Sexta-feira da Vigésima Primeira Semana depois de Pentecostes

Quarta palavra de Jesus Cristo na Cruz

Et circa horam nonam clamavit Iesus voce magna dicens: Deus meus, Deus, meus, ut quid dereliquisti me? – “E perto da hora nona deu Jesus um grande brado, dizendo: Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?” (Mt 27, 46)

Sumário. Em castigo de nossos pecados, tínhamos merecido que Deus nos abandonasse nos abismos infernais entregues à desesperação eterna. Mas, para nos livrar, quis Jesus tomar sobre si a pena que nos era devida e ser entregue pelo Pai a uma morte sem alívio. Demos graças à bondade divina e em nossas desconsolações espirituais unamos a nossa desolação à de Jesus agonizante; lembremo-nos do inferno merecido e digamos: Senhor, seja feita a vossa santa vontade!

I. Escreve São Leão, que aquele brado do Senhor não foi uma queixa, mas um ensino: Vox ista doctrina est, non querela . Ensino pelo qual Jesus nos quis mostrar quão grande é a malícia do pecado, que, por assim dizer, obrigou Deus a entregar a uma pena sem alívio seu Filho amadíssimo, unicamente por se ter este encarregado de satisfazer pelos nossos crimes. — Jesus não foi então abandonado pela divindade, nem privado da glória, que fora comunicada à sua alma bendita desde o primeiro instante de sua criação; foi, porém, privado de todo o consolo sensível com que Deus costuma confortar os seus servos fiéis, no meio de seus sofrimentos e foi entregue às trevas, a temores e amarguras, penas essas por nós merecidas. No horto o Getsêmani, Jesus sofreu igual privação da presença sensível da divindade; mas a que sofreu na cruz foi mais completa e mais amargosa.

Mas, ó Pai Eterno, que desgosto Vos deu jamais vosso Filho inocente e obedientíssimo, para o punirdes com uma morte tão amargosa? Vêde como está pregado no lenho, a cabeça atormentada pelos espinhos, como está suspenso em três pregos de ferro, apoiando-se nas mesmas chagas. Abandonaram-No todos, mesmo os seus discípulos; todos ao redor o escarnecem e blasfemam contra Ele; porque é que Vós, que tanto O amais, O haveis também abandonado?

Lembremo-nos que Jesus se tinha encarregado dos pecados de todos os homens. Por isso, muito embora fosse Jesus, quanto à sua pessoa, o mais santo de todos os homens, ou antes a santidade mesma, todavia pelo ônus assumido de satisfazer por todos os pecados, parecia ser o maior pecador do mundo, como tal se fizera réu em lugar de todos e se oferecera a pagar por todos. E já que nós merecíamos ser abandonados eternamente no inferno, entregues à desesperação eterna, Jesus quis ser entregue a uma morte sem consolação alguma, a fim de nos livrar assim da morte.

II. Demos graças a bondade do nosso Salvador, por ter tomado sobre si as penas por nós merecidas, a fim de nos livrar assim da morte eterna. Procuremos ser d’oravante gratos ao nosso libertador, expelindo de nosso coração todo o afeto que não seja para Ele. Quando estivermos em desconsolação espiritual, privados da presença sensível da divindade, unamos nossa desolação à que padeceu Jesus na hora de sua morte. — O Senhor não ficará ofendido, se nesse desamparo dissermos o que Ele mesmo no horto disse a seu Pai divino: “ Pai meu, se é possível, passe de mim este cálice ” (1) mas devemos logo acrescentar como Ele: “ Todavia não seja como eu quero, mas sim como Tu ”.

Se a desolação continuar, devemos repetir o mesmo ato de conformidade, assim como Jesus o repetiu durante as três horas de sua oração no Horto: Et oravit tertio, eumdem sermonem dicens (2) — “Orou pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras” . Diz São Francisco de Sales, que Jesus é igualmente amável quando se deixa ver como quando se esconde. — Pelo mais, o que mereceu o inferno e se vê fora dele, sempre deve dizer: Benedicam Dominum in omni tempore (3) — “Bendirei o Senhor em todo o tempo” . Senhor, não mereço consolações; fazei com que Vos ame sempre, e estou contente por viver em desolação por todo o tempo que Vos aprouver. Ah! Se os réprobos pudessem em suas penas conformar-se assim com a vontade divina, o inferno deixaria de ser inferno.

Ó meu Jesus, pelos merecimentos de vossa morte, rogo-Vos não me desampareis no grande combate que na hora da morte terei de sustentar contra o inferno. Então todos me abandonarão e não me poderão mais valer; Vós porém não me abandoneis, Vós morrestes por meu amor e só me podereis socorrer nesse momento supremo. Fazei-o pelo merecimento da pena que sofrestes no vosso desamparo, pelo qual nos merecestes não sejamos desamparados pela divina graça, conforme os nossos pecados tinham merecido. Fazei-o também pela dor que então sentiu vossa e minha amada Mãe, Maria.

Referências:

(1) Mt 26, 39 (2) Mt 26, 44 (3) Sl 33, 2

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 183-186)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.

S. Alfonso Maria De Liguori Evangelizare Pauperibus Misit Me

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