Sexta-feira da Décima Sexta Semana depois de Pentecostes

Jesus, homem de dores

Virum dolorum et scientem infirmitatem – “Um homem de dores e experimentado nos trabalhos” (Is 53, 3)

Sumário. Se queres ver um homem de dores, olha para Jesus Cristo sobre a cruz. Ei-Lo apoiando-se com todo o peso do corpo sobre as chagas das mãos e dos pés trespassados; cada um dos membros sofre a sua dor particular sem alivio algum. Pois bem, se para a nossa Redenção bastava uma só lágrima e Jesus, porque é que ele quis sofrer tanto? É para agora temo-Lo amado tão pouco; temo-Lo mesmo ofendido tantas vezes! Permaneceremos sempre tão ingratos?

I. É assim que o profeta Isaías chamou o nosso Redentor: Homem de dores e experimentado nos trabalhos ; isto é, experimentado e provado nos sofrimentos. Salviano, considerando as dores de Jesus Cristo, escreve: Ó amor de meu Jesus, não sei como Vos chamar, doce ou cruel. Parece-me que sois ao mesmo tempo um e outro; fostes doce para conosco, amando-nos tanto depois de tantas nossas ingratidões; mas fostes demasiado cruel para com Vós mesmo, aceitando uma vida cheia de dores e uma morte tão cruel, para satisfazer por nossos pecados.

Diz o angélico Santo Tomás que, para nos salvar do inferno, Jesus Cristo abraçou a dor mais acerba e o desprezo mais profundo: Assumpsit dolorem summum, vituperationem summam . Para satisfazer por nós a justiça divina, bastava que Jesus sofresse uma dor qualquer; mas não, ele quis sofrer as injúrias mais ignominiosas e as dores mais cruciantes, para nos fazer compreender a malícia dos nossos pecados e o amor que seu Coração nutria para conosco. – Por isso Jesus disse, como escreve São Paulo: Corpus autem aptasti mihi – “Preparastes-me um corpo” (1). O corpo foi dado a Jesus Cristo exatamente para sofrer. Pelo que a sua carne foi sumamente sensitiva e delicada; sensitiva , de modo que sentia as dores mais vivamente; delicada e tão tenra, que cada golpe no corpo de Jesus abria uma ferida. Numa palavra, o corpo sacrosanto de Jesus foi um corpo formado expressamente para sofrer.

Todas as dores que Jesus Cristo padeceu até o último suspiro, teve-as presentes desde o primeiro instante da sua Incarnação. Viu-as todas e abraçou-as todas de boa vontade, para cumprir a vontade de Deus, que desejava fosse ele sacrificado pela nossa salvação: Tunc dixi: Ecce venio, ut faciam, Deus, voluntatem tuam – “Então disse: Eis que venho para fazer, ó Deus, a vossa vontade” (2). Foi esta oferta, acrescenta o Apóstolo, que nos alcançou a graça divina: por essa vontade é que temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez (3).

II. Quem deseja ver um homem de dores, olhe para Jesus Cristo sobre a cruz. Ei-Lo como se apoia com todo o peso do corpo sobre as chagas de suas mãos e pés trespassados. Cada membro tem o seu sofrimento particular sem algum alivio. É com muita exatidão que as três horas durante as quais Jesus Cristo esteve crucificado se chamam as três horas de agonia do Salvador ; porquanto durante aquelas três horas sofreu uma agonia continua e uma dor que aos poucos lhe ia tirando a vida; como finalmente lh’a tirou, visto que Jesus terminou a vida, morrendo de pura dor.

Ó meu Salvador, quem Vos induziu a sacrificar a vida no meio de tantas dores pela nossa salvação? Responde São Paulo: Foi o amor que nos tinha. Sim, foi o amor quem levou Jesus a entregar o corpo aos açoites, a cabeça aos espinhos, as faces aos escarros e às bofetadas. as mãos e os pés à cruz, e finalmente sua vida à morte: Dilexit nos, et tradidit semetipsum pro nobis – “Ele nos amou e se entregou a si mesmo por nós” (4).

Qual o cristão, ó meu Jesus, que poderá viver sem Vos amar, vendo-Vos feito homem de dores, e morto por ele na cruz? Mas então como é que eu pude viver tantos anos no vosso esquecimento; como é que pude dar tantos desgostos a um Deus que me amou tão excessivamente? Oh! Não ter eu morrido antes e nunca Vos ter ofendido! Ó amor de minha alma, quem me dera morrer por Vós, como Vós morrestes por mim! Amo-Vos, meu Jesus, de todo o coração, e prometo, sempre que disso me lembre, fazer atos de amor. Entre todas as criaturas possíveis me escolhestes para Vos amar; eu também Vos elejo, ó soberano Bem, para Vos amar sobre todos os outros bens.

Meu Senhor, Vós ides adiante com a vossa cruz; não quero mais deixar de Vos seguir com a cruz que me queirais dar a levar. Abraço todas as mortificações e penas que me venham de vossas mãos. Basta que não me priveis da vossa graça, e estou satisfeito. – Maria, minha esperança, obtende-me de Deus a perseverança e a graça de o amar, e nada mais vos peço.

Referências:

(1) Hb 10, 5 (2) Hb 10, 9 (3) Hb 10, 10 (4) Ef 5, 2

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 89-92)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.

S. Alfonso Maria De Liguori Evangelizare Pauperibus Misit Me

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