Terça-feira da Terceira Semana que sobrou depois da Epifania

A glória e o poder no leito da morte

Cum interierit (homo), non sumet omnia, neque descendet cum eo gloria eius – “Em morrendo, nada levará (o homem) consigo; nem a sua glória descerá com ele” (Sl 48, 17)

Sumário. É certo que a morte não respeita nem riquezas, nem poder, nem a púrpura; e quem morre (ainda que seja príncipe) nada leva consigo para a sepultura; deixa toda a glória no leito em que expira. Como é possível que os cristãos, pensando nisto, se apeguem aos bens da terra e não deixem antes tudo para se consagrarem inteiramente a Jesus Cristo, que os julgará conforme as suas obras? Se no passado fomos tão insensatos, sejamos mais prudentes para o futuro, e tomemos a resolução de sermos sempre fiéis no serviço divino.

I. Quando Filipe II, rei de Espanha, estava próximo da morte, mandou vir o filho, e, abrindo o vestido real, mostrou-lhe o peito roído pelos vermes, e disse:

“Príncipe, vede como se morre e como acabam todas as grandezas deste mundo!”

Com razão disse Teodoreto:

“A morte não respeita riqueza, nem poder, nem a púrpura; tanto os súditos como os príncipes serão reduzidos à corrupção e à podridão.”

— Quem morre, ainda que seja rei, nada levará consigo ao túmulo; deixará toda a glória no leito em que expira. Em morrendo, nada levará (o homem) consigo; nem a sua glória descerá com ele. Ó Deus! Como é possível que, pensando nisto, um cristão que crê nas verdades da fé, não deixe tudo para se consagrar inteiramente a Jesus Cristo, que nos julgará segundo as nossas obras?

Refere Santo Antonino que, depois da morte de Alexandre Magno, certo filósofo exclamou:

“Eis ai: o que ontem dominava a terra é hoje por ela oprimido. Aquele cuja ambição ontem nem toda a terra bastava, contenta-se hoje com o espaço de sete palmos. Ontem corria a terra à testa dos seus exércitos; hoje, meia dúzia de homens o depositam nela.”

— Mas escutemos antes o que Deus nos diz: Quid superbit, terra et cinis? (1). Ó homem, não vês que és terra e cinza? De que te ensoberbeces pois? Porque só pensas e consomes o tempo com o fim de te elevares no mundo? Virá a morte e então se dissiparão todas as tuas grandezas e todos os teus projetos: In illa die peribunt cogitationes eorum (2) — “Naquele dia perecerão todos os seus pensamentos” .

Quanto mais doce não foi a morte de São Paulo Ermita, que viveu 60 anos retirado numa gruta, do que a de Nero, que em vida foi imperador de Roma! Quanto mais feliz não foi a morte de São Felix, simples frade capuchinho, do que a de Henrique VIII, que passou a vida nas pompas do trono, mas na inimizade de Deus!

II. Devemos refletir que os santos, para obterem uma boa morte, abandonaram tudo: a pátria, as delicias e as esperanças que o mundo lhes oferecia e abraçaram uma vida pobre e desprezada. Sepultaram-se vivos neste mundo, para não serem sepultados depois da morte no inferno. Mas como é que os mundanos podem esperar uma morte feliz, se vivem sempre nos pecados, nos prazeres terrestres e nas ocasiões perigosas? Deus previne os pecadores que na morte o procurarão e não o acharão: Quaeretis me, et non invenietis (3).

Ah Senhor, quantas noites tive a infelicidade de dormir na vossa desgraça! Ó Deus, em que estado miserável se achava então a minha alma! Ela era odiada de Vós e comprazia-se nesse ódio. Eu já estava condenado ao inferno; só faltava que se executasse a sentença. Mas Vós, meu Deus, não deixastes de andar a procurar-me e de me convidar à reconciliação. Quem me afiançará que já me haveis perdoado? Meu Jesus, deverei viver neste receio até que venhais julgar-me? A dor que sinto de Vos ter ofendido, o desejo que tenho de Vos amar e, mais ainda, a vossa Paixão, ó meu amado Redentor, dão-me a confiança de que estou na vossa graça.

Pesa-me de Vos haver ofendido, ó meu soberano Bem, e amo-Vos sobre todas as coisas. Estou resolvido a antes perder tudo do que perder a vossa graça e o vosso amor. Quereis que se alegre o coração que Vos procura. Laetetur cor quaerentium Dominum (4) — “Alegre-se o coração dos que procuram o Senhor” . Detesto as injúrias que Vos fiz; dai-me coragem e confiança; não me lanceis mais em rosto a minha ingratidão, já que a reconheço e detesto. — Dissestes que não quereis a morte do pecador, senão que se converta e viva: Nolo mortem impii, sed ut convertatur et vivat (5). Pois bem, meu Deus, renuncio a tudo e me converto a Vós; é a Vós que procuro, a quem quero e a quem amo sobre todas as coisas. Dai-me o vosso amor e nada mais Vos peço. — Ó Maria, vós sois minha esperança; alcançai-me a santa perseverança.

Referências:

(1) Eclo 10, 9 (2) Sl 145, 4 (3) Jo 7, 34 (4) 1 Cr 16, 10 (5) Ez 33, 11

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 245-248)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.