Sexta-feira da Quarta Semana que sobrou depois da Epifania

Frutos que produz a meditação de Jesus Crucificado

Sub umbra illius quem desideraveram sedi; et fructus eius dulcis gutturi meo – “Eu me sentei debaixo da sombra daquele a quem tanto tinha desejado; e o seu fruto é doce ao meu paladar” (Ct 2, 3)

Sumário. Representemo-nos muitas vezes Jesus agonizante sobre a cruz; detenhamo-nos em contemplar algum tempo as suas dores e o afeto com que sofreu, e disso tiraremos copiosos frutos de vida eterna. Da cruz de Jesus parte uma aragem celeste que suavemente nos desliga das coisas terrenas e nos torna leves todos os nossos trabalhos; acenderá em nós um santo ardor para sofrer e morrer por amor daquele que quis padecer e morrer por nosso amor. É sobre o Calvário que se formaram e ainda se formam os santos.

I. Ó almas devotas, procuremos imitar a Esposa dos Cânticos sagrados, que se assentou debaixo da sombra daquele que era o único objeto dos seus desejos. Representemo-nos frequentes vezes, especialmente nas sextas-feiras, Jesus moribundo sobre a cruz; ponhamo-nos a contemplar algum tempo com ternura as suas dores e o afeto que nos teve; e então bem poderemos dizer: E o seu fruto é doce ao meu paladar. É sobre o Calvário e pela contemplação de Jesus crucificado que se formaram em todos os tempos e ainda hoje se formam os santos.

No meio do tumulto deste mundo, das tentações do inferno e dos temores dos juízos divinos, oh! Quão doce repouso acham as almas amantes de Deus, ao contemplarem, a sós e em silêncio, o nosso amantíssimo Redentor, quando está em agonia ou derrama o seu divino sangue gota a gota, por todos os membros feridos e dilacerados pelos açoites, pelos espinhos e pelos cravos. Ah! Quão doces frutos ali colhem e que progressos tão rápidos fazem então no caminho da perfeição! — Sim, porque à vista de Jesus Cristo esvaecem-se do nosso espírito todos os desejos de grandezas mundanas, de riquezas terrestres, de prazeres dos sentidos! Sopra da Cruz uma aura celestial, que nos desprende docemente de todas as coisas da terra e nos faz reputar leves todos os nossos sofrimentos; mais: acende em nós um santo desejo de sofrer e morrer por amor daquele que tanto quis sofrer e morrer por nosso amor. Pelo que dizia São Francisco de Sales: “Fixai Jesus crucificado em vosso coração, e todas as cruzes e espinhos deste mundo se vos afigurarão como rosas.”

Ó meu Jesus, se Jesus Cristo não fosse, como deveras é, o Filho de Deus e Deus verdadeiro, o nosso Criador e soberano Senhor, mas tão somente um homem qualquer, quem não sentiria compaixão à vista de um jovem nobre, inocente e santo que morre sobre um patíbulo infame à força de tormentos, não para expiar os seus delitos próprios, mas para expiar os dos seus inimigos, a fim de os livrar da morte que lhes era devida? Como é, pois, que não há de atrair o afeto de todos os corações um Deus que por amor de suas criaturas morre num mar de desprezos e de dores? Como é que as criaturas hão de amar alguma coisa que não seja Deus, e pensar em outra coisa senão em serem gratas a seu tão amoroso benfeitor?

II. Oh, si scires mysterium Crucis! Quando o tirano quis induzir Santo André a renegar Jesus Cristo, por ser este crucificado como um criminoso, respondeu-lhe o Santo:

“Ó tirano, se soubesses o amor que te mostrou Jesus Cristo, morrendo sobre a cruz para satisfazer por teus pecados e obter-te uma felicidade eterna, de certo não te esforçarias por m´O fazeres renegar; antes tu mesmo havias de abandonar tudo o que possuis e esperas sobre a terra, a fim de agradares e contentares a um Deus que tanto te amou.”

É isso o que tem feito santos e tantos mártires que abandonaram tudo por Jesus Cristo. Oh, que vergonha para nós! Quantas tenras virgenzinhas renunciaram às alianças com os grandes, às riquezas dos palácios, e a todos os gozos terrestres, e de boa mente sacrificaram a vida, a fim de retribuírem de alguma maneira, com o seu afeto, o amor que lhes mostrou o seu Deus crucificado! D´onde vem, pois, que tantos cristãos ficam insensíveis à Paixão de Jesus Cristo? É porque pouco consideram no muito que Jesus Cristo padeceu por nosso amor.

Ah, meu Redentor, eu também fui um desses ingratos! Com a lembrança dos meus pecados, o demônio quisera representar-me a salvação como por demais difícil; mas, meu Jesus, a vista do Crucifixo assegura-me que não me repelireis de diante da vossa face, se eu me arrependo de Vos ter ofendido e Vos quero amar. Sim, arrependo-me e quero amar-Vos de todo o meu coração. Detesto os malditos prazeres que me fizeram perder a vossa graça.

— Amo-Vos, ó Bem infinitamente amável, e sempre Vos quero amar. A lembrança dos meus pecados servir-me-á tão somente para me abrasar mais no vosso amor, visto que viestes atrás de mim, quando eu fugia de Vós. Não, não quero mais separar-me de Vós, nem deixar de Vos amar, ó meu Jesus.

— Ó refúgio dos pecadores, Maria, vós, que tão grande parte tivestes nas dores de vosso Filho, quando ia morrer, rogai a Jesus que me perdoe e me conceda a graça de o amar.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 274-277)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.