Terça-feira da Vigésima Quarta Semana depois de Pentecostes

Necessidade da oração

Oportet semper orare et non deficere – “É preciso orar sempre e não deixar de o fazer” (Lc 18, 1)

Sumário. É certo que Deus, excetuando as primeiras graças, tais como a vocação para a fé ou penitência, nenhuma outra graça concede em regra geral (e menos ainda a perseverança) senão àquele que ora. Pelo que a oração é necessária aos adultos por necessidade de meio, de modo que o que ora, certamente se salva e o que não ora, certamente se condena. Este será o maior motivo de desespero para os réprobos, verem que tão facilmente se podiam salvar pela oração e que não há mais tempo para orar. Meu irmão, como usaste até hoje deste grande meio?

I. Afirma São João Crisóstomo que, assim como um corpo sem alma está morto, assim está morta a alma sem a oração. Diz ainda que, assim como a água é necessária às plantas para não murcharem, assim nos é necessária a oração para não nos perdermos.

Omnes homines vult salvos fieri (1) — Deus quer que todos os homens se salvem e não quer que ninguém se perca; mas ao mesmo tempo exige que lhe peçamos as graças necessárias para nos salvarmos, pois, por um lado, não podemos observar os preceitos divinos e salvar-nos sem a assistência atual do Senhor; e por outro, não nos quer Ele dar graças (ordinariamente falando), se lh´as não pedirmos. O santo Concílio de Trento declarou que Deus não nos impõe ordens impossíveis, visto dar-nos, ou a graça próxima e atual para as cumprirmos, ou a graça de lhe pedirmos essa graça atual.

Ensina-nos Santo Agostinho que, à exceção das primeiras graças, tais como a vocação para a fé ou conversão, Deus nenhuma outra concede (e especialmente a perseverança) senão àquele que ora. — D´aqui concluem os teólogos, com São Basílio, Santo Agostinho mesmo, São João Crisóstomo, Clemente de Alexandria e outros, que a oração é necessária aos adultos por necessidade de meio, de modo que sem a oração é impossível salvarem-se. E o sábio Lessio diz que esta doutrina se deve considerar artigo de fé.

As Sagradas Escrituras são claras: Oportet semper orare — “É preciso orar sempre” . Orate, ut non intretis in tentationem (2) — “Orai, para não cairdes em tentação” . Petite et accipietis (3) — “Pedi e recebereis” . Sine intermissione orate (4) — “Rezai sem cessar” . Estes termos: é preciso, orai, pedi, segundo a opinião comum dos teólogos, de acordo com Santo Tomás (5), têm força de preceito que obriga sob pecado grave, particularmente em três casos: quando se está em pecado, quando se está em perigo de morte e quando se está em grande risco de pecar. Os teólogos ensinam que ordinariamente o que passa um mês ou, quando muito, dois, sem rezar, não está livre de pecado mortal. A razão é que a oração é um meio sem o qual não podemos obter os socorros necessários para nos salvarmos.

II. O que pede, obtém; por consequência, diz Santa Teresa, o que não pede, não obtém. E o mesmo fora declarado muito antes por São Tiago: Non habetis, propter quod non postulastis (6) — “Não tendes nada, porque não pedistes” . A oração é particularmente necessária para obter a virtude de pureza:

“Sabendo que não podia ser continente, sem que Deus o desse, recorri ao Senhor e lh´o pedi.” (7)

— Numa palavra, concluamos: O que reza, certamente se salva; o que não reza, certamente se condena . Todos os que se salvaram, salvaram-se pela oração todos os que se condenaram, condenaram-se porque não rezaram. O seu maior motivo de desespero no inferno será o verem que tão facilmente se podiam salvar pela oração e que não há mais tempo para rezar.

Ó meu Redentor, como pude viver no passado tão esquecido de Vós? Estáveis pronto a conceder-me todas as graças que Vos pedisse; esperáveis somente que Vos suplicasse; mas eu só pensava em contentar os meus sentidos, pouco se me dando de ficar privado do vosso amor e da vossa graça. Senhor, não vos lembreis de tantas ingratidões minhas e tende piedade de mim. Perdoa-me todos os desgostos que Vos dei; dai-me a perseverança, dai-me a graça de pedir sempre o vosso auxílio para nunca mais Vos ofender, ó Deus de minha alma.

Não permitais, Senhor, que no futuro seja tão descuidado como no passado. Dai-me luz e força para sempre me recomendar a Vós, especialmente quando meus inimigos me tentarem para de novo Vos ofender. Meu Deus, concedei-me esta graça pelos merecimentos de Jesus Cristo e pelo amor que lhe tendes. Bastante Vos ofendi; quero amar-Vos o resto de meus dias. Dai-me o vosso santo amor e que esse amor me faça pedir o vosso auxílio, todas as vezes que me vir em perigo de Vos perder pelo pecado.

— Maria, minha esperança, de vós espero a graça de, em minhas tentações, me recomendar sempre a vós e a vosso Filho. Atendei-me, ó minha Rainha, pelo grande amor que tendes a Jesus Cristo.

Referências:

(1) 1Tm 2, 4 (2) Lc 22, 40 (3) Jo 16, 24 (4) 1Ts 5, 17 (5) Suma Teológica P. 3, q. 29, a. 5. (6) Tg 4, 2 (7) Sb 8, 21

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 230-233)

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1. Preparação

Na preparação fazem-se três atos:

1º Ato de Fé na presença de Deus, dizendo:

Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto

2º Ato de Humildade, por um breve ato de contrição:

Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita.

3º Ato de Petição de luzes:

Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.

Depois:

  • uma Ave Maria à Santíssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz;
  • na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo da Guarda e ao nosso Santo Protetor.


Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente, depois do que se fará a Meditação.

2. Meditação

Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. São Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.

Note-se além disto que são três os frutos da meditação: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso coração, é mister que faleis a Deus:

1º Pelos Afetos

Isto é, pelos atos de fé, agradecimento, adoração, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrição, que é também ato de amor. O amor é como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Tomás, todo o ato de amor nos merece mais um grau de glória eterna. Eis aqui exemplos de atos de amor:

Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as coisas. Eu Vos amo de todo o meu coração. Fazei-me saber o que é de vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz.

Para o ato de contrição basta dizer:

Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido.

2º Pelas Súplicas

Pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverança, porque, no dizer de São Francisco de Sales, com o amor se alcançam todas as graças.

Se a nossa alma está em grande aridez, basta dizermos:

Meu Deus, socorrei-me. Senhor, tende compaixão de mim. Meu Jesus, misericórdia!

Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.

3º Pelas Resoluções

Antes de se terminar a oração, cumpre tomar alguma resolução, não geral, como por exemplo evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como por exemplo evitar com mais cuidado tal defeito, em que se caia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurará exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gênio de tal pessoa, obedecer mais exatamente a tal superior ou a regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa oração sem havermos formado uma resolução particular.