Sexta-feira da Quinta Semana depois de Pentecostes

A cruz de Jesus e as tribulações da vida presente

Et baiulans sibi crucem, exivit in eum qui dicitur Calvariae locum – “Carregando sua cruz, foi ao lugar chamado Calvário” (Jo 19, 17)

Sumário. Lida que foi a sentença de morte, Jesus não espera que os algozes lhe impusessem a cruz: Ele mesmo a abraça, beija-a e põe-na sobre os ombros chagados e vai ao Calvário. Quis o Senhor ensinar-nos o modo como também devemos abraçar as cruzes que nos envia, para remédio dos pecados cometidos e para penhor da felicidade eterna. Persuadamo-nos de que, para sermos glorificados com Jesus Cristo, é mister que primeiro padeçamos com Ele, e que, exceção feita as crianças, ninguém entrou no céu senão pelo caminho das tribulações.

I. Consideremos como Pilatos, temendo perder a amizade de César e depois de tantas vezes ter declarado Jesus Cristo inocente, por fim o condena a morrer na cruz. Lida que foi a sentença, os algozes agarram violentamente o inocente Cordeiro, restituem-Lhe os vestidos próprios, e, tomando a cruz, feita de duas rudes peças de madeira, apresentam-na a Jesus. Jesus não espera que lh’a imponham; Ele mesmo a abraça, beija-a e põe-na sobre os ombros cobertos de chagas, dizendo:

“Vem, ó querida Cruz, há trinta e três anos que te busco; em ti quero sacrificar a vida por minhas ovelhas.”

Os condenados saem do tribunal e põem-se a caminho em direção ao lugar do suplício e no meio deles vai também o Rei do céu com a cruz aos ombros. Carregando sua cruz, foi ao lugar chamado Calvário. Saí vós também do céu, ó Serafins, e vinde acompanhar vosso Senhor, que vai ao monte para ser crucificado! Ó espetáculo horrível! Um Deus que vai ser crucificado por amor dos homens!

Minha alma, contempla teu Salvador que vai morrer por ti. Vê como caminha inclinado, os joelhos trêmulos, todo dilacerado de feridas e gotejando sangue; vê-o com a coroa de espinhos na cabeça e o pesado lenho sobre os ombros! Ó Deus, ele caminha com tanto custo que a cada passo parece estar prestes a expirar. – Dize-lhe: Ó Cordeiro de Deus, aonde ides? – Eu vou, responde, a morrer por ti. Quando me vires já morto, lembra-te do amor que te dediquei; lembra-te dele e ama-me também.

Ah! Meu Redentor, como pude viver no passado, tão esquecido de vosso amor? Ó pecados meus, vós amargurastes o Coração do meu Senhor, esse Coração que tanto me amou. – Meu Jesus, arrependo-me do ultraje que Vos fiz; agradeço-Vos a paciência que para comigo tivestes, e Vos amo. Amo-Vos de toda a minha alma e só a Vós é que quero amar. Por piedade, lembrai-me sempre o amor que me tivestes, afim de que nunca mais me esqueça de vosso amor.

II. Jesus Cristo, caminhando para o Calvário com a sua cruz, convida-nos para irmos em seu seguimento e nos diz: Si quis vult post me venire, abneget semetipsum, et tollat crucem suam quotidie, et sequatur me (1) – “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me” . Compenetremo-nos bem do que diz Santo Agostinho, a saber: que “toda a vida do cristão deve ser uma cruz contínua” . – Esta cruz, como o indica a palavra quotidie, cada dia, são as tribulações quotidianas, que Deus nos manda como remédio e como motivo de esperança.

São remédio, porquanto, na frase de São João Crisóstomo, “ o pecado é uma úlcera da alma, e se a tribulação não tirar os humores infectos, a alma está perdida. ” Infeliz do pecador que depois do pecado não sofre castigo! – São motivo de esperança, porque, no dizer de São Gregório, “ o ser atribulado na vida presente é próprio dos escolhidos, aos quais está reservada a beatitude eterna ”. É incomparavelmente mais glorioso estar com Jesus pregado na cruz, do que ficar ao pé da mesma a contemplar as dores de Jesus. Pelo que São Jerônimo, escrevendo à virgem Eustochium, disse: “ Investiga quanto quiseres e verás que todos os santos passaram por tribulações ”, e estas tanto mais graves quanto é mais bela a sua coroa: Delicati mei ambulaverunt vias asperas (2) – “Os meus escolhidos trilharam caminhos ásperos”.

Numa palavra, assim conclui o Apóstolo: para sermos glorificados com Jesus Cristo, mister é que padeçamos com Ele e levemos após Ele nossa cruz: Si tamen compatimur, ut et conglorificemur (3) .

– Ó meu Senhor, Vós que sois inocente, ides adiante de mim com a vossa cruz: caminhai, já que não Vos quero mais deixar. Imponde-me a cruz que quiserdes; eu a abraço e com ela Vos quero seguir até à morte. Quero morrer unido convosco, que morrestes por meu amor. Vós me mandais que Vos ame; e eu não quero outra coisa senão amar-Vos. Meu Jesus, Vós sois e sereis sempre o meu único amor. Ajudai-me a ser-Vos fiel. – Maria, minha esperança, rogai a Jesus por mim.

Referências:

(1) Lc 9, 23 (2) Br 4, 26 (3) Rm 8, 17

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 209-212)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.

S. Alfonso Maria De Liguori Evangelizare Pauperibus Misit Me

REZE CONOSCO

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