para o que serve o uso frequente das orações jaculatórias.

I. A solidão favorece muito o recolhimento de espírito. Observa, porém, São Gregório que pouco ou nada serve estar com o corpo num lugar deserto e ficar com o coração cheio de pensamentos e afetos mundanos. Para que uma alma pertença toda a Deus, duas coisas são precisas: primeira, desapegar o afeto de todas as criaturas , segunda, consagrar todo o amor a Deus , e é nestas duas coisas que consiste a solidade do coração.

Em primeiro lugar, portanto, é preciso desapegar o coração de todo o afeto terrestre. Dizia São Francisco de Sales:

“Se eu soubesse que em meu coração havia uma fibra que não fosse de Deus, quisera logo arrancá-la”.

Enquanto se não limpar e purificar o coração de todo o afeto terrestre, não pode nele entrar o amor de Deus para o possuir todo. Pelo seu amor Deus quer reinar em nosso coração, mas quer reinar ali sozinho. Não admite rivais que lhe roubem parte do afeto, que ele com justiça exige todo para si. — Certas almas queixam-se de que em todos os seus exercícios de devoção não acham Deus e não sabem que meios devam empregar para o acharem. Santa Teresa, porém, ensina-lhes o meio acertado, dizendo:

“Desapega teu coração de todas as criaturas, busca Deus e achá-lo-ás.”

Para se separarem das criaturas e tratar somente com Deus, muitos não podem retirar-se para os desertos, conforme talvez quisessem. Compreendamos bem, que para gozarmos da solidão do coração, não são precisos desertos. Os que se virem obrigados a tratar com o mundo, desde que tenham o coração livre de apegos ao mundo, poderão possuir a solidão do coração e estar unidos com Deus até no meio das ruas, das praças e dos tribunais. — É necessário, todavia que o espírito se eleve muitas vezes a Deus, para o que serve o uso frequente das orações jaculatórias. A respeito destas, escreve São Francisco de Sales que suprem a falta de todas as outras orações, mas que todas as outras orações não podem suprir a falta das jaculatórias.

II. Vacate et videte, quoniam ego sum Deus (1) — “Cessai e vede que eu sou Deus” . Para que obtenhamos a luz divina que nos faça conhecer a bondade de Deus, mister é que nos desfaçamos de todos os apegos terrestres. Como um vaso de cristal, repleto de areia, não deixa passar os raios do sol, assim tampouco pode um coração apegado ao dinheiro, às dignidades terrestres, aos prazeres sensuais, receber em si a luz divina; e não conhecendo a Deus, não o ama. Qualquer que seja o estado de vida, deve cada um, afim de que as criaturas não o distraiam, aplicar-se a cumprir exatamente os seus deveres; mas pelo mais faça como se no mundo houvesse somente ele e Deus.

Devemo-nos desapegar de tudo e particularmente de nós mesmos, contrariando sempre o nosso amor próprio . Por exemplo: agrada-nos tal objeto, desfaçamo-nos dele exatamente por que nos agrada. Alguma pessoa nos ofendeu; devemos fazer-lhe bem, exatamente porque nos ofendeu. Numa palavra, devemos querer o que Deus quer, e não querer o que Deus não quer, sem preferência por esta ou tal outra coisa, enquanto não soubermos ser vontade de Deus que a desejemos.

— Se alguma criatura quiser entrar para tomar posse de nosso coração, devemos logo recusar-lhe a entrada, e, dirigindo-nos ao nosso soberano Bem, dizer-lhe: Quid mihi est in coelo, et a te quid volui super terram (2) — “Que tenho eu no céu? E fora de ti que desejarei eu sobre a terra?”

Não, meu Jesus, não quero que as criaturas tenham parte em meu coração; Vós deveis ser seu único Senhor e possui-lo todo. Procure quem quiser as delicias e as grandezas desta terra; na vida presente e na futura sereis Vós a minha única riqueza, o meu único bem, o meu único amor. E já que me amais, como vejo pelas provas que me dais, ajudai-me a desapegar-me de tudo que me possa afastar do vosso amor. Fazei com que minha alma se ocupe toda em Vos agradar, a Vós que sois o objeto único de todos os meus afetos. Tomai posse do meu coração todo inteiro; possuí e governai-me todo e fazei-me pronto a executar em tudo a vossa vontade.

— Ó Mãe de Deus, Maria, em Vós confio; as vossas orações me devem fazer pertencer todo a Jesus.

Referências:

(1) Sb 8, 1 (2) Eclo 31, 2

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 173-175)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.

S. Alfonso Maria De Liguori Evangelizare Pauperibus Misit Me

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