Terça-feira da Quarta Semana que sobrou depois da Epifania

É preciso estarmos sempre prontos para morrer

Et vos estote parati; quia, qua hora non putatis, Filius hominis veniet – “Vós outros, pois, estai preparados; porque na hora em que menos cuideis, virá o Filho do homem” (Lc 12, 40)

Sumário. Não nos diz o Senhor que nos preparemos quando chegue a morte, mas que estejamos preparados. Porque, como ensina a fé e a razão confirma, na perturbação e confusão da morte será quase impossível por em ordem uma consciência perturbada. Quantos pensavam que se poderiam converter nesse momento e estão agora ardendo no inferno? Dize-me, meu irmão: se a morte te viesse surpreender na primeira noite, estarias bem preparado? Procura fazer agora o que então quiseras ter feito.

I. Não nos diz o Senhor que nos preparemos quando chegar a morte; mas que estejamos preparados. Quando chega a morte, no meio da grande perturbação e confusão, será quase impossível por em ordem uma consciência embaraçada. Isto nos diz a razão. Assim também nos ameaça Deus, dizendo que então virá, não para perdoar, mas para punir o desprezo que fizermos das suas graças: Mihi vindicta, ego retribuam (1) — “A mim pertence a vingança, eu retribuirei” . Diz Santo Agostinho que será justíssimo castigo para quem não quis salvar-se quando pode, o não poder salvar-se quando quiser.

Dirá alguém todavia: Quem sabe? Talvez nesse momento me converta e me salve. Pois que! Lançar-te-ias num poço dizendo: Quem sabe? Talvez, atirando-me, fique com vida e não morra? Meu Deus! Que coisa! Como o pecado cega o espírito, a ponto de lhe fazer perder a razão! Quando se trata do corpo, falam os homens como sábios; e falam como insensatos quando se trata da alma.

Se algum infeliz, estando em pecado mortal, tivesse um ataque de apoplexia e ficasse sem sentidos, quanta compaixão não inspiraria a todos que o vissem morrer sem os sacramentos e sem sinal de penitência? Que consolação, ao contrário, se teria ao vê-lo voltar a si, pedir a confissão e fazer atos de contrição? Não será, pois, um insensato aquele que, podendo agora fazer isto, se deixa ficar no pecado ou torna mesmo a pecar, e se expõe ao perigo de ser colhido pela morte, num tempo em que talvez sim, talvez não o possa fazer? Ficamos assustados pela morte repentina de uma pessoa, e tantos há que se expõem voluntariamente ao perigo de morrer assim e de morrer em pecado.

II. Infeliz de quem deixa passar o tempo das misericórdias e deixa a preparação para a morte, para quando a sua vida tiver fim! Que remorsos sentirá o moribundo na recordação das suas desordens, apesar de tantos convites e tantas luzes divinas! — Dirá então: Ai de mim, que tive o tempo para por em ordem a minha consciência e não o fiz; eis que chegou a hora de minha morte. Que dificuldade havia em fugir das ocasiões, em desprender-me daquele afeto, em confessar-me cada semana? Ainda que me tivesse custado muito, devia fazê-lo para a salvação de minha alma, que está acima de todos os interesses. Oh! Se tivesse posto em prática aquela boa resolução que tomei, se tivesse continuado assim como principiei, como estaria agora contente! Mas não o fiz e agora já não há mais tempo!

Ó meu Jesus, são estes os sentimentos que eu quisera ter, se neste momento me fosse feita a comunicação da aproximação de minha morte. Graças Vos dou por me haverdes iluminado e dado o tempo para reconhecer os meus erros. Não, meu Deus, não quero mais afastar-me de Vós. Já esperastes bastante tempo por mim. Com justiça devia temer que, se agora não me rendo a Vós e continuo a resistir-Vos, Vós me abandoneis. Deste-me um coração para Vos amar, e eu abusei tanto dele amando as criaturas e não amando a Vós, meu Criador e Redentor, que sacrificastes a vida por mim! Em vez de Vos amar, quantas vezes Vos virei as costas e Vos desprezei!

Meu Jesus! Pesa-me de todo o coração de Vos ter ofendido, detesto os meus pecados e quisera morrer de dor. Para reparar as injúrias que Vos fiz, e confiado na vossa graça, quero, de hoje por diante, amar-Vos de todo o coração; por vosso amor quero aceitar e sofrer com paciência todas as enfermidades, cruzes, desprezos e desgostos que me vierem da parte dos homens. Dai-me o vosso amor e a santa perseverança. — Ó Maria, minha Mãe, vós intercedeis por todos os que a vós se encomendam; ah, rogai também por mim a vosso Filho.

Referências:

(1) Rm 12, 19

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 267-269)

Nos ajude a alcançar mais fiéis compartilhando nas suas redes:
Facebook
Twitter
LinkedIn

Quer rezar conosco todos os dias?

Criamos uma rotina diária para ajudar na prática da oração. Enviaremos meditações, novenas, orações e devoções para te ajudar a estar com o Senhor ao longo do dia. Todos os dias!

Junte-se ao nosso Grupo no Telegram e caminhemos juntos na fé e na oração diária:

1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.